domingo, 18 de dezembro de 2016

Tem mar pra peixe?



ele adora olhar o mar
diz que no seu íntimo é um peixe
é melhor não contrariar
a gente nunca sabe o que mantém o outro vivo
seu sorriso tem vezes que parece céu de tão infinito
dá até para acreditar em um final bonito
às vezes ele é ressaca
mar em fúria
céu em tempestade
tão indefeso parece nuvem
não pesa
flutua
é preciso coragem
sobretudo
navegar no seu mar
sorte do barquinho que não afunda
faz força
bate vento
mas não vira nunca
imagina assistir milhares de pôr do sol ali
quem não aplaudiria esta paisagem?
quem não seria feliz ao partir do porto?
quem não sentiria a imensidão?
ele diz que é só um peixe...
vai ver é o 'mar-valioso' do mundo...

Hudson Vicente.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Vira poeira estelar



Pensando ser amor, (quase) entreguei meu coração. 
Não vi que não passava de encanto. 
Sorri aliviado ao te ver caminhando de mãos dadas com outro na pista de dança dos meus sonhos.
Quis gritar, girei enfim. 
Depois de alguns segundos e uma bebida forte, me entreguei à música.
Explodi em transe com a poesia do meu peito. 
Foi tão doce aceitar que não era não. 
Foi uma ilusão. 
A mais bela canção chegou ao fim quando eu disse adeus ao que senti. 
Confesso, quase morri. 
Meu coração tão forte, foi perdendo as forças. 
Abracei a liberdade e senti a imensidão do universo me protegendo e dizendo: a tua história não acaba aqui
Vai sorrir garoto, voa poetinha!, vira poeira estelar! E não pare de dançar. 
Deixa girar...

Hudson Vicente.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Escrevi mais um verso



Escrevi mais um verso
Meu poema foi quase grande
Faltou espaço
Pulei alguns assuntos
Justifiquei alguns caminhos
Chorei tantas saudades
Não me sinto triste
Me sinto pleno
Sem pressa, vou partir
Não quero mais encontrar o que se foi
Sem mágoas, estou leve
Renovado, diria até, por que não, feliz?
Desenhei em uma folha amassada, um rascunho de liberdade
É normal me olharem torto
De vez em quando até sorrio feito bobo
Muita gente é comum e não feliz
Podem até duvidar do que você sente
Mas jamais terão certeza do que você duvida
Bem aí dentro
Escrevi mais um verso
Corri para te contar
Às vezes ninguém está 
Vou guardar 
Vou me mostrar
Quero (te) encantar
Não custa sonhar
Ainda tenho o céu, as estrelas e a lua para encarar
Respira fundo, vai voar...

Hudson Vicente.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Se entrega: seja livre



O cansaço do meu pulso cansado, agora me impede de te escrever um bilhete, em um bloquinho velho de anotações. Não consegui levantar ainda. Meus olhos custam a encarar a luz do dia pelo buraquinho furado da cortina da janela. Não sei o que vou querer para o dejejum. Minha vó já levantou, aquela ali acorda cedo, diz que a vida começa pela manhã. Mamãe ainda não chegou do trabalho. Os passarinhos pousam na minha janela, emitem o som do meu despertador. Acho que é hora de acordar. Todos os dias eles veem, sempre em bando. Ok, eu me levanto. Agora vou acenar para o sol, desejar bom dia. Faço o que posso para adiar meu contato em sociedade. Vovô é adorável, sempre disposto a me dar um sorriso vazio cheio de alegria - é que nessa hora do dia, ele sempre se esquece de pôr a dentadura. 
Levantei e continuo adiando meu encontro com o papel à minha frente. Alguma coisa quer partir de mim. Eu sou teimoso, resisto. Acordei com a fome do amor. Ele (o papel) ainda me encara. Vou continuar ignorando. Limpo o rosto, tomo banho, troco de roupa e ponho o óculos escuro na cara. Dou mais uma olhada e ele ainda fica me devorando com os olhos. Meu último poema rendeu sete dias de uma longa e taxativa história. Muita gente se prendeu em vão. A arte se viu mais suja do que puta de beira de estrada. Tanto escândalo em volta de remorso às nove horas da manhã de uma quinta-feira de novembro de algum milênio atrasado, não deu em nada. A morte me seduzia com um copo cheio de vida na mão, durante minhas idas para o trabalho. Era divertido viver na corda bamba da sua saúde mental. Minha mãe se pudesse saber o que se passava comigo, certamente mandava me internar! 
É chegada a hora do poeta voar. Sem dor, sem caos. Só asas. Passarinho sem cor, me dá sua alma, te empresto meu voo. A cena que eu descreveria agora, era ele segurando meu copo de café, soltando minhas mãos, cantando sozinho. Vento é canto ou é grito? Depende do ouvido... Queria agora um abraço de vovó até o final da tarde, com cheirinho de carinho. É tão cedo para voltar pra casa, não comecei nem a metade. Vou mandar uma mensagem pra minha mãe para lhe dizer o quanto ela é importante. Parece que plantaram e floriu saudade. É que o coração viraliza qualquer gesto de afeto. Carinho, de fato, afeta. 
Partiu. Passarinho, você tem alma nas asas. Eu te escrevi coisas lindas mas não vou te enviar, to cansado de me entregar! 
Escrever é meu modo de ser livre. E eu amo a minha liberdade. 

Hudson Vicente.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Desencontro se encontra?



Garoto infinito
te convido para olhar a lua
distantes
você em Júpiter e eu em Marte
damos risadas em perfeito contraste
contamos sonhos, números, medos
alguns dias escuros...
ouvimos uma de nossas bandas favoritas
e rimos sem desespero
dançamos um espetáculo na rua
nus
ninguém aplaude, se faz silêncio, cara feia
janelas fechadas, cabeças baixas
uma quase vaia, muda
recolhemos as asas, fim de espetáculo
cada um para o seu lado
sem despedida
sem mar, céu azul e alguns infinitos
visão turva de uma noite suja
até nossos demônios fizeram silêncio
agora você sol e eu estrela
um vai embora e o outro chega
quando um encontro se encontra?
depende do céu ou do planeta?
qual estação você deseja?
Primavera ou Verão?
que a Lua nova no Outono te aqueça!

Hudson Vicente.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Eu quero ficar



Eu fiquei ali no cantinho, mudo, quase inexistente. Observava a todos em silêncio. Não fazia barulho, não reagia. Quem olhava não se comovia. Permanecia indiferente. Aceitei os gritos. Não condenei os erros. Absorvi as revoltas. Quase reagi às lágrimas, mas me mantive, ali, invisível. O Globo girava, o dia virava noite e vice e versa, eu permanecia esquecido. Não me deram a mão, não acenaram pra mim, jamais pensaram sequer em me afagar. De vez em quando implicavam e muitas vezes questionavam a minha existência. Tripudiavam da minha quietude. Diziam que eu deveria ser ou estar doente. Mal chegavam perto. Sempre olhavam de longe. Cansado, eu parti. Sem toque, sem despedidas, sem malas. Não fizeram questão. Aqui na rua, é escuro. A cada sombra, um frio e um medo. Não me protegem. Não me amam. Li que eu deveria amar. Soube que esperam muito de mim. Mas não me cuidam. É raro. Gritei em todos os ouvidos até ser ouvido. Os poetas me idolatram. Fiz muitos escritores me amarem. Uns usam as flores para me justificar, também dizem que o ciúme me justifica. Já até me condenaram por ser em excesso. Sempre me definem. Me dão versões. Me escrevem versos. Uns até me odeiam. Mas permaneço aqui. Dentro do seu peito. Faço tum-tum mais rápido que um tic-tac do relógio. Faço morada no seu coração. Sou o motivo da existência dele. Deveriam cuidar mais de mim. Me dar atenção. Assim eu existo. Me deem motivos para não ir embora. Eu quero ficar. Ainda não me descobriu? Eu estou preso entre um sorriso e um abraço. Às vezes eu voo. Fiz muitas declarações. Sou forte. Meio louco, quase insano. Resisto e persisto. Cometo erros. Duvidam muitas vezes de mim, admito. Mas eu... bom, sou o que há de melhor em você e nos outros. Acredita. Eu sou real. Já fui motivo de muitas lágrimas, já fui embora algumas vezes, mas nunca abandonei quem me sentia. Não há nada maior do que eu. Afinal, eu sou o amor. Cuida de mim. 

Hudson Vicente.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Queria ser flor



Quis criar raízes, mas era aprendiz.
Aprendiz de poeta.
Ele parecia ela, queria ser flor
mesmo quando não era Primavera.
Sem espinhos, não feria, cheirava
cada pétala doce e suave.
Andou por alguns jardins, alguns espinhos
lhe feriu. Apesar da dor, suportou
calado e foi crescendo. A mais bela flor
do jardim do mundo, em qualquer pequeno quintal
dá pra ver rastros seus.
Germinou poesia, passarinhos e outras flores.
Cultivou. Cativou cada sementinha.
Quem lhe cuida, colhe o que planta:
amor. Floriu. Floresceu. Sorriu.
Até dentro de você nasce flor.

Hudson Vicente. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Porre semanal



escrevo na segunda tentativa
em uma terça com a difícil missão
de não chegar à quarta
teu romance de quinta me impediu
de sorrir às sextas
nosso dia sagrado
no sábado me afoguei na solidão
de um copo frio de vinho barato
para no domingo acordar com uma puta
ressaca e uma puta qualquer do lado
me perdi desde a primeira vez que
me embriaguei de você
como num porre semanal.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Não haviam borboletas no estômago



tentei
inúmeras vezes ser paraíso
sorriso forte, igual mar aberto
florescia em dias de sol
irradiava liberdade
construía caminhos para serem percorridos lado a lado

fui proibido tantas vezes de demonstrar afeto por quem me afetou
guardei cada gesto de carinho numa nuvenzinha lá no céu
a lua, a noite, fazia o meu papel
dançava sozinha em sua imensidão estelar
às vezes chorava e não tinha ninguém pra acalmar
era tão distante
eu aqui e ela lá
não podia abraçar

por aqui seguia o incômodo
às vezes umas borboletas no estômago
isso foi só depois do beijo
não haviam nem pássaros, nem flores
senti temores, coração inquieto
ansiando chegadas, torcendo pelo fim das partidas
ao universo grito em voz baixa
desamarra
desamarra
deixa o amor florir em nós?

Hudson Vicente.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Deixa voar



Desculpe se a porta bateu.
Se o sorriso atirado foi forçado.
Se o abraço foi frio.
Se as mãos não se encontraram.
Se o silêncio foi mais alto que os batimentos do peito.
Se já não te olhei com carinho.
A música já não era mais a mesma.
Se nem mesmo o amor resistiu depois de tudo.
Tem hora que a estrada fica escura, os caminhos mudam e a gente perde o brilho estranho no olhar.
O céu continua o mesmo.
Menos nós.
Já não trocamos mais a energia necessária um para o outro.
Mudamos de disco, autores favoritos, número de endereço e o amanhecer.
Contudo, peço, não se zangue.
Não deu errado, não foi tempo perdido.
Deu certo, deu tão certo que hoje mudou.
Cada um fica com suas escolhas, caminhos e entardecer.
Cada um pode escolher seu próprio filme, sem ficar sem graça em dizer para o outro que não quer assistir; vai poder escolher se põe sal na pipoca ou não; vai poder decidir se quer assistir séries ou novela, e ainda terá o silêncio tranquilo de quando um dos times perder um clássico para o outro.
Agora vou poder escrever sobre minha solidão e as pessoas vão me entender, pois não precisarei escrever uma história feliz de dois mundos que no fundo era cada um por si. Não precisarei fingir que uso alguém para amar.
Era tão cruel e vazio.
Todo poeta precisa de uma musa, de uma dor.
Olhei para as flores que te dei e desejei felicidade.
Elas representam tudo aquilo que eu mais desejei: a liberdade.
Deixa voar, deixa voar, deixa voar.
As lágrimas que agora escorrem, acalentam minha face.
As palavras são o grande sentido da minha vida.
Vivi precisando de carinho.
Não me satisfiz com nenhum relacionamento, não por culpa dos meus semelhantes, mas por necessidade delas.
As palavras me afagam.
Nos deixem a sós.
Preciso me encontrar.

Hudson Vicente.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Linha reta ou zig zag?



respeita minhas estrada velhas,
meus caminhos esburacados,
os joelhos ralados, as dúvidas
nas minhas certezas, os breves
abraços, os esboços de felicidade,
minhas cicatrizes.

não tem sido fácil até aqui.
corri quando era para caminhar,
caminhei ao me perder, 
enlouqueci quando deveria acelerar.
parei para pedir informação, ajuda
o que fosse, mas na estrada não
passava ninguém.

amanheci sem norte.
consegui até um oásis vez ou outra.
esbocei liberdade mas não me entenderam,
transformei em solidão e riram
feito besta da minha cara de palhaço.
me puseram um sorriso no rosto
e pediram para que eu continuasse.

eu era fraco. nunca fui forte, cai.
não foram duas ou quatro vezes.
o abismo não era tão imenso.
me joguei em outra ilusão:
vi rostos risonhos, acenei para os frios,
acalmei os exaltados, não me segurei
quando passei os olhos nos perversos.

quase me encantei.
quase me iludi.
quase fui feliz.
quase mergulhei quando
deveria voar.
quase fui livre.
meu erro?
fui quase.
e agora o que restou de mim?

uma longa e intensa página
sem informações verídicas...
não me julgue.
ainda não terminei o percurso.
acelero e ando.
vai que lá no final do infinito
tenha um outro amanhecer
tão bonito... ou menos sofrido!

Hudson Vicente.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Grita pro mundo



Rasga esse papel de amor de novela.
Esses sonhos de romance igual contos de fadas.
Larga dessa história de final feliz.
Felizes para sempre é o fim.
Cansa.
Esgota.

Amor é versões.
É verbo conjugado no infinitivo tentando ser infinito mesmo nas suas finitudes.
É o dia a dia arrastado.
Todo fim de tarde na volta do trabalho, cansado, dentro do transporte esperando chegar em casa para se jogar na cama e descansar.
Olhar para o lado e não ter solidão.
Encontrar afago.
Peito cansado e ainda assim sentir vontade de abraçar depois do desentendimento, das palavras amargas, do olhar rude, minucioso...
Não é fácil o amar.
Acordar às 6 horas numa manhã de segunda feira e desejar bom dia.
Rotina.
Cotidiano.
Meses.
Anos.
E assim mesmo sorrir.
Sem motivo.
Encontrar um que seja para fazer alguém feliz e buscar não ser infeliz.
Ter paciência.
Aguentar mau humor.
Crise de existência.
Lágrimas.
Tocar o outro com jeito.
Aceitar os defeitos e qualidades.
Por fim olhar no fundo dos olhos, demonstrar o quanto é importante.
Abraçar.
É... o amor é raro.
Grita pro mundo.
Tem gente que precisa ouvir.
Sentir.
Amar.
Soltar.
Voar.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

(In)versos



Já fui puta, a mais rodada da via expressa.
Já fui príncipe, também já beijei vários sapos.
Já fui poeta, recitei Drummond. Já fui não. Sou.
Ou me faço. Me faço de poeta para aguentar a vida
(em versos?).
Já fui abraço quando nunca tive afago.
Já fui sorriso em uma segunda-feira as 7 horas da manhã.
Já fui tesão antes mesmo de tirar a roupa.
Já brochei quando tentei ser romântico.
Já me vendi barato para quem não sabia o que era preço.
Já desprezei o amor por uns corpos frios na balada.
Já me embriaguei antes mesmo de aprender a tragar.
Já voei por medo de partir.
Já fui poesia sem abraçar o caos.
Já fui caos nos natais da família.
Já dancei com todos os meus demônios internos.
Já fui, já voltei, depois parti e me perdi.
Ontem fui amor.
Hoje sou saudade.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Bem vindo ao meu delírio...




Já me levaram dinheiro,
já me levaram presentes,
já me levaram o celular,
já me levaram na brincadeira,
(quase) já me levaram a sério,
já me levaram embora - mas voltei.
já me levaram as nuvens (às nuvens)
e alguns pores do sol,
já me levaram à loucura,
já me levaram ao delírio,
já me levaram à merda,
já me levaram o amor.
Não. O amor não. Este está aqui.
Intacto.
Já me levaram a poesia (à poesia).
Que me levem tudo
e me deixem voar...

Hudson Vicente.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Também sou tempestade



Tem horas que eu paro e me questiono: nossa, afinal, o que eu sou? O abraço dos meus amigos em uma balada? Um corpo descamisado fritando na pista de dança com altas vibrações? Aquele menino que anseia o abraço da sua mãe e um carinho na cabeça todas as noites? Aquele rapaz que tenta ser forte para superar um mau amor que não vingou? Aquele garoto cheio de planos e medos dentro dele, mas com uma enorme coragem de abrir as asas e voar? O que eu sou? Um sorriso bonito, uns likes em uma foto? Uma legenda forte e criativa que busca o meu eu? Um caos ou uma poesia? Olho para frente e aqui parece escuro e frio. A noite não me acolhe, me acode, de um lado para o outro nessa cama pesada que agora faz doer minha coluna. Acendo a luz, me olho no espelho e vejo olheiras. Cachorros latem ensandecidamente lá fora. Não há carros na rua. Talvez algumas almas vagando, dançando sua liberdade, universo a dentro. Meu pai não sabe de mim. Não entende o que se passa comigo, coitado, é melhor assim. Os poucos que sentem, não compreendem. Que estranho: os mortos parecem me entender mais que os vivos...
Eu queria ser o amor da vida de alguém. Minha mãe diz que eu sou. Mas sabem como são as mães... Tenho uma irmã, então, é divido. Sou mesquinho, quero ser o amor da vida de alguém sozinho. Algum dia, por descuido ou poesia, minha, alguém já foi meu, E morreu. Não que tenha morrido, só não vive tão presente comigo. Melhor assim, afinal. Comprimidos quase não fazem mais efeitos. Queria uma droga mais forte. Queria o amor de volta. Um que não doesse tanto. Um para essa tempestade passar. Eu até aceito que me partam o coração, mas não derruba minha bebida que eu faço um escândalo. Enquanto isso, continuo dançando sozinho dentro de mim. Meu caos. É o que eu sou. Só um caos poético. Sem certeza. Não é uma resposta definitiva. Até porque, amanhã, ao amanhecer, eu já não serei mais o mesmo. E terei que ir atrás de uma outra resposta. E será sempre assim. Somos mudança. Ainda bem. Imagina que chato, ser o mesmo para sempre?

Hudson Vicente.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Pra se aventurar



A vida nos prega peças todos os dias. A gente sorri por liberdade, tem quem nem saiba o que é isso. Olhamos em volta e descobrimos que estamos escandalosamente sós. Daqui a pouco amanhece. Apesar do breu, o céu parece claro. Ainda é agosto. Pensando bem, nem teve tanto desgosto. Meu amigo me mandou uma mensagem, sorrindo, me trouxe corações ao invés de flores. No nosso peito de tantos amores, foram-se as dores. Grita calado, sorrateiramente a vontade de amanhecer nos braços da solidão, mas ela também já procura companhia. Que agonia! Meus pés formigam, é como se eles sentissem borboletas no estômago, agitados para dançar. Uma música que vem de dentro. Não há nem melodia, só vontade de abraçar. Em outros tempos eu diria que é insônia... Fecho meus olhos e sonho. O amanhã já vai chegar. Pra se aventurar... Lá laiá laiá laiá.

Hudson Vicente.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Um drogado: viciado em poesia



Eu vou me viciar nessa droga. Não que tenha sido uma escolha, acredite em mim: não foi. Eu me vi ali, sozinho, perdido. Meus amigos sumiam. Eu não sabia o que fazer. Era todo dia. Passava das três, quatro horas da madrugada. O café descia queimando. Era só insônia. Trocava o dia pela noite. Maria era a única que me compreendia. Falava comigo todas as noites. Não sentia mais dor, apenas amor. E como sentia amor, cara. O mundo todo precisava disso. Caretas, se aprisionam dentro de seus mundinhos e mentes pequenas. Todos tão covardes. Não que eu não fosse também. Talvez fosse o maior de todos. Mas estava me libertando. Maria, a outra, também do amor, me disse a coisa mais linda que alguém poderia me dizer. Não foi um elogio, foi um voo. Disse que eu tinha asas dentro de mim - eu sempre soube que poderia voar. Irradiei felicidade. Sou pássaro, sou livre. E liberdade vai além do amor e sentir-se livre. É plenitude, é alma. É cativar, é empatia com quem somos. Sem máscaras. Sem supervisões, maquiagem ou companhia. Liberdade é ser quem verdadeiramente somos. E eu me viciei nela. Em Maria e em sonhar. Não vê? Me tornei um viciado. Viciado em liberdade. O (mau) amor já nem me dói tanto. Que engraçado! O amor que deveria curar, machucou. Realmente não valia a pena. Ouvi o telefone quase tocar agora, mas é coisa da minha cabeça. Ninguém me ligaria às três da madrugada para dizer que sente saudade. Seria engano. Fechei o livro. A poesia me salvou. Um dia vão apontar o dedo na minha cara e dizer: você tinha razão! A gente anda carecido de amor. Precisamos espalhar o amor (e com uma certa urgência). Não é papo de um drogado. Talvez eu trague mais daqui a algumas horas. Podem sentenciar: sou viciado em poesia. Obrigado, Maria!

Hudson Vicente.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Quem parte e quem fica



Quando me vem
Eu parto
Porque se fico
Eu penso
E lembro
Do beijo
Do cheiro
Nos meus lençóis forrados
Que você se jogava e bagunçava
Igual fazia com meu coração
Eu sorria alegremente
Dava sua hora e você partia
A bagunça, como sempre, ficava para eu arrumar
Não reclamava
Assentia
Sentia
Meu peito era teu abrigo
Tua morada nas noites mais sofridas
Eu sei, eu te aquecia
Acendia e você apagava
Era como nosso beck, íamos pra varanda depois de deslizarmos cada canto daquela cama
Cabia você e tudo mais que nós sentíamos
Você sempre ia embora antes da última tragada, dizia que enquanto tivesse uma ponta, era pra te esperar
Eu deixava ali
Por medo de nunca sobrar
Era estratégia sua
Sempre desconfiei, mas aceitava
As sextas-feiras sempre te traziam de volta
Nos amávamos como dois adolescentes na puberdade
Você no auge dos seus trinta e poucos anos e eu na explosão dos meus vinte
Eu era um moleque, como você me chamava, mal entendia todo aquele sentimento dentro de mim
Ansiava pela tua volta em cada mensagem de boa noite
Você, mais experiente, pedia calma
Calma eu tenho até demais, destoava
Quem tem alma não tem calma, não é assim que dizem?
Não sei
Confuso e aflito fiquei
O cigarro nunca mais acendeu
As sextas-feiras parecem ter pulado do meu calendário
Joguei fora todos os meus relógios
Já não ouço mais o tum-tum do seu coração
A minha cama permanece arrumada
Mas e o meu coração?
Vaga perdido a sua espera desde a última tragada.

Hudson Vicente.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Poxa, Chico!



A vida anunciou que chegou
Clareou e amanheceu o dia
Viviam-se mais anos atrás
Viviam-se menos anos atrás
No jornal se vende tragédia
História bonita nego não faz
Matou, roubou, suicidou
- chefe satisfeito
Vendeu, causou, debateram

Tomou o café apressado
Com embrulho no estômago
Na rua sol e trânsito
Inferno de dia longo
Pediu pra Deus
Colocou a música no último volume
Sem rock n' roll preferiu pop francês
Céu azul de abril as nove da manhã
Bom dia desculpe o atraso tem reunião?

No caminho lembra que não te amam e sorri
Compadece com seus pensamentos: quero férias
Dez, onze, doze, treze, hora do almoço
Quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, até amanhã
Chora no caminho seu peito sozinho
Não acha seu lugar, vai embora a pé
Aperta aqui, esbarra ali
Chega, alguns cochilos, fim da aula
Volta e não se encontra

Pétalas de uma flor murcha caídas no chão
É só solidão
Não deu boa noite pro pai nem pra mãe, dormiu com fome
Fez carinho no cachorro e recebeu uma lambida
O mundo não é só um pedaço do globo
Redemoinho

Escuta o Chico
Com a vida a gente não lida
Fecha os olhos com a sensação de que amanhã...
Não vai ser outro dia
Que pena, Chico...
Apesar de você...

Hudson Vicente.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Cansa...



Uma hora cansa, sabia?
Cansa bater em porta que não abre.
Em pedir para ficar quem quer ir.
Insistir para ir embora quem não tem hora para voltar.
Cansa rotina.
Cansa relacionamento. Ciúmes, briguinha. Até amigo, cansa.
Cansa levar esporro da mãe todo dia.
Cansa discutir, dizer palavras rudes no calor do momento e mais tarde se arrepender por tanta frieza com que sua boca disse coisas tão hostis.
Cansa gritar pedindo paz enquanto criamos mais e mais guerras.
Cansa o preconceito, a falta de cultura e amor ao próximo.
Cansa a faculdade, o desespero para dar conta de tudo, notas altas, não dormir nas aulas, fazer os trabalhos, aturar os professores.
Cansa as incertezas para o futuro.
As nossas dúvidas insistentes que martelam no nosso juízo e nos desgraça a cabeça. Isso cansa.
Cansa o trabalho, o chefe.
Cansa até querer voltar para casa, cara.
Chega uma hora que cansa.
O ônibus e o trem que atrasam. O engarrafamento que estressa. A gente xinga. Expõe nossas feridas e chora. A gente chora no meio do caminho, cansado, exausto, quase acabado, querendo jogar tudo pro alto. Quer gritar e pedir socorro. Pra quem? Fecha os olhos e pede pro céu. Se não acredita, pede também. Em vão. Cansa.
Cansa o salário acabar antes do mês, as contas vencerem. Cansa a responsabilidade.
Cansa aquela conversa monótona que não vai levar a lugar algum, que só nos faz perder tempo. Cansa. E se arrasta, como o tic tac do relógio.
A vida cansa. Viver nos esgota todos os dias.
É o choro da criança, até o sorriso forçado de bom dia às sete, oito horas da manhã, cansa. Olhar para a cara do vizinho, cansa.
Fazer algo por obrigação, por sobrevivência, cansa. E não sei quando, em que lugar da história ficou determinado que a gente tem que continuar. Poderíamos simplesmente largar tudo. Dizer chega, eu me cansei, não quero mais isso pra mim. E ter uns breves minutos de uma paz memorável na nossa alma. Um silêncio coroado.
Mas até isso uma hora vai cansar. E a gente vai chorar, se desesperar, querer arrancar os cabelos, planejar o futuro, e se lembrar de que precisamos de tudo para planejarmos o futuro que ficou parado.
Afinal, por que diabos a gente não para? Porque cansa... Viver, ainda que nos cause danos, e cicatrizes: é único. E a gente sempre espera um pote dourado com um céu de arco-íris. É necessário, senão a gente cansa também. Desiste e vai embora só com o gosto amargo, se entrega. E acaba. Sem aplausos, sem nome nos créditos, no fim. Cansa...

Hudson Vicente.

domingo, 8 de maio de 2016

Mãe: é mais amor do que gente



Acorda cedo. Vê se está bem. Dá beijo na testa. Passa a mão no rosto. Admira de longe. Agradece por mais um dia. Reza pra deus, pede proteção. Cuida da casa, do quarto, da vida, da sua vida, do coração. E às vezes esquece de si. Põe o almoço na mesa. Chama pra comer. Seu prato preferido, mas nem sempre tem que ser. Não suja a roupa. Come direito. Tomou banho? Vai pra escola. Dá beijo na testa. Boa aula. Volta. Beijo na testa. Como foi a aula? Toma banho. Não deixa a toalha em cima da cama. Vai molhar. Tá tossindo, vou dar um xarope. Faz o dever de casa. Se eu souber, eu te ajudo. Não muda de canal, tô vendo minha novela. Vai vê tevê no seu quarto. Abaixa o volume. Seu pai está demorando. Vou esquentar a comida. Ponho muito ou pouco? Come, para de conversar. Não implica com a sua irmã. Não implica com o seu irmão. Só vai levantar daí quando acabar tudo. Vai escovar os dentes. Agora joga o lixo fora. Tô cansada. Você não faz nada. Desliga a tevê, vai dormir. Dá beijo na testa. Agradece. Te põe pra dormir. Reza pra deus. Agradece de novo. Chegou tarde, seus filhos já estão dormindo. Bebeu né?! Vou botar sua comida. Já comeu na rua? Então vamos dormir. Umas vozes mais altas. Silêncio. Talvez lágrimas em silêncio. Fecha os olhos. Deus, proteja meus filhos. Amém. Levanta. Olha as crianças, dá mais um beijo na testa. Amo vocês. Por ser a palavra mais forte do mundo, mãe, é amor vestida de gente.

Hudson Vicente.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Ah, moleque!



Era uma lua bonita e um céu pesado, visto da janela aberta do meu quarto, estrelas mal se enxergava na imensidão. O clima estava agradável. Eu sentia frio e depois calor. Fechei os olhos e olhei para o lado. Suspirava. Dormia feito pedra. Eu admirava meio atônito. Mas por fim, senti uma paz. Algo dentro de mim me revirava. De um lado para o outro na cama. Esbarrava. Era fogo. Era carnal. De repente tudo estava tão quente. Eu acendia. Eu instigava. Eu desci. E ele acordou. Finalmente, ele acordou. Estava meio dormente. Salivei. E como salivei. Em um instante despertou. Mas foi romântico. Pediu para que eu subisse. A boca estava cheia d'água. Mordia os lábios. Subi e repousei no seu peito. Ouvi seu coração. Cada batimento. Tum-tum. Tum-tum. Lá embaixo pulsava. Me encarava de cima, enquanto eu admirava de baixo. Bem ali, repousado no seu peito. E então sorriu. Eu me desmanchei. Mesma direção. Um de frente para o outro. Olhares se desejavam. Se comiam e transavam antes mesmo de qualquer toque. Malicioso. Me olhava com os olhos encantados. Eu retribuía com o pensamento: vou te devorar! Faiscou. Nos entregamos. Dois corpos entrelaçados. Viraram um. Barba com barba. Roçando. Mordida nos lábios. Desejo. E lambe. Usa a língua para tudo em cada canto. Sobe e desce. E desce de vez. Ereto. Salivando. Pulsando. De frente para mim. Completamente vermelho. Chupa. Engole. Tudo. E depois repete. Delícia. Delira. Suspira. Grita. Geme. Usa tudo que tem direito: boca, língua, dedos e pau. Agora sobe. Minha vez. Aguenta. Geme. Mais alto. Dói. Deixa doer. Isso, assim. Soca. Beija. Continua. Muda de posição. De frente, de lado, de quatro, em cima, pra baixo. Senta. Mais rápido. Contornando. Isso te excita? Pede mais. Quero mais. Moleque! Bate. Assim, na minha cara. Puxa o cabelo. Vai. Vem. Tô quase lá. Vai explodir. Vai gozar. Explodiu. Agora é minha vez. Abre a boca. Jorra. Aaaaaahhhhh... Ufa. Você foi fantástico. E você, tá pronto pra outra? Melhor dormir agora. Acalma o coração. Moleque! Suspira, deita e dorme. Olha o céu, ali, tá vendo? A gente também pode ser infinito. Eu acho que gozei até minha alma. Me senti um mar. Estava todo molhado. Você foi uma perfeita poesia. Já passou das duas da madrugada. Que lua linda. Silêncio. Boa noite. Dorme bem. Tem como não dormir bem?
E admirei a noite toda aquela cena em um quadro parado. 
Bom, e depois do beijo de boa noite e da poesia, o quê que fica?
Ah, moleque...

Hudson Vicente.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Auroras para recomeçar



Desperdiço rima de outrora 
em qualquer aurora
pensei em amora porque são vermelhas
mas e agora
o que fica de vida e esperança
daquele dia
tarde sofrida
saudade reprimida
partida
colhida
me leve daqui

ainda quero amora
aurora
agora
não chora
e nem vá embora

queria dizer que tenho amor
que me remete à dor
danço nesse compasso
sem traço do artista que vendeu seu quadro
por qualquer trocado
para levar comida para casa
e deixar sua família feliz
mas por dentro traz tristeza
com muitas incertezas

as lágrimas que caem
não são de vitórias
camuflam derrotas
finas sutilezas

pinto meus dias com cores 
desconhecidas
feito um borrão
misturando preto e branco
dá o cinza que tem solidão

domingo um clássico
sol de abril
um céu azul e quente
onde já se passou do meio dia
cadê a esperança da minha gente?

apago mensagens
ignoro chamadas
o coração desacelera
gradativamente

porque no final do dia ninguém me espera
então
o que fica pra mim quando me livro do que leio?
o que sobra quando me falta?
o que me prende quando voo?
auroras para recomeçar
de novo.

Hudson Vicente.

domingo, 24 de abril de 2016

Liberdade



Vou a bares
Vou a boates
Beijo homem
Beijo mulher
Beijo bem
O meu corpo
Minhas regras
Não pertenço a ninguém
Vida curta
Mundo pequeno
Ressacas e olheiras
Da poesia à boêmia
Frito
Enlouquecido
Não paro
A música não me deixa
Grito e canto bem alto
Giro sem perder o compasso
Gente esquisita
Frita
Grita
Abraça
Sente
Reflita
Música
E poesia
Liberdade
Sentido da vida é pra frente
Enfrente
Me entende?

Hudson Vicente