terça-feira, 31 de julho de 2018

Tropecei


Você se esqueceu de falar que ia chegar em casa mais tarde.
Eu te disse, não chega mais perto e nem vem.
Você não me liga, não me fala da tua família e não chora, meu bem.
Eu te digo que vou entender, é ruim demais querer subverter essa falta em agonia que você tem.
Já se passou das três, eu que estava assistindo filme inglês, não aguento mais teus dramas e tantos clichês.
Que história mal contada: o mocinho atropelado por um serial killer em perfeito estado.
Você já sabe que não me convence com esse seriado de falso burguês.
Até assistiria do seu lado, a trilha sonora que a gente reluta pra não ouvir rock em francês.
Vai dar quatro e dezesseis, teu desespero em querer reafirmar a história de um cara sem proteção já não me causa mais comoção, me cansou, talvez.
Apague a luz e deite no pé da cama, em silêncio redobrado, antes que eu me desespere e te mande pra sala, para não gritar e me mostrar desolado, não diga que me ama.
Eu bem que tentei, eu bem que te avisei, a gente só se dá bem separado.
Você no seu canto e eu pro meu lado.
Amar também é aceitar que nem todo mundo nasceu pra ficar junto, apesar de se gostar.
Tudo tem seus laudos. O psiquiatra, sentenciou e disse: cada maluco com suas bizarices.
É tolice esperar o fim de braços cruzados.
Boa sorte, cansei de rimar eu e você e trocar por nós.
Não combina, perdeu a rima, a batida, a poesia.
Pê esse: eu te desejo um bem danado.

Hudson Vicente.

terça-feira, 17 de julho de 2018

Nasci com olhos no céu



Hoje a lua escureceu. No céu não consigo ver estrelas. Parece que se esconderam. Senti como se o mundo tivesse acabando. E não era nem o fim do dia. Em algum lugar, alguém partia. Versos que sussurravam, nem rimavam mais. Sofria como se tudo estivesse em agonia. Respirava como se fosse explodir. É uma guerra ser e não saber. Como proceder? Te olham de cima, sem doçura ou encanto. Querem sempre mais. E mais. Pouco oferecem. E cobram mais.
- Quem é que para aqui, respira um segundo, e te dá as mãos?
- Até eu já me esqueci como se reza. Será que alguém vai olhar por nós? Tenho lá meus lamentos. E dúvidas e desprazeres com a vida. Falam sempre: 'não se desperdiça, é um pecado!'
- Acredita em Deus agora?
- Não tenho tempo, isso é uma grande viagem. Ainda me olham com desconfiança. No sonho, é tudo escuro, ninguém escuta o grito.
- De quem?
- Dos fantasmas. Das bruxas. Meus. Do mundo.
- É espiritual?
- Não sei, me parece real. Meu medo é tudo dá certo e o fim ser inevitável. Me liberta do agora, preciso acordar. Quem se importa que seja uma quarta-feira? Onde está escrito que eu não posso recomeçar? Dá licença, vou me salvar (de mim).
- Olhe, no céu parece estar escrito amor.
- Então cuidado, não aponta para o céu e não conte as estrelas... vai que te nasce verruga nos dedos...
Hoje a lua está do jeito que o céu gosta...

Hudson Vicente.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Me escuta com o coração


Um sonho, sonhei. Caminhava sozinho, de volta para casa. Não enxergava ninguém ao lado. Não sentia o vento no rosto, ninguém passava. O que a gente perde quando se entrega demais? Um pouco de nós ou o resto deles?
Não ouse justificar o passado, ele não serve daqui pra frente, é uma roupa suja e não combina com mais nada. Parte de mim quer ficar. Parte de mim já foi. Parte de nós, já se perdeu. A outra metade assiste tudo e nada faz. E a gente sabe que ainda há vontade e olhos brilhando. Há presente e futuro.
Eu tenho medo. Ele tem receio. Eu tenho coragem. Ele maturidade. Eu quero voar. Ele orientar o voo. Eu liberdade. Ele escolha. Eu caos. Ele calmaria. Nós dois juntos: euforia.
O orgulho não dá o braço a torcer. Por favor, esquece tudo lá fora. Não erre por mim agora. A gente pode tentar, só basta querer.
Se eu te convidar, domingo, para assistir um pôr-do-sol, vai me escutar com o coração?

Hudson Vicente.

terça-feira, 3 de julho de 2018

Eu quero contar de você


Alguém sempre vai sentir demais. Eu tenho medo é de errar. Por ser cedo demais. Por querer demais. E acabar tropeçando. Faz tempo que não fica ninguém por aqui. Tem sido raro alguém querer fazer companhia, olhar no fundo dos olhos e vê refletindo reciprocidade.
É como numa corrida de carros, a estrada pede para ir com calma, e eu no desespero, ponho o pé no acelerador... disparo. É perigoso. Corro o risco de atropelar um monte de coisas. Sendo que o medo é ficar para trás. Ninguém vem com manual de instruções para nos coordenar em como agir.
Sinto o vento na cara, pista livre, e você parece bem proximo, é minha linha de chegada. Vai batendo um desespero de não conseguir chegar. Meu único adversário parece ser eu mesmo e esse medo danado de não te alcançar. Às vezes você fica bem perto, tem hora que está tão longe. Eu acelero e reduzo a velocidade. É difícil fazer alguma coisa. Passo o dia todo tentando finalmente chegar no ponto de partida. Ou seria chegada? E se já tiver partido? Sou inseguro, tenho medo de não ter mais ninguém lá. E eu vagar e vagar sozinho.
Quero te alcançar. Quero chegar perto da curva da Vitória e te ver lá: sorriso e braços abertos, pronto para comemorar comigo. Pronto para estar lá e subir no pódio. Levanta a bandeira, grita, faz algum sinal. Embora afobado, tento ir com calma. Eu quero mesmo é o que vem da alma. E adoraria caminhar contigo de pés descalços, sem pressa, com vento no rosto. Nessa vida, já corri demais. Chega. Me deixa louco. Deixa eu te encontrar. E contar de você... O oposto do caos é calmaria.

Hudson Vicente.