sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Dentro de mim, me excedo


Outra vez escurece. Não faz frio lá fora. O céu é um azul escuro lindo, quase preto. Último "setembro" do ano. Vento sopra miúdo. Quem desconfia? A cadeira na varanda balança sozinha. Venho escrevendo para me salvar. De mim mesmo. Ou me encontrar. Se estou perdido, quem me protege do mundo? Fixo meus olhos no nada. O infinito? Rio, imaturo. Tem sempre algo bonito.
Passarinho que ainda não aprendeu a pousar. Frequento bares, boates, caio na gandaia, me enfio em becos turvos, troco passos com o perigo. O caos te apavora, malandro, tem Zé em qualquer esquina! Às vezes é porre, outrora é ressaca. Minha flor de pétala doce, teu cigarro na mão direita, o copo na esquerda, gira e encanta a roda. Sorri. Quase grita. Espanta. Já amei. Cai. Passei vergonha. Vomitei nomes entre soluços engasgados. Me conformei. Auroras tinham gosto de saudade. Vontade de voltar. Ela não deixa. Sigo. Me faço de grande. Quem é ela?, todos perguntam. Sorrio. É a vida. Teus olhos. Tem olhos que me encaram como se eu fosse uma droga ilícita que queria usar. Às vezes aceito e me doo. Por tão pouco que é quase nada. Não tira a música de mim. Aquela repetida que te trai no aleatório e você não pula pela emoção que me causa. Mas eu não sou importante quando a noite chega e você procura diversão em outros copos, corpos, olhares que dissimulam malícia.
Só sou importante quando dou prazer. Tesão não importa. Eu te excito até de olhos fechados. Sou eu? Minha rosa? E isso também não chega a ser importante.
Primavera. Trago comigo tanto desejo dentro de mim, que me excedo. Não caibo. Transbordo. Me trato. Me perco. Te ligo. Você atende. Faz charme. Me deseja. E me tem. Eu tolo, me entrego. Me despedaço. Com um copo cheio de bebida na mão.
Sinto de fato algo tão grande que não dá para ser recitado em mais algum verso aqui embaixo.
Seus olhos são lindos quando sua boca sorri para mim.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Vai ficar tudo bem


Seu rosto triste, parece sentir saudade de casa.
Seus olhos não mentem, o agora, enorme vazio que sente.
Solidão camuflada pesa sobre seus pequenos ombros.
Quer colo pra descansar, chorar, explodir, mas sua tímida voz, não pede.
Não por orgulho, e sim por achar que vai incomodar.
Não vai.
Cola sua tristeza sobre mim, não vai doer.
Desagarra do que te puxa pra baixo, faça como os pássaros e voa.
Desapegar da tristeza é dar boas vindas ao prazer dos sorrisos sinceros.
E eu espero que ajude, que tudo passe, que você melhore.
Pois como você, eu também me sinto assim.
A gente precisa acreditar, porque vai passar!
Você não está sozinho.
Eu estou aqui por você.
Vai ficar tudo bem.
Amo você!

Hudson Vicente.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Poesia me dá asas


Tem quem não goste de pedra. Eu tropeço em pedras. Às vezes encontro flor. Flores. No meu caminho. Sorrio. Feito pipa avoada no céu. Vento passa e acaricia o rosto. Me sinto menino. O mundo briga comigo e me pede para ser adulto. Maduro. Quero correr descalço, reaprender a andar de bicicleta. Desaprendi. Perdi o equilíbrio. Dá um trabalhão danado. Às vezes nem posso chorar. Ou não tenho tempo, ou vão dizer que não tenho motivo. Sinto saudade de deitar no chão do meu quintal e olhar pro céu, imaginar desenhos nas nuvens. Era uma grande diversão. Se faço isso hoje, me olham estranho, chamam de maluco. Parece que ser adulto é perder privilégios, ao invés de ganhar. Deixa eu sentar aqui e te fazer rir, contar histórias, segurar sua mão. Vou te contar uma piada meio boba, quase inocente. Não está com tempo, não é?! Meu sonho é virar pássaro. Morar no céu. Azul. Lindo. Explorar minhas asas. Deixar de me importar.
Vou deixar que me olhem torto, me achem bobo, me chamem de louco. Mas peço pro universo que jamais deixe morrer essa minha criança que implora pra eu não crescer. A vida me cobra maturidade, meu menino me cobra sorrisos e bobagens. Eu preciso de fantasia, carnaval não se pula sem serpentina. Me deixa bancar o Pierrot, ser só amigo da Colombina, eles não são um par. Por que vilanizar Arlequim? A vida fica mais gostosa quando a gente aprende a sorrir. O sol fica me chamando pra gandaia. Deixa eu aplaudir esse fim de tarde, antes que eu me esqueça. Deixa tocar Los Hermanos bem alto. Eu vou aprender a ser um vencedor, vou levando a vida devagar. Eu gosto de flor. Tantas pedras no caminho devem querer dizer alguma coisa ou me levar a algum lugar. Seguindo em frente, eu olho o mar. Vou aprendendo a navegar. Deixa partir. Deixa voar. Vou abrir minhas asas, orientar meu voo. Quem sabe assim não me deixam ser quem sou.
Não sou homem. Não sou mulher. Eu sou um menino. Sou um evento. Como vento, às vezes, viro furacão. Faz parte do show.

Hudson Vicente.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Encontros casuais


tem gente que vem pra acrescentar a gente
e você veio
sorriso aberto
aperto de mãos
abraço apertado
"eu tô contigo e não abro"
força pra seguir a viagem
- perguntou:
vamos encarar o mundo juntos?

sorri
respondi que sim
obrigado.

parecia pouco
mas era muito.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Segunda feira


Quando me perguntam o que eu quero da vida, demoro sempre a responder, rio (de desespero), enrolo, penso mais um pouco, ensaio uma frase de efeito ou algum clichê cotidiano do tipo deixo a vida me levar.
Tenho receio de não convencer. O que você quer da vida quando você só tem 21 anos? Grito por paz, amor e liberdade. Uns amigos legais, um emprego bacana e alguém pra fazer carinho e amor no final do dia. Mas a resposta muda se me perguntam isso em um final de semana quando o que eu mais quero é curtição e viver tudo que não vivi. É sempre um caminho perigoso. Como agora. Em uma segunda feira, onde eu tenho mais medos do que coragens.
Então você pode me perguntar do que eu tenho medo. Vou te responder: descobrir o sentido da vida e entender essa merda toda, vou dizer baixinho que tenho medo de rato, da morte, do meu time perder (mais) uma final para o maior rival, perder meus pais, envelhecer, casar, engravidar uma mulher; tenho medo do Temer, medo de religião e todo esse mal que fazem para justificar a falta de amor; tenho medo também das segundas feiras, ler Paulo Coelho, brigar por diva pop e ser considerado fã da Beyoncé; medo das promessas de eternidade e assistir filme de terror legendado. Entre alguns outros que já não vale a pena ser citado.
Eu entendo, sempre fujo quando me perguntam o que eu quero da vida. Eu quero tudo, quero o mundo e não esperar nada da vida nem de ninguém. Inevitável. Nessa roda gigante, entendi o que a vida quer de mim: coragem. Estou só de passagem, nesse jogo de brincar de viver, vou aprendendo, vou errando, vou acertando. Sou aprendiz porque 'a estrada vai além do que se vê'.

Hudson Vicente.