quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Te encontro, mas nunca é você



Em cada esquina que atravesso, parece que te encontro

Em cada pessoa, em cada desvio de olhar perdido, todo encontro, te procuro em todos. E encontro em cada cheiro, em cada boca, da mesma forma que te encontro, te perco. Você some. Mas, antes, me tortura, me bagunça, me deixa em retalhos, no chão.

É como se eu conhecesse cada pequeno fragmento do seu corpo, sem mesmo ter tocado. Já sonhei tanto com você, com nossos beijos, desejos, corpo em transe, nós entrelaçados, parece ser tão real.

Até de olhos fechados eu te reconheceria, do outro lado da calçada, com outro perfume, roupas diferentes, na ponta do pés, dos pés a cabeça, em outro continente. Meu vício é querer se enganar.

E quando me declaro, sou louco.
Quando te perco, desmorono.
Igual agora. Em silêncio.
Se me declaro, sou louco.
Mas se não amo, não existo.
Sufoco meus afetos para não transparecer.

Queria que seus rios se encontrassem em meu oceano. Seu abraço me procurasse, não em qualquer cama, não nos corpos frios de outrem. Queria que você chamasse meu nome. E eu não tremesse de medo de te encontrar em mais ninguém.

Em toda esquina, te encontro em todo lugar, mas nunca é você.

"Que ódio de você".

Hudson Vicente.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Você segue tropeçando


No caminho, tropeçou no tédio, tem sido assim...

Exageros, percalços, ansiedade, até se deixou de lado, ganhou uns quilos, olheiras e silêncio, viciou em se agredir sozinho.
Derrubou um pouco de bebida no chão, escorregou, foi de propósito. Para lhe fazer mal, para sangrar; a vida é o que você faz dela. Às vezes é um fracasso. Assume, arregala os olhos e diz pra si mesmo: eu sou um fracasso!

Na conta do terapeuta, ele dizia que era precipitado se cobrar assim.
Mas os seus caminhos tem sido percorridos desta maneira: Constantes Fracassos. E diz pra todo mundo que fracassou.

Adulto. Menino. Sozinho. Alguém que não sabe muitas vezes o que fazer com a própria vida. Só segue porque não há como voltar.
O mundo não espera você curar suas dores, tem que seguir assim. Todo despedaçado, remendado, sangrando, se agredindo, sem caminho.

É um desespero olhar pra frente e não enxergar nada. Ainda triste, lhe sobra coragem. De despertar todos os dias e dizer: eu vou tentar. Eu vou tentar. Foi o que lhe restou. Foi esse peito acelerado. Uma coragem absurda de reverter o fracasso. De mudar a história, de ter vida, dignidade. De sorrir enquanto está em declínio, em ruínas, paredes rachadas, dias ruins, tempo fechado. E o tempo demora a passar...

Dá vontade de pegar o menino pelos braços e dar um carinho que ninguém estendeu os braços para dar. De dizer para o adulto seguir aguentando, enquanto o mundo lhe engole, mas não cospe.

Tropeçando pelo caminho, seguindo com a solidão de todos os dias, copo meio cheio, saco vazio, no espelho quebrado de frustrações, se enxerga. Grita pro mundo que você existe.

Não temas, gargalhe, gargalhe para o medo, em voz alta, VOCÊ TEM CORAGEM.

Um corpo que treme e não desiste.
Reage.
Reage.
Reage.
Você segue tentando.

Hudson Vicente.

domingo, 17 de março de 2024

Cafuné


Sabe aquele movimento exato do vento no exato momento do tempo passando?

em forma de carinho, singelo, necessário que as mãos procuram precisão no toque da pele, a alma em nó desafrouxo... 

um simples olhar de dois que vira um...

na curva que reluz o fim da estrada, tão poético, onde a vida encontra vida e energia para ser mais.

o exato momento fotografado que há dez segundos atrás ficou para trás, na fração que se perdeu, quem ganhou o prêmio de consolação por ter observado àquela cena e virou paisagem?

uma imagem com tantos fragmentos para formar a gente.

um par de nós.

carinho de mãos na cabeça:
é afago.

(cafuné)

Hudson Vicente.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Aprendi depois de um tempo



Meu impulso fala por mim
Desconheço certos tempos
Alguns caminhos, quando não ando:
Agonizam
Me cerco de fim

Quando não amo, não transbordo
Assim é meu tom
Meu dom, é escrever sobre o agora
Que amarrota meu peito
Mas não morro
Nem sufoca

Só sei escrever
Quando paro pra pensar
Me cerco de devaneios
É meu pesar
E se ainda achar que me conhece
Disfarço, sou infindo pra caber

No infinito toco meu mundo
Troco passos
Respiro saudade
No desejo: não morro; passa
E fica só o que não foi

No fundo eu sou só alguém
Que transcende enquanto
Deixa saudade
Para um dia sentirem
E falarem: "esse era especial"
Eu sou vários

E não me troco.

Hudson Vicente.