quarta-feira, 21 de abril de 2021

Tu vicia


tu vicia
promete que não é a última vez
entrelaçado
tu é meu destino
quando não tenho aonde ir

não sei te espero
me desespero
fujo
ou morro.

escrevi em uma folha de caderno 
inteira
dizendo que era a última vez

que droga
tu vicia
virei dependente

minha memória me trai 
e eu to sempre (te) querendo mais

não é poesia
é prosa
é foda

tu vicia.

Hudson Vicente.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

O mundo te espera para ser melhor


Precisava botar pra fora o sorriso, as dores, minhas lágrimas. Precisava que me ouvissem gritar sem parecer louco. Precisava aceitar que a vida não me devia nada. Deixei as janelas abertas antes de dormir, sabia que os passarinhos me acordariam quando o sol estivesse pronto para esquentar, o céu precisava ser azul claro, melódico e simpático. Precisava acordar antes do despertador e olhar o céu antes do "cel". Precisava sentir conforto e não dores no corpo, o mundo precisava sorrir mais um pouco.

Eu devia esse favor de sentir alegria quando todos já esperavam mais um estorvo. Dessa vez eu seria diferente, prometi pra mim mesmo que à vida floresceria. Encarei tudo mais leve. Tem cor, tem. Tem vida depois do luto, da saudade, da partida, tem recomeços também. Foi preciso doer cada ferida, cicatrizar o que ainda lateja e desconfigura.

É gradativamente, tijolo por tijolo, que todo passarinho vai refazendo seu ninho, orientando seu voo, pelas fragilidades de suas asas ainda danificadas pelo tempo, pelo pueril da exposição, me permiti sentir tudo de forma mais nobre possível. Me permiti me refazer de tanto nunca tentar realmente querer. Redundante, repleto de falhas, inconstante, autossabotagem. Hoje na escuridão, sorrio. Foram árduos os dias no fundo do poço, o vício em permanecer errando me deixava em mausoléu com dissabor sobre a vida. Tenho propriedade em notar o mundo de mal comigo. E eu de birra com o mundo.

É triste ver alguém assim se perder. Não entender o porquê, não ter voz pra ajudar. Nem um abraço me salvaria de mim. Durante muito tempo eu vivi em um labirinto de tristeza, onde a esperança não me olhava nos olhos, ela disse-me assim: "eu sinto muito por você".
O deserto do caminho triste que percorri das intempéries, já havia sido vencido, liquidado pelo Universo e todas as forças maiores que haviam sobre a Terra.

No quarto branco, escuro, onde ninguém ouvia minha voz, encontrei luz, sai do lugar feio, inabitável; pintei de azul, construí um céu, o sol voltou a iluminar; inebriado, aceitei, resistente, emocionado. A vida me dava uma segunda chance. Diante de mim, o mundo lá fora, incerto, carudo, volátil. Me (re)descobri passarinho novamente. Senti saudade de voar, livre, vento no rosto, caramba, eu tinha história pra contar.

Era preciso continuar essa história do passarinho que quebrou as asas, apenas sobrevivia, relutava contra seus maiores demônios, perdia. Dava pena.
Senti bater o coração, enroscado de solidão, venci o medo dos outros, me olham ainda torto, mas a maldade não está em mim. O sol quente de toda manhã me mostra que é mais um dia pra ser "foda!". Mais uma chance de fazer a pessoa que o espelho mostra: alguém.

Quero desvendar meus próprios mistérios. Sinto vontade de viver. Bater as asas, o vento massagear minha face, me dar o carinho na cabeça, o abraço que ninguém mais deu. Estou longe de ser autossuficiente, mas hoje não espero mais aprovação deles para comigo. Não sou covarde, hoje eu vivo. Aprendi a escrever solitude. Eu precisava entender o real significado dessa expressão. O mundo me espera para ser melhor. E dar certo também.

Quando escrevo poesia, só espero ser acalentado pelas palavras, as pessoas que lutem para me conquistar. Ou me dão o mundo ou não me entreguem nada.
Eu sou o evento do passarinho que beija uma flor, aflito, dentro do meu quintal.

Hudson Vicente.