sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Tô indo embora


Amar é caro. Pra eu me encontrar é mais demorado. O ponteiro do relógio dá tantas voltas. E minha hora não chega. Perdi a conta de quantas vezes quis ir embora. Quatro horas de longa espera. Agonizando, quase morrendo. Queria acabar com essa merda toda. Não sentia amor. Tudo secou. Eu não existo pro mundo. E não há mais quem me convença do contrário. Naquela fila de espera de hospital público, sozinho, agonizando, só desejava morrer. Não havia mais sentido nisso aqui. Meus amigos? Cadê? Minha família? Todos ocupados. Liga e ninguém atende. Perdi o amor e o brilho nos olhos.
O mundo, silêncio, faz tempo que me perdeu. Hoje o passarinho cansou do céu, escureceu as vistas, não tem asas, quebrou. Infelizmente a gaiola é a vida.
Olhos tristes já não me enxergam mais. Desculpa, prometi me esquecer.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Amar é foda


Queria poder gritar sem parecer absurdo
Te amar é foda
Teu sexo nas noites mais exageradas é força
Persuasão
É sentinela do medo oculto
Carinho em desespero com medo de nunca ficar
Ninguém ficar
E some feito fumaça
No ar teu semblante adormece
Sutil acalento minha alma de frente pra tua
Me deixa gritar sem parecer absurdo 
Me deixa chorar sem parecer histérico
Te amar é foda
E fode com minha vida toda
Eu aceito
Passivo da minha própria dor
Nas noites de loucuras
E tu fica
Sorri sozinho me desejando de perto
Te olho e digo: me come!
Devoro-te enquanto me destrói
Não há traição nesse jogo
Nem tempo para lamentos
Estamos muito ocupados em explorar
Abusa do exagero de me ter
Tu não tem medo de me perder
Eu só queria te falar todos os dias
Entre um gemido e um chupão
Que te quero todos os dias
Com força, com tesão
Mal consigo me explicar
Goza comigo?
Cada um tem uma forma de amar
Amar é foda!

Hudson Vicente.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Meus vinte e poucos


Estava falido com vinte e quatro anos e não tinha muito o que dizer. As palavras, os cadernos usados e alguns livros ainda fechados, eram minhas únicas memórias. Foi o que sobrou de mim.
Sinto frequentemente um enorme vazio, me olho no espelho e não reconheço, nada além de um borrão. Uma imagem frustrada de alguém que perdeu. Me dói, um desgosto profundo.
É como se não houvesse fantasia para esse carnaval.
Vejo que me olham com tristeza e lamento. Mas o que posso fazer? Ainda sinto o gosto amargo na boca, encontro-me cansado, devastado. Falhei. Não me restou nada no bolso e nem na alma.
Frequentemente pensava no suicídio, em contrapartida, eu não poderia ir embora assim. Não resolveria. No fundo, todo mundo só quer acabar com sua dor. Se meus pais me ouvissem, se desesperariam. Alguns "amigos" apenas riem e dizem que vai passar.
Já ouvi que é falta de terapia, de Deus, de amor... o "caramba a quatro". Terapia talvez seja mesmo. Não há o que se negar. Até quem me vê caminhando na rua percebe que eu não estou bem.
Ainda acredito que dinheiro seja o menor dos meus problemas.
Eu comecei a falhar antes mesmo dos vinte e três...

Hudson Vicente.