quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Primeiro encontro


Primeiro encontro é engraçado. A gente treme, passa perfume a mais, troca o par de meia duas vezes, se olha no espelho cinco vezes, na sétima vez quer se refazer, procura ensaiar o que vai dizer; seria legal contar as derrotas anteriores? Lembra do último encontro. Nossa, foi péssimo. O antes desse até parecia que ia durar... Quase esquece e vai com a roupa amarrotada. Soa um pouco. Amarra o cadarço do tênis. Dá uma conferida no espelho, atira um sorriso, respira fundo e vai.
Mais coragem do que calma. Frio na barriga, as mãos até tremem. Nervoso. Ansiedade. Tum-tum bate mais forte. Tenta se acalmar. Respira fundo, bebe água. Lê mensagens no celular. Guarda o celular. Pega de novo e confere a hora. Será que cheguei cedo demais? Será que não está demorando? Trânsito é sempre um problema.
Chega. Sorriem de nervoso. Quase congela nesse instante. Sorri mais um pouco. Quebra o gelo. Fala da vida. Esquece o texto ensaiado antes de sair. Deixa acontecer naturalmente. Fala da economia, carnaval e cita uma poesia. Gosta, discutem culinária e planejam um cinema. Eu música, tu poesia. Eu samba, tu rock n' roll. Eu passeio no parque, tu trilha ecológica com cachoeira. Caminhos e viagens em alguns minutos. Se olham um pouco e se abraçam. Beija ou não beija? Tímidos, beijam. Se gostam. E agora? Incertezas.
Gostam de museus e teatros, não dispensam barzinho com amigos e sorrisos, discutem até futebol e prêmio nobel literatura. Atura ou surta? É muita coincidência, pensa alto. Sentem receio. Alguns silêncios gritam; outros, mudos.
Sorriem de novo. Se derretem. Olhando nos olhos. Beija mais um pouco. Está tarde. Amanhã acorda cedo? Eu também. Mais uma linha. O último abraço. Mais um selinho. Outro beijo. E mais outro. Já nos despedimos. Inquietude. Silêncio. Vai com Deus. Fique com ele.  Quando chegar, avise. Você também. Pulginha atrás da orelha. Quem manda mensagem primeiro?  Vou dizer oi. Eu também. Claro, cheguei bem. Foi ótimo. Foi um prazer. Está bem, beijo, boa noite. Boa noite, se cuida. Nos falamos depois. Com certeza. Durma bem.
Amanhã será que vão se falar? Acha que vai rolar? O último não rolou. Antes desse até que fluiu bem. Nossa, aquele outro foi péssimo. Ele beija bem. Foi uma noite agradável, para um primeiro encontro, foi melhor do que esperava. E o que esperar do amanhã? Reservo apenas alguns instantes ou vou ajeitando a vida?

Hudson Vicente.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Saí para olhar o mundo




Vamos sair e olhar flores, correr essa estrada sem tempo de olhar para trás. Você sente que seu coração pulsa mais rápido quando eu estou perto, e eu vejo você sorrir e cantar como se a vida fosse um nascer do dia, leve e brilhante.
A gente no ponto mais alto da montanha pensava em voar, o vento passava tão rápido que arrepiava todos os toques na pele. Eu segurei sua mão e te olhei no fundo dos olhos. Fechávamos os olhos e flutuávamos feito penas de asas soltas do pássaro mais bonito da natureza. Era azul e verde para todo lado.
Cantava sem medo de errar a letra, no ponto mais alto da montanha. Cantava sem medo de errar a letra, no ponto mais alto da montanha.
Por segundos a gente sonhava. Quem nos tiraria dali, no ápice do amor? Sem medo do mundo nos abraçamos e sorrimos como se o tempo tivesse parado; a gente aplaudia o sol; o vento soprava como se a vida fosse fácil de ser encarada. Segurando sua mão, ela era.
Ninguém entenderia a paz descoberta naquele instante. Era um encontro de dois mundos em um só planeta. Viraríamos estrelas, quando o céu escurecesse e o sol fosse embora, dando lugar à lua: formosa.
Mil vezes eu eu te abracei, perdi a conta de quantos infinitos daria para construir em frações de segundos. Amor, eu voei.
E partimos dali, repletos de imensidão. Silêncio e vento no rosto. Sentia frio e tremia como um barco velejando em alto mar. A vida também acolhe e nos deixa sonhar.
Voe, voe, voe.
Inspire toda natureza que te cerca. Aprecie a paisagem verde e marrom das montanhas. Lá na cidade grande ninguém vai te notar e nem te fazer infinito como fomos.
Te trouxe flores e poesia. Não as tire do seu caminho. Quando for embora, pra não mais voltar, não esquece de mim. Aqui dentro também é seu lugar. Te guardo nesse cantinho bonito, feito essa paisagem que é só nossa. Vamos encarar, a vida ficou mais leve e feliz. Meu sorriso foi tão aberto contigo, quando saí para olhar o mundo. No meu caminho eu escrevi AMOR, igual tatuagem na pele. Nós também temos um ao outro.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O mundo precisa se abraçar mais


Você apareceu, sorriso aberto, olhos esbugalhados. Parecia que me conhecia de anos. A música não era mais alta que o barulho do teu peito. Sentia que havia sentimentos.
Era impossível não te amar, você disse; eu disse de volta, é impossível não te amar. Assim seguimos voando feito balão azul rodopiando num céu fragil e sutil. Sonhei de olhos bem abertos pra não te perder de vista. A bala batia mais forte, tua melhor lembrança, é meu coração acelerado.
Fica mais um pouco. Fica até quando puder. Tem gente que é verão, até mesmo em noites de inverno. A gente juntou cada parte que se partiu. E dois mundos se encontraram.
O mundo precisa se abraçar mais. O abraço é a melhor parte do amor.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

A gente se acha


Triste é querer beijar e não poder. É estar perto e não abraçar, não conseguir alcançar. Te sentir de longe e ficar aqui, preso sem gritar. A gente sempre espera do outro um pouco mais de paciência e compreensão. Depois de tanta solidão, depois de tanto se entregar, cansa se doar. A gente percebe que ninguém veio com manual de instruções. É difícil pra caramba repor peças dentro da gente, reconstruir, desmontar... vai ter coisa que vamos bater cabeça e não vai encaixar. Muitos vão deixar pra lá. Eu não. Eu vou fazer questão. Por mais que me doa. E dói. Pode escrever aí no seu caderninho de anotações: eu não nasci pra ser covarde. Se é para amar, eu vou amar. Se é pra ficar longe de você, eu não vou embora agora. Vou ficar mais um pouquinho aqui e vou tentar. Não por ninguém, mas por mim. Quero vê olhos brilhando, sorrindo. Quero assistir a milhares de pôr-do-sol da janela do quarto que dá de frente pro mar. Tem cena mais bonita? Quero vê gente que se gosta sorrir à toa. Escutar e não me aborrecer com o barulho do caos lá fora, da buzina do carro, sol caótico sem hora para ir embora. Quero assistir crianças correndo na calçada, apertando a campainha do vizinho mal humorado e se escondendo. Se ele te visse como eu te vejo, talvez os seus dias seriam mais amenos.
É uma delícia te ver. É um prazer poder sorrir com você. Teu nome eu já escrevi depressa e devagar. Eu já gritei e sussurei diversas vezes no meu sonho. Como eu sei? Só eu sei. No raiar do dia, toda mensagem que recebo penso que é sua. É uma agonia passar o dia sem poder te tocar. As horas sempre demoram a passar. Tudo passa, menos você.
É triste ficar longe, querendo estar perto. É pior ainda, se a gente não tentar, se a gente não caminhar, dia após dia. Vamos encarar? Não é fácil, senão der certo a gente se vira. E se acha...

Hudson Vicente.