quarta-feira, 28 de junho de 2017

Flores de plásticos fazem mal à natureza

Escrevi agora para me salvar.
Do amargo, do cheiro de podre lá fora, do sangue derramado no chão - alguém se feriu. Eu estou por dentro. Por fora a gente disfarça, sorri e basta. Todos dizem que você é feliz. Não questionam saudade. Não sabem lidar com a rejeição de que nem tudo na vida vai bem. As coisas vão mal. A gente sabe que está todo mundo com medo. Do que? Do que a gente não expõe. Virou moda esconder o coração e mostrar o corpo. Só o corpo. Porque é o tesão que conta mais. É vazio. Virou moda ser personagem. Quem mais senta aqui comigo e fala dos medos, dos sonhos, do dia a dia? Quem vai sentar aqui e compartilhar sua história? Me diz o quanto você é incrível e foi maravilhoso hoje? Quem vai sentar aqui comigo e rir, tomar umas cervejas, lembrar algumas histórias tristes, sentir falta de alguém e pegar mais na minha mão do que no celular? Você vai enxergar meus olhos brilhando de admiração por sua atitude ou vai dar mais atenção às suas notificações virtuais? Você vai ficar aqui comigo do meu lado ou vai estar em outro lugar com outras pessoas que não estão perto de você? Hoje é muito pouco para amanhã. Perdemos o "timing" do agora. Do frio na barriga da descoberta. Perdemos a emoção de acordar ao lado de alguém e desejar bom dia. A vida virou um jogo de desinteresse. É o câncer da nossa geração sentir menos. Ninguém liga.
Não. Vocês estão perdidos. Sintam mais. Não faz mal dizer que sentiu saudade. Não vai doer nada. Eu não vou sair correndo. Você não será louco. Diz sim. Grita. Faz poesia. Me acorda de madruga. Prometo acordar de bom humor. Vou ter um bom dia. Vou desejar bom dia.
Sorrir é florir. Sorrir para alguém é como beijar a alma do outro. Cuida do seu jardim pra ele cativar, cultivar o melhor que a vida tem. Sem superficialidade. Flores de plásticos fazem mal à nossa natureza. Seja real. Quem é você?
Senti um embrulho no estômago quando eu ouvi tiros na rua. Senti medo. Quase disse deus me livre!, protejam nossas famílias. O céu traz paz. A terra está um purgatório. Não escrevi sobre ninguém. Mas preciso gritar meu amor a todo instante. Viver é a coisa mais rara do mundo. Senta aqui, vai dar tudo certo, vai ficar tudo bem. Para de ser ingessado. Cansa perder tempo com aquilo que não têm alma. Amar, é verdade, faz um bem danado. Se sentir dor, grita. Só não enlouqueça com essa gente que acha bonito esconder o que sente.

Hudson Vicente.


quarta-feira, 21 de junho de 2017

Na estrada da vida





estrada escura
luzes no céu 
estrelas perdidas
de longe está perto
de perto está longe
vai e vem de carros
caminhões buzinam
incomodam o verde do mato
cadê a lua?
tá no céu sem véu
o que enxerga quando não se vê?
o infinito
depende do epílogo
é breu e às vezes frio
não é casaco que esquenta é abraço
requenta
sorri além da estrada
e a vida
te ama
abastece o peito com carinho
no meio do caminho se emociona
que flor é essa com cheiro de pedra
pétala
eu errei
o céu?
olha o céu
cadê o céu?
to no chão
de cabeça pra baixo
aplaudindo a coragem
alguém vai sem deixar nada
me esqueci
perdi o interesse de casa
digo endereço
deixa eu caminhar
correr que seja
amo minha liberdade
cê tá bem?
se quiser segura minha mão
não se prende
mas não se solta do que te faz bem
ainda temos a mesma lua para admirar
faz um pedido ao infinito
que essa aventura de viver nunca tenha fim
sinto coisas lindas
na vida
me sinto vivo.

Hudson Vicente. 

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Amor sem finais


quando eu te disse, amor, que te escrevia, não
foi pra me vingar de tudo que eu sentia
foi amor e ele não se apaga, por mais que doa, amor invade feito tsunami é igual tosse, não dá pra conter
não me leve a mal, amor; me leve bem leve no canto do seu peito, nem que seja esprimido, mundo a fora
me leve, leve, seja para Luxemburgo ou Doha; pra onde você for, só não se sinta mal
te amei num pretérito perfeito, uma história tão linda que eu nunca consegui colocar ponto final
as vírgulas aqui, insistentes, insistem para que não tenha fim; queria assinar meu nome no final da linha aqui embaixo e que você entendesse de uma vez por todas: eu não te amei, amor, por obrigação, a vida quis assim, sem (pontos) finais

Hudson Vicente.