Não eram dias perfeitos.
Dormia e acordava, nem dava conta das horas; no olho, pupilas dilatadas, tentando se encontrar. Não tinha mensagem. Mas tinha gatilhos, muitos, todos em volta para te atacar.
Criava histórias que nunca saíam da sua imaginação. Observava o outro vivendo sua mentira, enquanto vivia o próprio calvário. Pensava o tempo todo em acabar com a brincadeira. Adorava se torturar vendo o outro fingir, manipular, dissimular.
Não vai beber? Ignorava todos os sinais. Estava tudo tão claro. Tão jovem, tão sem governo, mas disse que te ama.
Bateu. Acabou com você. No pior momento. E você acreditou. Ele te ama e está dormindo com outro. Planejando a vida, te cozinhando enquanto você mal tem vontade de levantar da cama. Mas levanta, respira fundo, sem drama.
Reconhece seu papel, o seu lugar, ainda confuso. Contraditório. Vulgar. Dessa vez é diferente, vocês não precisam trocar mensagens escondidas de madrugada. Mas ele some. E depois volta com olhinhos brilhando, é dócil, é amável, como você gosta.
Quis tanto o amor que agora aceita do jeito que vem. Ele te ama, mas dorme com outro. Na cama em silêncio, fazendo barulho, falando com você. O vento sopra e você outra vez se sabota. Criando história em cima de uma história. Gosta de se mutilar.
Ele é exatamente intenso como você era. Há dez anos atrás. Te fascina. Te ganha. Te encanta. Te traz vida. E você que suspira solidão, deprimido entre o álcool e comprimidos, voltou a sentir tesão.
O coração acelera, a música não toca. O bloco não sai. Ignora os sinais. Quando desencantar, vai olhar pro espelho, vai dizer quem é você, soltar suas águas de volta pro mar. Lá você aprende. Ou nada ou afunda. Você é imenso agora. Sem revolta. Você ia tão bem...
Hudson Vicente.
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