sábado, 16 de julho de 2022

Incendiava em qualquer lugar


E quando vi chegar, me desalinhei.
A rosa, o espinho na mão, me cortei.
Incendiava qualquer noite, fria, longa, que vergonha.
Ouvindo aquela voz, aprendi.
Confesso, talvez quase enlouqueci.
Dizias coisas com as quais nunca entendi.
Perguntou: tudo bem?
Sorrindo, mas com vontade de mandar pro inferno.
Gastou energia, palavras, faltaram afetos.
Jeito de confrontar, sem tempo de confortar.
Transformava alma em algum lugar para se refugiar.
E seguiu feito o sol da manhã, nascendo despreocupado, seguindo o coração que nasceu para perder.
Perder.
Finda paixão, efeito da multidão.
Não deixou marcas dos cansados pés ao caminhar.
Quando chegar ao fim dessa história, quem reconhecerá?
Rosto desconfigurado, olhos desamparados, velhos traços de alguém que se indispôs.
O preço dessa liberdade foi ser infeliz.
Errou, errou tanto.
Gostou, gozou pranto.
Liberte-se dessas sensações.
Quando chegar lá, pode gritar bem alto que tentou ser feliz.
Eu sinto aqui, sinto muito, quando abro as janelas do peito e os dias parecem os mesmos, a paisagem não muda, o céu continua o mesmo. Menos nós.
Uma grande turbulência, anunciada a tempestade, respirou fundo e se acalmou.
Precisou se cutucar para acordar do pior pesadelo. Respirou lento de novo, só pra ter certeza que estava vivo. Mas faz tempo que já não vive.
Paralisou, outra vez, fugiu pra dentro de si. Só. Deixou a rosa cair no chão, junto do espinho que lhe feriu à mão.
Sangrei.

Hudson Vicente.