segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Poeta, Deus é teu


Se és um dos meus
Oh poeta! Por que não me escreves sem pressa?
Que fúria solene é essa que te toma
e tanto me afeta?
Revolucionário, parece um soneto de Augusto dos Anjos
Se atira no mar
Apaga o cigarro
Esquece a luz do quarto
Acende meus desejos
Me excita com um olhar lançado sem receio
Inteiro, me encontro aos pedaços
Jogado na cama, alucinado de prazer
Tua boca me devorava como um cortejo à noite mais suja da vida
Esqueci dos versos de Alexandria
Incitava minha ansiedade
Serena a noite já pedia passagem
Vinicius me mataria, não entendo nada de poesia parnasiana
Confundo estrofes, perco as contas dos versos, separo a sua vida da minha, ligo os pontos errados
À vida, renuncio, antes de publicar mais essa linha:
Oh, poeta, querido, me despeço, eternizo-te como um simples verso, cruel-ateu. Deus existe, é como o amor. E você nem vê.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Nunca mais vou esquecer aqueles olhos


Podiam deixar a gente existir de vez em quando.
Sem você aqui eu fico triste.
Você sempre vai ter a mim.
Não vai embora agora, não quero te esquecer.
Em que parte a gente está?
É um longo caminho.
Deixa, você vai me esquecer.
E se eu morrer antes de você?
Vou te eternizar em cada pequeno olhar, nos intermináveis suspiros, intensos; nos teus lábios tocados pela minha boca e acariciados pelos meus dedos.
Queria que a gente fechasse os olhos juntos.
Mas alguém tem que ficar pra escrever essa história, a nossa história.
Vai me desbancar e bancar o poeta?
Nunca vou me perdoar se te esquecer.
Outros virão, é verdade.
Tudo é eterno em sua fração de emoção. Te quero agora. Você não entende, se você for, eu vou também mesmo que o corpo permaneça. Minha alma vai descansar junto.
Tenho medo por você. Promete que não vai se perder?
Chega de falar de despedida. Vamos aproveitar esse dia nascendo lá fora, essa vida toda em chamas. Não se apague, estrelinha.
Desculpe, eu sinto que vou partir.
Todo mundo vai.
Fecha os olhos e sorria.
Vida. Vida. Vida. Metáfora nenhuma vai explicar.
E agora?
Reza e fecha os olhos. Faz um pedido, pede por nós, não seja mesquinho.
É o que mais converso com Deus e esse universo todo se expandindo em torno de nós.
Tu é meu pequeno Grande Planeta. Você sorri e ilumina minha galáxia de sonhos inteira.
Te amo.
Silêncio.
Nunca mais vou esquecer aqueles olhos. Eles me destruíram. Eu saí de mim.
Todo poeta hipnotiza quando olha o mar.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Dentro de você, na rua ao lado.

No meu silêncio profundo, já não sinto mais medo do mundo, queria Deus não sentisse tudo, olho meus retalhos, me perco, me deixo ali, no canto. Meu pranto hoje é saudade. Do que fui, do que poderia ter sido e deixei de ser. Não que agora esteja arrependido. Tenho tudo, menos tempo pra morrer.
Que Deus não me veja mais nessa incerteza de viver no amanhecer, eu nem sei em que parte estou. O que me resta é solidão pra dar e vender. Quem comprará?
Deixa eu fazer um único pedido nessa noite sem sentido? Me beija agora, tira minha roupa, não me deixa agonizar sem antes gozar. Cola teu corpo nu, aqui junto do meu, pela última vez antes de partir. Não, eu não vou morrer mas preciso partir.
Meu fim? Me declarei igual um narciso, sonhador, nem era amor. Teu sexo meu alucionou, me entorpeceu, no ápice do gozo, você insistia que era amor. Só ri. Despudorado nem senti quando você saiu de mim. Era fácil chegar à glória.
Parece tarde pra sermos qualquer coisa além de nada. Minha profundidade te assusta? Sem tempo pra gente rasa. Coisa estranha eu sinto, meu coração tem batido menos, está cansado, pobre coitado. Seria agora meu fim? Antes fosse, que Deus deixasse eu ir, sem fazer alarde. Sempre caio em tentação, entre o bem o mal, vou além.
Ainda não se cansou de me procurar em lugares que eu nunca nem estive?

Hudson Vicente.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A miserável noite dos que morrem de amor

No centro do caos há uma festa de um mundo novo. Respiro fundo. Renasço de novo. O amor deixei pra lá, parecia pouco. E era muito. Tão louco, sóbrio, decadente. Não era estrela. De repente, virou gente.
Pequeno como um toco, partiu pro lado escuro, oculto, se perdeu, tão novo.
Parece que é feito de partidas. E nunca vence. Só perde. Está no seu fracasso, o DNA dos que não chegam lá.
Na noite, esbórnia, mistura de tudo, álcool e pó branco, se sente desejado e vazio. Amanhece e não tem ninguém. Só uma caixinha de som desconectada, perdendo bateria.
Se eu te olhar agora, eu me deprimo. Prefiro fechar os olhos. E te esquecer. Me pergunta se conseguiremos perdoar um aos olhos do outro? Sei lá, sei não. Não quero descobrir. Infinito é o mar e o céu.
O seu caiu? Parece que não. Pensei que seria um herói, pegou o pior papel de vilão. Eles diziam pra mim que tu partirias meu coração. Eu deixei. Te dei as mãos e não soltei.
O mundo parece sem graça, sem vida, sem cor. Sou um retrato preto e branco do século passado. Morri de novo. Covarde, os que tentaram me arrasar, enquanto estava caído no chão. Vento soprou, me recompus, enchi um balão para flutuar.
Era canto, era pranto, era grito, era amor. Não é mais? Silêncio. Cadê tua voz? A festa acabou. A droga acabou. A bebida acabou. Parece que tudo acabou. Até amizade.
E se eu fechar os olhos antes de você?...

Hudson Vicente.