Me empresta seus ouvidos
por alguns segundos
te falo sobre borboletas
a flor que se aprumou
ganho sorrisos largos
escuto alguns silêncios
quase me destroem
passo as mãos nos teus ombros
cansado e beijo um, depois o outro
posso te sentir arrepiar
eu também fico enrijecido
paro um pouco, mas não paro
ganho outro sorriso
te beijo
ouço atentamente seus sonhos
me esqueço por alguns detalhes
deito agora no seu colo
feito laços, não desamarro
nem desgrudo do seu cangote
é meu cheiro favorito
junto daquele que a gente faz
quando minha pele está sobre a sua
suando, deslizando, em transe
você me dá tempo
te preencho com minha vida
e em abraços repetidos
refletido da fotografia que nunca postamos
há quem veja e se assuste
e há nós que ama cada gesto
tanta vontade de passar a vida inteira assim
construindo memórias fora da nossa imaginação
agora o caos cessa
o dia pede licença para a noite
e dura uma eternidade quando estamos a sós
você e eu
foi muito bom te ver chegar
não quero saber que horas vai embora
não agora que perguntou se queria ajuda para me curar
quando for (inevitavelmente)
vai de mansinho
só pra eu não sentir mais dor...
(nessa parte do caminho)
Hudson Vicente.