terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Um convite


Vem aqui em casa, me faz companhia, abre a geladeira e abre uma cerveja. Comprei sua coleção de discos favorita. Me conta de você, como foi de férias, como anda a faculdade e seu brilho nos olhos com o futuro. Conta suas bads, seus pseudoromances e suas angústias com a previsão do tempo que pode atrapalhar sua ida à praia. Vamos conversar sobre o cotidiano e a possível (utópica) volta do Los Hermanos. Eles sabem mais de nós do que nós mesmos. 'A gente sempre peca na vontade de ter um amor de verdade'. E se precipita.
O carnaval acabou de acabar. E todo o resto também. Aquele amor que virou quarta-feira de cinzas, não me deixou surpreso. Sabe, de tanto cair, quando vem algo para te derrubar... mas você já está no chão. Acontece. A gente ri. E segue o baile.
Se sentir frio, eu fecho a janela. Talvez a gente perca a paisagem e não enxergue com tanta clareza esse céu de estrelas tão lindo. Gosto de gente que sorri com os olhos. Quando tenta disfarçar timidez olhando pra baixo.
Você errou mais um tom no acorde do violão, mas deixei passar despercebido até porque me perdi em qual página do livro eu estava lendo.
Vou completar mais um Outono. Sei que você gosta de flores e desabrocha antes mesmo da Primavera chegar.
Obrigado por aceitar o convite. Pode sempre me contar de você. Deixa eu te falar mais uma coisa nesse momento: teu sorriso virou infinito quando olhei pro teus olhos sorrindo pra mim.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Amor de carnaval dura?


Cuidado com os amores na quarta-feira de cinzas, você é intenso. Até mesmo na fila de espera da entrada de uma festa. Qualquer sorriso despercebido e ele encaixa. Nos sonhos que passam longe de serem pesadelos. Na folia enquanto ele bebe ao som das marchinhas. Você é intenso, se entrega rápido. É sempre assim. "Quem tem alma, não tem calma", você faz valer este verso. E outros tantos que não te escrevo. Por descuido ou por medo.
Silêncio vira infinito, quando a gente sorri um de frente pro outro. E abraça e pede que fica. Você acha graça, faz até palhaçada. Afaga. Fica perto quando sente ciúme.
É verão, final de carnaval. Amor de carnaval só dura carnaval? Ressaca dura! Tudo gira. Fim de festa. Glitter no corpo todo. Alma leve. Coração sem querer decide amar. Vai, aproveita cada momento. Você sabe que ele não é como os outros. E os outros não se sairam tão bem quanto ele. Tem magia? Tem cor? Tem festa. Eu gosto mais dele assim: quando ele sorri azul, pra mim.
É feito céu. Parece frágil. Explode no coração, intenso, cheio de flores. Não poderia ser diferente. Eu, Pierrot moderno, descubro que Colombina não é meu par, quando te olho, Arlequim...
Você é intenso.
Quando esse carnaval acaba?

Hudson Vicente.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Me recuso a afundar



Acordei. Talvez com mais sono do que quando fui dormir. Despertei. Antes mesmo do despetador. E silenciei o barulho do caos aqui dentro. Lá fora as horas vão transcorrerem como tem de ser. E não há nada que eu possa fazer para mudar a ordem cronológica das coisas.
O mundo, esse purgatório, a gente mais sobrevive do que vive. Essa é minha realidade. Olhei pro meu corpo nu, rabiscado, cheio de tatuagens. Quase senti a dor de cada traço que aqui foi feito. Respirei aliviado. É tudo real. Corri para o banho. Foi como tirar toda a sujeira de uma vida em apenas algumas ensaboadas. Me olhei de novo. Agora, me encarei no espelho. Olhei no fundo dos meus sonhos, digo olhos. Não tive medo. Ainda que lá no fundo, brilhava. E então, atirei um sorriso sem graça. Suspirei. Vamos encarar?
Saí para viver o dia. Encontrei uma flor jogada no chão. A poesia está viva. Mesmo quando me escapole. Óculos escuro no rosto. Dessa vez é pra disfarçar as olheiras, e não esconder olhares. Que saudade eu estava de mim. Acordar bem. Disposto. Quase feliz. A rotina me esgota. Bati o portão de casa. Falei baixinho, com a mão no peito: vai dar tudo certo, vai ficar tudo bem.
Já perdi a conta de quantas vezes eu recomecei. De quantas vezes já larguei da mão da vida e chorei no ônibus, mudo, vendo buzinas e carros e gente sofrida, fria e feliz lá fora. É um longo caminho sempre. Deixei a barba por fazer. É meu estado de solidão. Por favor, não interrompam. Fui no barbeiro e cortei o cabelo. Em seguida o trabalho. Mais um dia. Ou menos um dia? Quando se é jovem, a gente conta mais um, um certo amigo uma vez me disse. Mas, no auge dos meus surtos, desconsiderei. Deixei pra lá. Pode ser que faça mais sol, pode ser que chova. São muitas incertezas até a minha volta pra casa. Mas sabe o que eu aprendi com isso tudo? Que nenhuma dor é eterna, mas o sofrimento, a entrega de desamores por ele, é opcional, parafraseando meu grande poeta!
Sempre esperam coragem da gente. Tudo bem, não vou cair agora! Em um dos meus traços pelo corpo, diz assim: "me recuso a afundar" e os pássaros puxando a âncora, o peso.
Com licença, eu vou voar.

Hudson Vicente.