quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Que saudade, amado...


Não conseguia, se recusava a chorar, a chuva não molhava, desaguava; sufocava, lenta, sentia preguiça de se refazer.

Ao meio dia, parecia noite, os olhos não enxergavam com clareza, deixava tudo embaçado, era quase confundido com brilho que não iluminava nem uma rua.

A lua que reprimia o sol, escondia o fogo de um verão que ainda não incendiava mas ardia, queimava a pele, aflito, perdi meu amigo.

Perdido, não houve abraços seguros, desencontros sombrios, tanta falta que o outro faz.

Do outro lado quem vai lembrar de nós? Já faz muito tempo que perdi meu amigo. E me sinto sozinho.

Me sinto cada vez mais sozinho. Fiquei o tempo todo esperando alguém dizer que era mentira. Houve silêncio. Ninguém levantou a voz, ninguém ousou sentir coragem para me contrariar.

O verão ainda não chegou. E é tão sombrio olhar daqui. É difícil acreditar que a música vai tocar e eu vou estar rodopiando, errando os passos daquela dança, sozinho na multidão. Eu te imaginei, te condecorei, num lugar tão distante, ainda vejo você de longe, agoniado.

Se encontrar paz, me fala. Se ouvir minha voz, não responde. Se sentir saudade, volta logo. Se for me olhar, abraça apertado. Mas não esquece que a gente ainda vai se encontrar de novo e de novo. E outras vidas talvez sejam suficientes para cicatrizar as nossas dores. Não sei quantas.

Eu continuo aqui por nós. Lembra que o plano era pra gente não se esquecer?

A chuva volta a cair, faz bastante calor, eu sei que você não volta. Ninguém mais volta, meio dia cinza. Uma inteira noite cheia. Duas luas no céu. Estrelas acesas. Ventania. Passou. Desse outro lado, me conta de você?

Acredito que não seja um dia ruim. Lembro sempre de nunca te esquecer, amado, amigo. Que falta... um mundo inteiro de estrelas brilhantes pra você.
Duas linhas parecem riscar o céu.

Desculpa, obrigado e te amo.

Hudson Vicente.