terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Ato de revolta



acorda já cansado
sem tempo de se olhar no espelho
não toma café
sai apressado
as roupas amassadas
transporte público um caos
cotidiano sufocante
chega
bate a porta
já não é um bom dia
evita todos
se tranca no banheiro
vê refletido no espelho sua imagem distorcida
trêmula
uma fotografia tirada às pressas
se choca
um suspiro profundo
tira as roupas
primeiro a blusa
depois a calça
e a cueca
saliva
em movimentos constantes crescentes
está pronto
se excita
morde os próprios lábios
acarícia o próprio mamilo
se toca com mais frequência
ensaia um gemido
pupilas dilatadas
nuca roçando a parede
olhos revirando
dedos apertando os peitos
seus dentes os lábios
explode
morde o próprio braço
geme
solta um palavrão
vai soltar
na hora do expediente
vai gozar
jorra
sua revolta
momento de extravasar
batem na porta
ele sorri
tá tudo bem
responde
é hora de se encarar.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Amor não é LSD



Brota no meu ser
O repulso mais sutil
De te sentir
Seu corpo colado no meu
Seus lábios insanos
Cansados
Avermelhados
Clamam minha boca
Silenciosa
Entre suspiros
Gemidos
A noite quando nos vemos
Pegamos
Roçamos
Escondidos na madrugada
Nossa troca de mensagens
Privadas
Maliciosas
Te peço amor
Não tenho
Peço prazer
Recebo
Te dou prazer
Você goza
E geme
Pede meu corpo
De novo
E de novo
E amanhã não
Depois é sempre
E quando se vê você volta
Porque é mais fácil
Porque gosta de partir
Se perde no passado que não larga
Cascudo
Diaxo
Não me deixa entrar
Eu insisto
Porque gosto
Porque amo sem amar aquilo que me falta quando não sobra
Delírios
Uma droga
Meu ecstasy 
Me alucina
No meu peito que treme e a música não para
Meus pés não cessam
Eu levanto e danço essa dança esquisita
Sozinha
Converso contigo
Você não está lá
Mas responde
E some como sempre
Porque é covarde
Fecho os olhos e sinto tesão
Amor
Amor não é LSD.

Hudson Vicente.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Se eu não fosse cicatriz


Ah! Se eu pudesse guardar no peito todos os meus amores, esquecer os rancores, não lembrar. Levar os dias mais leves, amenos. E as bagagens, deixar só nas memórias. De um tempo que não fazia sentido. No coração, todos os meus amigos, meus infinitos perdidos por aí... Ah, se eu pudesse voar como um pássaro, nadar como um peixe, ser livre igual. Voar, apenas voar. Esquecer a maldade do mundo, o caos que o mesmo se encontra. Ignorar a hora, aproveitar.
O sol que se foi a pouco, trouxe nostalgia. E periga melancolia durantes meses naquela segunda estupefata de malmequer da rosa retirada da primavera que se foi. A poesia do poeta contemporâneo chega a emocionar, mas ninguém diz. E ele vaga noites atrás das mais tortuosas rimas, tentando compreender o amor que se perdeu na tentativa frustrada de declaração do pipoqueiro da cidade, pela mais bela flor repleta de espinhos.
Viver como nos sonhos mágicos, o azul do céu composto das nuvens feitas de algodão ou algum tom no violão. Quem dera a música tivesse sempre o poder de nos trazer a rima perdida do dia a dia. Enfrentar nossos medos, sem receios do amanhã que ainda nem começou. Nos domingos mansos, repleto de bobagens, talvez eu tivesse coragem para dizer a vida que me escapole entre o anoitecer. 
Ah! Se eu não fosse cicatriz... 
Eu teria todo o amor do mundo.
Hudson Vicente.