quinta-feira, 26 de maio de 2022

Duas linhas tortas


Me desarmei
Duas linhas soltas
Pra você
Me revelar
Costura essa dor aqui
Desilusão
Faz do amor meu ar
O céu subiu do chão
A poeira espalhou o pó
Desejo devagar
Sua língua no suor do meu corpo
Quase morro ao ouvir
Você chamar meu nome
No caminho da manhã
Sua voz me salva
Chega de me adiar
Me guardar pra depois
Eu sou o agora
O que tem pra hoje
Posso ver no seu olhar
Que me apaixonei
E nunca soube antes como te dizer
O que tenho pra falar
Amanheci algumas manhãs sem amor
Sem o toque
Sem pudor
Duas linhas
Nada mais
Me desarmei
Agora
Vem me livrar de sumir
Quando o sol for embora.

Hudson Vicente.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

É sobre como estou me sentindo


Tenho o sonho de me tornar eu mesmo. Todos me olham e sabem que eu parti, me perdi, me desfiz. Faz tanto tempo que eu quase já não morro.

Criatura esquisita, sem porto. Morro de medo de nunca mais me encontrar.
Todas as portas que eu bato, tremo de medo de nunca mais entrar. Todas as vezes que vou embora, vou pra nunca mais voltar.

Eu me perdi, não só nas palavras, não só nos caminhos, não só na vida. Fecho meus olhos e não sei mais o que é sonhar, entro no mar e não nado mais, só afogo. Afundo, não transbordo.

Minhas memórias tão clandestinas sobre a vida, me fazem esconder quem eu realmente me tornei. Dá medo, eu sei.
O espelho grita socorro, queria dizer: por favor, me salvem de novo.

Vivo em círculos que nem sei mesmo como me criei. Intenso ao extremo, saudade de outrora. Diante de mim: o fim.

Clamo aos ventos para me achar, sei nem por onde começar. Vou me desfazendo aos poucos, feito poeira. Uma bagunça do tamanho do céu, me espalho e não voo. Perdi minhas asas, estou clamando por socorro.

Eu me perdi, gente, eu me perdi.
Passarinho, exagerei.
Nas escolhas, nos caminhos, na bebida, na vida, na droga, no sentimento, no carinho, eu exagerei.

Sonho em me tornar eu mesmo.
Mas eu quem?

Hudson Vicente.