sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Poemas mentem o tempo todo



A indiferença manda as pessoas para bem longe. Te escrevi pela última vez, já sem paciência para mais desculpas descartáveis. Você nem sabia que eu fui o último a desistir de nós, depois de você, é claro. Sim, porque você tinha ido embora, só não falou, nem se despediu. Foi embora mesmo, como em uma música sem palavras, sem agressões, sem toques, sem mãos. Confesso que também te deixei ir, talvez não déssemos conta do estrago, decidimos juntos (em silêncio covarde) que seria melhor assim.

A porta segue aberta para o futuro, se um dia se decidir o que sente por mim, vou te lembrar que me disse: "faça o que for bom pra você". Então fui embora, com o coração doendo, mas em paz. Porque não dá pra escrever uma história em cima de uma outra que não chegou ao fim. Eu não consigo. Quebra a narrativa, o roteiro fica frágil, o narrador se perde, os personagens se cansam. E nós cansamos. Deixei você viver sua mentira em paz (é a segunda vez que grito isso, perdoe-me a repetição).

O peito ainda acelera quando te imagino, mas eu não caibo no seu diário secreto de indecisão. Ou faz ruído ou o vento me leva sobre às águas para trombar em uma cascata. Fui tremendo, em outras palavras, costumo dizer.

A gente só não enxerga o que a gente não quer. Quis escrever uma frase de sentido contrário, fui traído pelo meu autor favorito. Os poemas mentem desesperadamente, o tempo todo, a agonia dos poetas.
Vou lembrar da gente como barulho de mar, e estamos de ressaca agora. Vou rezar pra não me apaixonar de novo por nós.

Era linda a rouquidão que saía dos seus pulmões soprando delírios de um coração de papel, nos meus ouvidos.
Sonhei tanto com o futuro que a gente tem agora.
Não era pra ser.

Se o vento me levar, eu assopro. Não é todo mar que caio (mais).

Notas de rodapé: talvez eu esteja mentindo quando digo que é a última vez que escrevo pra você. Eu sou uma farsa. Meus sentimentos me traem. Escrevo até parar de sentir. Mas quero te libertar daqui, onde foi cigano, não fez morada. Breve como quis ser. E foi feliz no meu tempo livre. "Várias queixas de você... por que fez isso comigo...?"

Hudson Vicente.

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