quarta-feira, 12 de maio de 2021

Vivo à flor da pele



Intenso.
Eu queimo.
Exagerado.
Taxado: gosta demais. Ama demais. Reclama demais. Odeia demais. Sente tudo, muito. Não existe meio termo. Ou explodo ou implodo. Já tentou conter o mar? Já tentou não espirrar? Você pode até conseguir por alguns segundos, mas sempre explode.

Sou clinicamente desequilibrado. Incapaz de não errar. Ora louco, ora coração. Nunca tive paciência pro raso, pra deixar qualquer um mergulhar no meu mar. Não curto superfícies nem superficialidades. Tenho vocação de profundeza. Ou vai até o fim comigo ou pode ficar aí, molhando os pés na beirinha, fingindo que o caos não existe.

Caótico, não sei tocar o céu, não sei amar de longe, não sei gostar pouco. Aliás, detesto quem não me instiga, quem não mexe comigo, quem não causa um dano ou um ganho em mim. Minha raiva é tristeza. Eu sinto tudo. Sou mais inferno do que céu. Não mordo, não rosno, mas faço carinho.

Já me joguei em penhascos, já pulei podendo me salvar, sempre me arrebento todo antes do outro. Sempre fico com a parte difícil. Sempre escolho acelerar o coração, isso sempre exige pressa. Estou sempre colidindo, explodindo, na defensiva atacando, esperando mais um fim, inesperado.

Não sei nada de tempestade. Um dia a mais é sempre um a menos. Extenso. Quando abro os braços, faço morada, fica complicado soltar as mãos. Pequenas doses de amor, pra mim é muito. É cognitivo. É colisão. Vivo emergente. Vivo querendo fazer do agora, o pra sempre. Do eu te amo, o eterno. Do abraço, o até o fim. Do beijo, o epílogo.

O grito, incontido, incontestável, terrível. Vivo à flor da pele, carregada de espinhos, não me corto mas sangro. O preço de se atrever é viver. Viver intensamente. Tudo é muito. Muito é demais. Isso não parece pouco.
Perigoso é ignorar meus sentidos.

Hudson Vicente.