segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Não haviam borboletas no estômago



tentei
inúmeras vezes ser paraíso
sorriso forte, igual mar aberto
florescia em dias de sol
irradiava liberdade
construía caminhos para serem percorridos lado a lado

fui proibido tantas vezes de demonstrar afeto por quem me afetou
guardei cada gesto de carinho numa nuvenzinha lá no céu
a lua, a noite, fazia o meu papel
dançava sozinha em sua imensidão estelar
às vezes chorava e não tinha ninguém pra acalmar
era tão distante
eu aqui e ela lá
não podia abraçar

por aqui seguia o incômodo
às vezes umas borboletas no estômago
isso foi só depois do beijo
não haviam nem pássaros, nem flores
senti temores, coração inquieto
ansiando chegadas, torcendo pelo fim das partidas
ao universo grito em voz baixa
desamarra
desamarra
deixa o amor florir em nós?

Hudson Vicente.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Deixa voar



Desculpe se a porta bateu.
Se o sorriso atirado foi forçado.
Se o abraço foi frio.
Se as mãos não se encontraram.
Se o silêncio foi mais alto que os batimentos do peito.
Se já não te olhei com carinho.
A música já não era mais a mesma.
Se nem mesmo o amor resistiu depois de tudo.
Tem hora que a estrada fica escura, os caminhos mudam e a gente perde o brilho estranho no olhar.
O céu continua o mesmo.
Menos nós.
Já não trocamos mais a energia necessária um para o outro.
Mudamos de disco, autores favoritos, número de endereço e o amanhecer.
Contudo, peço, não se zangue.
Não deu errado, não foi tempo perdido.
Deu certo, deu tão certo que hoje mudou.
Cada um fica com suas escolhas, caminhos e entardecer.
Cada um pode escolher seu próprio filme, sem ficar sem graça em dizer para o outro que não quer assistir; vai poder escolher se põe sal na pipoca ou não; vai poder decidir se quer assistir séries ou novela, e ainda terá o silêncio tranquilo de quando um dos times perder um clássico para o outro.
Agora vou poder escrever sobre minha solidão e as pessoas vão me entender, pois não precisarei escrever uma história feliz de dois mundos que no fundo era cada um por si. Não precisarei fingir que uso alguém para amar.
Era tão cruel e vazio.
Todo poeta precisa de uma musa, de uma dor.
Olhei para as flores que te dei e desejei felicidade.
Elas representam tudo aquilo que eu mais desejei: a liberdade.
Deixa voar, deixa voar, deixa voar.
As lágrimas que agora escorrem, acalentam minha face.
As palavras são o grande sentido da minha vida.
Vivi precisando de carinho.
Não me satisfiz com nenhum relacionamento, não por culpa dos meus semelhantes, mas por necessidade delas.
As palavras me afagam.
Nos deixem a sós.
Preciso me encontrar.

Hudson Vicente.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Linha reta ou zig zag?



respeita minhas estrada velhas,
meus caminhos esburacados,
os joelhos ralados, as dúvidas
nas minhas certezas, os breves
abraços, os esboços de felicidade,
minhas cicatrizes.

não tem sido fácil até aqui.
corri quando era para caminhar,
caminhei ao me perder, 
enlouqueci quando deveria acelerar.
parei para pedir informação, ajuda
o que fosse, mas na estrada não
passava ninguém.

amanheci sem norte.
consegui até um oásis vez ou outra.
esbocei liberdade mas não me entenderam,
transformei em solidão e riram
feito besta da minha cara de palhaço.
me puseram um sorriso no rosto
e pediram para que eu continuasse.

eu era fraco. nunca fui forte, cai.
não foram duas ou quatro vezes.
o abismo não era tão imenso.
me joguei em outra ilusão:
vi rostos risonhos, acenei para os frios,
acalmei os exaltados, não me segurei
quando passei os olhos nos perversos.

quase me encantei.
quase me iludi.
quase fui feliz.
quase mergulhei quando
deveria voar.
quase fui livre.
meu erro?
fui quase.
e agora o que restou de mim?

uma longa e intensa página
sem informações verídicas...
não me julgue.
ainda não terminei o percurso.
acelero e ando.
vai que lá no final do infinito
tenha um outro amanhecer
tão bonito... ou menos sofrido!

Hudson Vicente.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Grita pro mundo



Rasga esse papel de amor de novela.
Esses sonhos de romance igual contos de fadas.
Larga dessa história de final feliz.
Felizes para sempre é o fim.
Cansa.
Esgota.

Amor é versões.
É verbo conjugado no infinitivo tentando ser infinito mesmo nas suas finitudes.
É o dia a dia arrastado.
Todo fim de tarde na volta do trabalho, cansado, dentro do transporte esperando chegar em casa para se jogar na cama e descansar.
Olhar para o lado e não ter solidão.
Encontrar afago.
Peito cansado e ainda assim sentir vontade de abraçar depois do desentendimento, das palavras amargas, do olhar rude, minucioso...
Não é fácil o amar.
Acordar às 6 horas numa manhã de segunda feira e desejar bom dia.
Rotina.
Cotidiano.
Meses.
Anos.
E assim mesmo sorrir.
Sem motivo.
Encontrar um que seja para fazer alguém feliz e buscar não ser infeliz.
Ter paciência.
Aguentar mau humor.
Crise de existência.
Lágrimas.
Tocar o outro com jeito.
Aceitar os defeitos e qualidades.
Por fim olhar no fundo dos olhos, demonstrar o quanto é importante.
Abraçar.
É... o amor é raro.
Grita pro mundo.
Tem gente que precisa ouvir.
Sentir.
Amar.
Soltar.
Voar.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

(In)versos



Já fui puta, a mais rodada da via expressa.
Já fui príncipe, também já beijei vários sapos.
Já fui poeta, recitei Drummond. Já fui não. Sou.
Ou me faço. Me faço de poeta para aguentar a vida
(em versos?).
Já fui abraço quando nunca tive afago.
Já fui sorriso em uma segunda-feira as 7 horas da manhã.
Já fui tesão antes mesmo de tirar a roupa.
Já brochei quando tentei ser romântico.
Já me vendi barato para quem não sabia o que era preço.
Já desprezei o amor por uns corpos frios na balada.
Já me embriaguei antes mesmo de aprender a tragar.
Já voei por medo de partir.
Já fui poesia sem abraçar o caos.
Já fui caos nos natais da família.
Já dancei com todos os meus demônios internos.
Já fui, já voltei, depois parti e me perdi.
Ontem fui amor.
Hoje sou saudade.

Hudson Vicente.