segunda-feira, 24 de junho de 2019

Reciprofelicidade

Pra ser inesquecível, te faltava coragem
Eu era sensível, você selvagem
Me amou invisível, dizia que era liberdade
Te queria lá pelas quatro da tarde

O sol ainda forte queimava as costas
As flores do campo que desabrochavam
Enfeitavam a viagem
Pra ser sincero, eu sentia a eternidade

E no caminho lento do relógio
Deu tempo de sentir saudade
Mas já era tarde
O Sol se pôs dentro dos teus olhos castanhos

O que antes tardava, agora adormecia
Tem um bicho batendo aqui dentro
Ele pulsa e chama teu nome
Reciprofelicidade.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Não é o fim do mundo

No primeiro dia você desaba de montão.
No segundo você ainda parece devastado.
No terceiro você se desespera e sente saudade.
Na quarta semana você faz chocolate.
No final do segundo mês você bebe com os amigos e se tortura com a solidão.
No sexto mês virou uma lembrança.
Um ano depois, você estremece em ouvir algo sobre, mas já está conformado como as coisas estão.
Em dois anos você já esteve com outros.
No quinto ano, você está feliz e vivendo sua vida.
Ele volta, pede pra entrar, te oferecendo tudo que nunca teve coragem. Você agradece e vira as costas. Nem sempre foi fácil. Aquilo que você mais queria há tempos atrás acontece. Mas agora é tanto faz. Você não quer mais. O tempo passou. Outro amor chegou. Amadureceu. E floresceu. Descobriu que o mundo não acaba depois de uma tempestade furiosa. Pode levar tempo, às vezes muito mais, mas passa. Depois de alguns porres, cachaças, brigadeiros e finitas saudades. O amor resolve se reinventar. Que bom. E você vê que ele era só mais um. Comum. Daqueles que foi melhor ficar sem. Viu, não é o fim do mundo. Você se refez.

Hudson Vicente.

sábado, 15 de junho de 2019

Quantas histórias de amor cabem dentro de um poema?

dá medo olhar pro céu
e não ter lua
as nuvens encobrem
que triste
até ela se esconde
é como perder um amigo
sei que pode do outro lado da cidade alguém se sentir como eu me sinto
às vezes partir
é querer voltar
o quanto vale a pena não valer a pena?
a tragédia dessa juventude é achar que pode ser eterna
não somos
na vida
há dúvidas
da vida
cê duvida?
quando estamos diante de nosso próprio espelho nos encarando ao amanhecer
será que sentimos vergonha ou medo?
você se sente feliz aqui?
por que?
é um bom lugar para recomeçar?
é final do dia
sobram histórias e poucos sorrisos
mas e a coragem
cadê?
só porque eu era flor
queria sentir meu perfume
só porque não falei de amor
me cortou
só porque não tinha espinhos
me sabotou
só porque não flori
me esqueceu
eu que era só uma flor...
virei pétalas de malmequer
caídas no chão
porque não te dei amor
mas bem me quero
o que não se planta
nunca floresce
no teu fim
só se colhe saudade
e solidão.

Hudson Vicente.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Tão normal

João se sente sozinho.
Pedro não se sente em paz.
Gabriel se sente perdido.
José tem ansiedade.
Gustavo pensa em voar mas tem medo de altura.
Lucas só pensa em festas.
Danilo em gastar o que não tem.
Roberto só tem dívidas e um bom coração também.
Daniel quer viajar pra fora.
Matheus se formar em psicologia mas nem acabou o cursinho de inglês da sua tia.
Paulo sente sono e quer viver dentro da casinha.
Eduardo não se sente bem.
O que eles têm em comum? Ninguém sabe o que fazer da própria vida. E nem eu também... É tão normal. Todos sempre dizem que vai passar, pra você ficar bem.
Será?

Hudson Vicente.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Poesia em apuros

Ele sempre senta naquela mesa
do bar
pede seu drink
pega sua caneta e o papel
então começa a escrever
umas cartas de amor
na mesma rua da saudade.
Mais um gole
uma injeção
outra dose
parece um poeta assustado
uma criatura atordoada
carente por amar
todos notam
ninguém se aproxima.
A música ao fundo invade seu peito
lhe deixa risonho
quase acompanhado
embora sempre solitário
ninguém se senta ao seu lado.
Mais uma rodada dupla
vodka
coça os olhos
observa uma bela cena
na sua frente
um bêbado dando vexame
mais um rascunho
uma quase poesia
o amor é uma puta
muitos chamam de vadia.
Maltrata
desenha uma flor
pede a conta
entrega à uma dama
e vai embora
e agora
que verso da sua existência ficou para ela?
Não era uma carta de amor.
Poesia em apuros.
Ar puro.
Amor?
Ou flor?

Hudson Vicente.