domingo, 29 de dezembro de 2019

Sutil igual batida de trem

As luzes se apagaram às nove da noite.
Não era um homem rico nem tão bonito.
Sorria comum como se o mundo tivesse dado certo.
Seus planos era viver só até os sessenta.
As contas nunca batiam.
Perdeu o último horário do ônibus.
Saturado, a vida ainda o prendia aqui.
Como pode alguém tão jovem parecer velho?
Dentro dele já não existia mais fim.
Lembrou das suas vitórias e se prendeu a elas como se fossem a coisa mais importante a ter partido.
No mais sublime ato de sua vida, partiu.
Sem medo, agora virou estrela.
De repente o céu ficou decadente.
A Terra não era um bom lugar.
À ele, o amor nunca alcançou.
Que triste.
Pai, vai poder dormir até mais tarde.

Hudson Vicente.

sábado, 21 de dezembro de 2019

Feliz contigo por perto



tu vestiu teu melhor sorriso
não foi em vão
meu peito tua casa
parecia uma canção
preparei a saudade
esqueci da solidão
olhei pro céu, tranquilo
feliz, espalhei o perfume da Rosa
colorindo esperando o sol chegar
nem sei que horas são 
as nuvens encobriram o céu 
tantas estrelas parecia Verão
nem deu tempo de pensar
se era dia ou se era noite
um sarau de poesias sob nosso chão
dancei por três horas em devaneios
me encontro, te pego agora nas minhas memórias
me sinto feliz contigo por perto
teu cheiro de pétala me faz desabrochar
é covardia fechar os olhos e não sonhar
vou confessar:
eu gosto de ti,
pra começar.

Hudson Vicente.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Partiu tão cedo



Parecia que era a última vez.
Ninguém sabia se ele ia voltar.
Ganhou um beijo dela, se despediu da mãe, brincou com a cachorra, deixou um cheiro na vó, olhou pela janela, agora ele sentia que não iria mais voltar.
Saiu de casa pela última vez, no caminho sentiu saudade dela, deu um aperto no coração. Deixou pra trás alguns sonhos, um quarto bagunçado na pequena viela dentro de uma grande favela, deixou pra trás o silêncio de uma nação.
Seu nome era José, mas poderia ter sido João.
Bateram
Bateram tão forte nele
Gritaram
Pediram pra parar
Quando parou
Era tarde
Foi embora
Tão cedo
Não deu tempo
Partiu
Tão breve
Quem viu?
Quem não contou 
Apontou o dedo
É sempre assim
Ninguém faz nada
Todo mundo se esquece
Às vezes riem do mal
Debocham do certo
Tempo não muda
Não notou nada?
José ainda não chegou.
Nem vai voltar.
Aflito, todo mundo chora na dor.
Amanhã nasce Pedro e o mundo vai girar.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

O homem e sua barba escura



feito um balão
voou bem alto
e soltou as mãos
tem medo do abismo
teu penhasco é sonhar
tu caiu de cabeça
não sobrevoou
restou cicatrizes
fim de espetáculo
as cortinas se fecharam
perdeu tempo
e nem se apaixonou
teu céu que desabou em nós.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Confabulei



Eu lembro que te desejei naquela noite, quando nossos olhares se cruzaram, na varanda, em frente à piscina, um aperto de mãos, frio, mal deu tempo de te puxar nas memórias. Era estranho. A gaveta do tempo estava bagunçada. O importante é que não éramos quem fomos. Agora somos nossas melhores versões. Meus pensamentos te atacam durante os dias, não é breve, sinto lonjuras de nós. Receio, por assim dizer. Quebraram o encanto. Não te olho, te vejo. Me enxergo encantado com tudo que vem de você. Tenho meus pés atrás. O histórico ainda é conturbado. Os finais são desgastantes. É preciso tirar toda poeira da estante. Aos olhos do Poeta, você é uma poesia pronta que ele está tentando confabular. Você tem sido abraço, sorriso, conforto, amigo. Estava meio perdido, parece que você chegou e perguntou se queria ajuda pra encontrar. Te achei, me achei. Você não é como o outro dizia que era. Estou me divertindo. Não é nada piegas dizer que o amor é importante. Vou deixar ele mais pra frente. Quem sabe um dia a gente não se encontra por lá? Parece que antecipei o ano novo, pulei as ondinhas e agradeci por ter descoberto aqui. Isso é tão cafona quanto uma carta que havia escrito há uns meses atrás e rasguei. Talvez nem me leve a sério, não faz mal. O passado passou do meu lado no outro dia e eu não senti nada. Aprendi a me levantar sozinho. Admiro os olhos encorajados, que me deixam louco, quando você sorri, pronto, eu me desmonto todo. O vento que soprou naquela noite, ainda me deixa com o frio na barriga em descobrir: quem é você?

Hudson Vicente.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Dois vira-latas numa noite suja



teu fogo é brando
não queima,
explode
como dois corpos juntos
se colidem
em um festival de emoções
se enroscam
à noite
depois vira cada um pro seu lado
e sonha
e ama
de um jeito ou de outro
se encontram
na calada da noite
geme tão alto
que se pode ouvir chamar teu nome
o outro sussurra
e bate no rosto
morde as costas
ofegante
sente latejar
imersos no prazer
gozam
plenos
sujos igual dois vira-latas
guardiões da rua
nu
ele te olhava
enquanto você o chupava
e pedia mais.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Moreno


Vai lá no céu 
Olhar teu tempo
Na hora que a rosa 
Desabrochar

Sentir teu cheiro doce
De perfume amargo
Gosto de morango
Queria tango dançar

Moreno, no céu estrelado
De olhos amedrontados
Escrevi um verso
Te puxei os cabelos
Tão liso

Me pegou pelos dedos
Escapei
E agora, moreno,
Morro de medo de te perder

Tu me dizias que sentias nostalgia
Era teu medo de envelhecer
Sorrias como se nada lá fora mais importasse
Não importava, tu eras o que me faltava

Agora canto pra ver se brota
- "quem espera sempre alcança"?
Errei
Talvez
Sentiste falta de me dizer que eu era bem pior antes de te conhecer?

Moreno, teus olhos me desafiam a parar por aqui
É estranho me declarar assim

Poeta louco
Cansado
Triste
E solitário

Recomecei
Te olhei
Naquele segundo e perguntei:
Tem lugar pra mim, aqui?

Do nada, teu peito começou a florir
Saí pra olhar o céu e nunca mais quis deixar de sonhar
Nosso tempo é agora

Certinho eu não sou, moreno, que lindo, sabe orientar voo?
Voe, Hudson, 
Voe, Poeta,
Voe com amor.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Envelheci com as velhas novidades


Novembro, o ano não me lembro. Pode ter sido o passado ou até esse mesmo. Agora pouco importa. Acordei nauseado, a cabeça pesava mais do que qualquer palavra, desejando não ter contato físico. Desejava ficar ali, antes do despertador tocar e fazer aquele estrago; já era tarde, um pouco atrasado, bati o portão da avenida, respirei fundo e quase solucei, por fim aceitei. É hora de encarar mais um dia de transporte público lotado. Na música pulei o Djavan, o aleatório me causava ansiedade, Chico me deprimiria, aceitei o Caetano e me apeguei entre memórias e longas conferidas nas horas que insistiam em acelerar o ponteiro do relógio, capengado, cujo mal completavam as voltas sem me irritar.
A sirene na estação anunciava a chegada do trem, Gramacho, lotado. Olhares camuflados, óculos escuros para esconder olheiras, tristezas, frustrações. Por um segundo, inesperado quis que tudo acabasse ali, no espaço entre o vão e a plataforma. Uma loucura. Entrei, impressado, mal conseguia me notar, não respirei, ambulante passando aos berros, histérico "água um real halls um real trident um real mm é dois" não respirava.
Próxima estação. Porta se abre. Empurra mais, se espreme mais, "dá licença, vai descer na próxima?", não.
Olhei pro lado, na esperança de nunca encontrar o amor da minha vida ali, naquela situação; olhei pro outro na esperança de nunca mais ter que passar por isso. Me perdi no meio do caminho. Cruzei meu olhar com o dele. Era fatal. Um pouco mais velho, olhos castanhos, penetrantes, pele morena, bem cuidada, lábios corados; aposto que estava no auge dos seus trinta e sete. Hipnotizei. O barulho em volta cessou. Foi como o país inteiro parar pra assistir a final da copa do mundo, isso em 2002, eu tinha menos de dezesseis.
O caos já não existia. Era eu e ele. Nos olhos dele, refletia fogo; transamos ali mesmo através dele, casamos e fomos embora. Seu cheiro era bom, infestava todo o vagão. O feminino, esvaziava e vinha para nos observar. Desconcentrei apenas uns segundos para olhar em volta e ninguém nos reparava. Essa cena era só minha. Ele já era meu. Nunca dissemos uma só palavra. O silêncio era uma velha gaga em crise de ansiedade. Tentei esboçar um sorriso enquanto me comia... pelos olhos.
Eu era vulgar, te devorava, já tinha tirado sua roupa e contemplava meus olhos no seu corpo todo. Sentia seus músculos crescerem, o que me arrepiava até a alma. Ela dançava feliz. Sem querer, era minha paisagem favorita. Passaria a vida parado naquela cena. Teu toque singelo, quase me fazia gozar. Gemeria tão alto que todos entenderiam de onde partira.
Próxima estação, já começava a me sentir aflito. Suei e passei a mão no rosto com receio de estar todo molhado (não que dentro das calças não estivesse). Me agonizava a sua precoce partida. Apenas naquele breve espaço de tempo, não fazia nem quinze minutos que nos olhamos, transamos, casamos, tivemos nossa grande briga e nos reconciliamos para decidir os nomes dos nossos filhos. Ele queria Miguel, eu me sentia indeciso.
Disse eu te amo sem nem saber seu nome, sem nem conhecer seus amigos, sem nunca tê-lo tocado. Disse eu te amo antes mesmo dele descer na próxima estação e não ter tido tempo de se tornar o grande amor da minha vida. Foi inesquecível a maneira que ele desceu, passou por mim, esperou a porta se fechar e eu segui no trem com destino... também não sei mais, me perdi. Desci na estação seguinte a ele, já estava atrasado ao meu compromisso diário. Sentei no banco da estação de São Cristóvão e fiquei cerca de vinte minutos parado, inaudível, atônito com aqueles olhos. Feliz foi ele por ter descido antes de entrar de fato na minha vida.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Poeta, Deus é teu


Se és um dos meus
Oh poeta! Por que não me escreves sem pressa?
Que fúria solene é essa que te toma
e tanto me afeta?
Revolucionário, parece um soneto de Augusto dos Anjos
Se atira no mar
Apaga o cigarro
Esquece a luz do quarto
Acende meus desejos
Me excita com um olhar lançado sem receio
Inteiro, me encontro aos pedaços
Jogado na cama, alucinado de prazer
Tua boca me devorava como um cortejo à noite mais suja da vida
Esqueci dos versos de Alexandria
Incitava minha ansiedade
Serena a noite já pedia passagem
Vinicius me mataria, não entendo nada de poesia parnasiana
Confundo estrofes, perco as contas dos versos, separo a sua vida da minha, ligo os pontos errados
À vida, renuncio, antes de publicar mais essa linha:
Oh, poeta, querido, me despeço, eternizo-te como um simples verso, cruel-ateu. Deus existe, é como o amor. E você nem vê.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Nunca mais vou esquecer aqueles olhos


Podiam deixar a gente existir de vez em quando.
Sem você aqui eu fico triste.
Você sempre vai ter a mim.
Não vai embora agora, não quero te esquecer.
Em que parte a gente está?
É um longo caminho.
Deixa, você vai me esquecer.
E se eu morrer antes de você?
Vou te eternizar em cada pequeno olhar, nos intermináveis suspiros, intensos; nos teus lábios tocados pela minha boca e acariciados pelos meus dedos.
Queria que a gente fechasse os olhos juntos.
Mas alguém tem que ficar pra escrever essa história, a nossa história.
Vai me desbancar e bancar o poeta?
Nunca vou me perdoar se te esquecer.
Outros virão, é verdade.
Tudo é eterno em sua fração de emoção. Te quero agora. Você não entende, se você for, eu vou também mesmo que o corpo permaneça. Minha alma vai descansar junto.
Tenho medo por você. Promete que não vai se perder?
Chega de falar de despedida. Vamos aproveitar esse dia nascendo lá fora, essa vida toda em chamas. Não se apague, estrelinha.
Desculpe, eu sinto que vou partir.
Todo mundo vai.
Fecha os olhos e sorria.
Vida. Vida. Vida. Metáfora nenhuma vai explicar.
E agora?
Reza e fecha os olhos. Faz um pedido, pede por nós, não seja mesquinho.
É o que mais converso com Deus e esse universo todo se expandindo em torno de nós.
Tu é meu pequeno Grande Planeta. Você sorri e ilumina minha galáxia de sonhos inteira.
Te amo.
Silêncio.
Nunca mais vou esquecer aqueles olhos. Eles me destruíram. Eu saí de mim.
Todo poeta hipnotiza quando olha o mar.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Dentro de você, na rua ao lado.

No meu silêncio profundo, já não sinto mais medo do mundo, queria Deus não sentisse tudo, olho meus retalhos, me perco, me deixo ali, no canto. Meu pranto hoje é saudade. Do que fui, do que poderia ter sido e deixei de ser. Não que agora esteja arrependido. Tenho tudo, menos tempo pra morrer.
Que Deus não me veja mais nessa incerteza de viver no amanhecer, eu nem sei em que parte estou. O que me resta é solidão pra dar e vender. Quem comprará?
Deixa eu fazer um único pedido nessa noite sem sentido? Me beija agora, tira minha roupa, não me deixa agonizar sem antes gozar. Cola teu corpo nu, aqui junto do meu, pela última vez antes de partir. Não, eu não vou morrer mas preciso partir.
Meu fim? Me declarei igual um narciso, sonhador, nem era amor. Teu sexo meu alucionou, me entorpeceu, no ápice do gozo, você insistia que era amor. Só ri. Despudorado nem senti quando você saiu de mim. Era fácil chegar à glória.
Parece tarde pra sermos qualquer coisa além de nada. Minha profundidade te assusta? Sem tempo pra gente rasa. Coisa estranha eu sinto, meu coração tem batido menos, está cansado, pobre coitado. Seria agora meu fim? Antes fosse, que Deus deixasse eu ir, sem fazer alarde. Sempre caio em tentação, entre o bem o mal, vou além.
Ainda não se cansou de me procurar em lugares que eu nunca nem estive?

Hudson Vicente.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A miserável noite dos que morrem de amor

No centro do caos há uma festa de um mundo novo. Respiro fundo. Renasço de novo. O amor deixei pra lá, parecia pouco. E era muito. Tão louco, sóbrio, decadente. Não era estrela. De repente, virou gente.
Pequeno como um toco, partiu pro lado escuro, oculto, se perdeu, tão novo.
Parece que é feito de partidas. E nunca vence. Só perde. Está no seu fracasso, o DNA dos que não chegam lá.
Na noite, esbórnia, mistura de tudo, álcool e pó branco, se sente desejado e vazio. Amanhece e não tem ninguém. Só uma caixinha de som desconectada, perdendo bateria.
Se eu te olhar agora, eu me deprimo. Prefiro fechar os olhos. E te esquecer. Me pergunta se conseguiremos perdoar um aos olhos do outro? Sei lá, sei não. Não quero descobrir. Infinito é o mar e o céu.
O seu caiu? Parece que não. Pensei que seria um herói, pegou o pior papel de vilão. Eles diziam pra mim que tu partirias meu coração. Eu deixei. Te dei as mãos e não soltei.
O mundo parece sem graça, sem vida, sem cor. Sou um retrato preto e branco do século passado. Morri de novo. Covarde, os que tentaram me arrasar, enquanto estava caído no chão. Vento soprou, me recompus, enchi um balão para flutuar.
Era canto, era pranto, era grito, era amor. Não é mais? Silêncio. Cadê tua voz? A festa acabou. A droga acabou. A bebida acabou. Parece que tudo acabou. Até amizade.
E se eu fechar os olhos antes de você?...

Hudson Vicente.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Se respeite

Prometia muito. E no final do teu arco-íris, não tinha nada. Palhaço, pintou meu nariz. Caminhei, sozinho, na esperança de te encontrar lá. Esperei demais de quem não tinha nada a me dar. Amor e carinho até uma puta da via expressa pode te oferecer. Você foi além. Foi gentil, ofereceu companhia, cumplicidade, quase empatia. Sorrimos juntos pela vida. Mas era só uma fotografia que eu tirei às pressas buscando uma eternidade no breve espaço de um momento terno. Você foi covarde. Mea culpa. Preciso me desculpar. Não consigo olhar no espelho e me perdoar. Você quebrou. Pedi, quase implorei que juntasse meu pedaços, como um vento, me espalhou. Estou me remontando, me retalhando por conta de um amor bosta. Não era amor. Era tesão. Fogo no cu, nos olhos, no pau. Passa. Não adianta dizer nos meus ouvidos enquanto gemia que me amava, que seu passado te destruiu. Você fez o mesmo comigo. Se acalme. Mea culpa. Minha culpa. Eu me permiti.
Te pintei como um anjo, qualquer quadro valioso de Michelangelo. Quando na verdade é só uma fotografia trêmula, borrada, uma selfie tirada às pressas, com pressa de eternidade.
Sinto muito por você. Senti tudo por você. Até amor. Ele dúvida? Porcos sabem reconhecer pérolas? Te aceno de longe, foi um desprazer muito grande. Caí das nuvens. Me arrebentei todinho. O coração, tadinho, desalinho.
No sonho mágico, parecia unicórnio, mas era só um burro cansado.
O sentimento não são como nos livros de poesias que li na adolescência. A estante de romance está cheia de poeira. Não vou limpar. Vou arquivar como experiência.
Sou intenso, não tem como deixar de dizer. Não te culpo pelos meus dias tristes. Minha ansiedade generalizada hoje sente um alento. É clichêzão dizer que dias melhores virão quando se estar na merda. Semana passada me senti pior do que o cocô do cavalo do bandido, é engraçada essa expressão. Eu quis morrer por não ser suficiente por alguém que não é suficiente para mim. Que escárnio. A vida vai rindo de mim.
Sua solidão é falta de terapia.
Terapia, centro espírita, igreja, balada, teatro, já tentei de um tudo, não me encontro. Me perdi em outro ponto. Sinto vontade de gritar. É tarde da noite, vou me controlar. É o décimo primeiro chocolate que como, não me satisfaz, isso é mea culpa. Não sinto saudade.
Amei, amei, amei.
Sofri. Encarei. Me destruí por alguém tão oco. Me chama louco, essa rima pobre é pra me afagar, pra me encarar diante do espelho de novo.
Se respeite. É cansaço. É decepção.
Você é bem pior do que parece.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Epílogo

A gente vira adulto e não cresce.
Não dá mais pra voltar. Não tem mais colo de pra deitar, carinho na cabeça lá pelas quatro da tarde, quando o chegava da padaria, ofegante, tirava as sandálias e nas mãos trazia os pães fresquinhos pra comer e tomar café. Meu avô era legal, às vezes era chato, ria bastante das pegadinhas da tv, minha vó era um doce, fazia cocada e sacolé, tinha mão boa pra afagar. Vou sentir saudade disso tudo. Das minhas birras intermináveis, do forró do vizinho do lado, do canto da cigarra às cinco e quarenta e seis da tarde, na árvore de trás do quintal. De subir no telhado e pegar a bola, aproveitar e roubar manga que caiu da árvore.
Olhei pros meus tios e primos e não os reconheci, mas nada mudou, eles também não cresceram. Será que eu vou ser assim também? Esquisito...
Meu pai parece que já foi embora, minha outra mãe do meu pai, ainda sorri bonito feito uma índia, elegante, inspiradora. Jamais vou esquecer teu choro, Iara, tinha nome de sereia, era da mata. Queria abraçar todos de novo como nunca mais abracei, queria perdoá-los e me desculpar, eu nunca soube quem eu era. Agora parece tarde, adulto sente tudo. Muita solidão e poucas alegrias. Crescer é triste. Por isso ninguém nos contava quando criança. Não tem brilho nos olhos.
Minha irmã, meu orgulho, a maior de todas, a favorita deles, acrescentou, trouxe mais um príncipe, tão pequenino, vai ser mais feliz que eu. Minha mãe bateria na minha boca e enxugaria minhas lágrimas, quando dissesse isso. Aquele menino vai ser muito melhor que eu, eu fraquejei. Ele não vai. Um dia vou poder dizer que tentei.
Eu nunca quis morrer antes. Talvez nem agora. Mas nada faz mais sentido. O que estou fazendo aqui? Aos pouquinhos o menino está indo embora. Eu já morri. Não tenho mais o que sentir. Só sinto saudades. De tudo. Do que eu não fui e poderia ter sido. O menino está cansado. Não estava preparado pra essa vida tão cedo. Sem estruturas. Não quero culpar ninguém. O fracasso pode chegar para todo mundo. Até um grande poeta voo. Aos meus amores, sinto muito, minhas asas quebraram, vazio enorme, sem amor.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Abraça Sol o que te faz feliz

lá vai menino
risonho
feliz
abrindo os braços
sorrindo
franzino o nariz
quase fecha os olhos
de tanto brilho
coração palpita
inquieto
de longe dá pra te ouvir
chegar e voltar
é tanta luz
nesses passos firmes
igual rocha
procurando a lua
no meio da rua
noite a fora
mundo a dentro
vai bailando e brincando
girando a vida
colorindo o dia
de cores desconhecidas
azul-amarelo-verde-vermelho
vai trazendo aurora
quando o tempo parar de voar
vem
menino risonho
abraça "SOL" o que te faz feliz
pode ser eu.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Nossos laços viraram nós

Decidi que não te amo mais.
Não gosto da cor das estampas das suas cuecas. Do seu mau humor antes de dormir, você não sabe se despedir. Não gosto também do barulho do seu ronco, até tolerava suas olheiras e canções matinais. Detestava a roupa que você vestia amassada para ir trabalhar, sua falta de paciência em desejar bom dia e fazer um carinho quando estava frio.
Eu me importava com você mais do que seus próprios amigos no final do dia. Você passava horas com eles ao telefone e cochichava coisas para me irritar. Quando eu pedia um abraço, era frio. Quando eu pedia um conselho, vinha um esporro. Quando queria contar meu dia, minhas alegrias, fazia pouco caso. Realmente, não dá pra te amar sozinho. Você não sabe receber carinho. Depois não reclame de solidão.
Seja livre para ser feliz como quiser.
Você diz que me ama, mas seu amor é pesado. Gosto de você, só não te amo mais.
Nossos laços viraram nós.

Hudson Vicente.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Te desafio a ser melhor

Não sou de inventar sorrisos. Se algo não me agrada, fica nítido. Não estou aqui para satisfazer ou suprir às suas expectativas. Nem você, nem ninguém as minhas.
Pouca gente tem coragem de tirar o time de campo quando se está perdendo e a torcida do outro time faz mais barulho que a sua; constrangida, já não restou mais ninguém na arquibancada. Vejam só, essa é uma grande analogia da vida.
Aceito quando perco, me perdi, cruéis, não me devolvem. Problema é meu. Vou te entender, não vou gritar. Minha garganta não tem voz para competir com seu barulho, inquieto. 
Não me camuflei em alguém para ter carinho de ninguém, quem disser o contrário, não me conhece. Perdeu uma parte boa. Não conviveu com as histórias tristes. Escrevo meio confuso agora. É proposital. Do que estou falando?
Queria dizer que morrer não dói. E olha que já morri algumas vezes mas nunca me enterraram. De alguma forma, me traziam de volta, me davam gole de vida e eu me arrastava, meio constrangido.
Já perdi a conta de quantas vezes quis ir embora nesses últimos tempos, olho pro lado e não me deixam. É o sorriso inocente da criança, o olhar marejante dos meus que me comovem, não me permitem partir. Aqui dentro também há uma história que grita que não acaba aqui. Parece que a estrela ainda vai brilhar.
Amo o mar e tudo que nele traz. Até suas tempestades. Descobri que o fogo dos meus olhos são maiores do que o fogo do rabo. E faz tempo que não acendo. Te acenei de longe, é melhor assim. Agora entendo porque nunca deu certo. Sua água me apagava. Eu brilho e explodo longe do mar. Meu fogo não se contém. Vou te explicar, vou te entender, vou me refazer, vou te escrever como a lua que sai de cena no amanhecer e deixa o sol Reinar. Ambos apesar de distantes tem o mesmo céu, se cruzam, se amam, se desejam, mas não dá certo dividirem o mesmo espaço por muito tempo. Com a gente é assim.
Te admiro de longe, me aplaude daí. Como num quadro, a gente fica bem exposto. Há quem veja beleza, há quem fique surpreso, há quem prefira o silêncio,  há quem queira ganhar o mundo. No final disso tudo, cada um entende a força do outro, o carinho, o respeito, o sorriso e o choro. Não vou me desculpar por ter te odiado em alguns instantes, não vai me perdoar por não ter me amado como deveria, acontece. Faz parte da vida. Eu queimo, você apaga. Eu explodo, você mareia. A gente tempestade, nossos caos. E o mundo contra nós.
Observe a compaixão do céu, a empatia da vida conosco e agradeça. Absorve e extrai só o que for bom. Canaliza o que for ruim e transforma em pedra, não vira flor, não faz simpatia. Somos ímpares, par só combina se a gente dançar dois pra lá e dois pra cá. A tragédia de uma bailarina é sofrer e ter que sorrir. Rodopiando. Girando, girando, girando.
Vida é o que a gente disperdiça em cada gole ou em uma batida. Se sua flor secar, eu te juro, rego e floresço junto. Daqui a pouco o vento sopra e muda tudo. Tudo é no seu tempo. Respeite o seu. Respeito o meu. Me entende? Não me explica, estou aprendendo. Menino deixa de lado esses sonhos mágicos. Homem feito também sofre um bocado. Te desafio a ser melhor já que o mundo é cruel.
Termino assim: o que te faz feliz?

Hudson Vicente.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

O menino tempo passa lento

Jurei pro tempo que ia ser passageiro.
Foi lento, o vento passou, bagunçou  teus cabelos.
Fui teu apego, ligeiro, queria ficar.
Coração batia onde não podia habitar.
Fez eco, teu sexo era o que eu almejava naquele instante, sedento.
Saudade era o que sentia de outro tempo.
Beijei teus lábios como da última vez, jurei outra vez que o fim chegaria, traí a mim mesmo.
Teu afeto era como o sol, me iluminava, eu tinha zelo.
Teu "te amo" demorou, mas chegou. O tempo ainda não.
Esperei muito. Sentia você e nem sabia.
Jurei mais uma vez que agora seria diferente. Me enganei.
O menino tempo passa lento.
Rápido, ninguém sabe a falta que o outro faz. Até eu fugiria de você.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Dessa vez eu vou

Nos meus olhos sempre tem um pouco de lágrimas,
quando sorri,
quando boceja,
quando faz bico pra chorar.
Tenho andando meio ansioso,
de vez em quando até tenho tido umas alegrias efusivas,
logo me vão.
Insistem em me olhar triste, sozinho,
não incomodo,
deixo estar.
A vida que me foi dada
às vezes é cara
cara a cara
não tem afago
sinto um aperto estranho no peito
meu tio sorriu e disse que era infarto,
olhei confuso,
antes fosse,
era um problema a menos.
Jurei com todas as palavras que acabou, estou no fim de mim,
inteiro em pedaços.
Parti querendo nunca mais desejar o amor.
Sou fraco, na primeira oportunidade, vou agarrá-lo de novo.
Me cansei desse passado, dessa velha história, desse caos que me transformei por alguém que mal valia a pena ter vivido um só mês.
Aprendi da pior forma que amor nunca é suficiente. Mas aprendi.
Daqui a pouco ainda vou ter lágrimas nos meus olhos quando sorrir e lembrar de tudo.
Por hora, me deixem no meu canto.
Meus prantos, minhas músicas, minha solidão.
Estou no fundo de mim, pra me refazer, pra me esquecer e recomeçar, sem tanto peso, sem tanta roupa na mala, sem gente pesada do meu lado.
Vou suspirar e dizer à vida:
calma, minha amiga, vou me refazer.
Essa ansiedade lateja minha alma e fere meu peito, vai sentir vontade de ser só saudade de quando eu tinha dezoito anos de idade, era idiota e não sabia o que fazer.
Agora eu também não sei.
Escrevo como quem queria ir embora, mas não me deixam porque não é meu fim.
Antes fosse, antes fosse.
Eu sei que não é assim.
Vamos encarar: meus olhos são lindos quando te veem passar e enchem de lágrimas por ter que partir,
eu vou sim,
eu vou sim.
Dessa vez é por mim.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Está tocando minha música favorita

Não me chame agora
está tocando minha música favorita.
Não me puxe agora
estou dançando com o copo e a garrafa na mão.
Quando acabar
você vai embora.
Não vou me lembrar mais de você aqui
querendo atenção.

Meu coração pulsa feliz
já nem sabe que horas são.
Não me encoste
está tocando minha música favorita.
No final você vai embora
e seguiremos nossas vidas
como dois estranhos.

Na luz do amanhecer
ninguém estará comigo na cama.
Minha cabeça vai girar um pouco
eu exagero na bebida.
Dancei sozinho
te vi beijando outro.
Liberei todos os meus demônios.

Por favor
não mande mais mensagens.
Dancei sozinho
com o copo cheio na mão.
Um dia outro cara vai segurá-la
e eu me sentirei seguro no porto.
Não sinta por mim
buscarei ser feliz.

Eles te querem diferente de mim
mas eu vou te esquecer.
Está tocando a minha música favorita
não atrapalhe esse momento.

Vou dançar
vou girar
vou enlouquecer
e vou te esquecer.

Você não é suficiente.
Você não é.
Você não é.

Hudson Vicente.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

A poesia vingará

Agora é sério
Rasguei tantos poemas
Desacreditei nas palavras
Em tudo que saía
Não fazia mais sentido
Teu amor mais parece cocaína
Não cheiro, não chego mais perto
Calei a música, a melodia foi embora
Gritei teu nome pro mundo
Queria trocar de coração
Só por um segundo
Dessa vez senti raiva
Não aguento ouvir teu nome
Vou fracassar em perdoar
Quando a música acabar, por favor, se afasta
Vai ser feliz com outro
Que te ame como amei
Que se doe como me doeu
Não te perdoo
Vou dançar sozinho
Voltar pra casa livre
Afinal de contas, tem gente que não sabe receber o amor que a gente dá
Não fui suficiente
Mas agora vou ser
No meu caos eu aprendi a renascer.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Se te excluí foi pra te proteger

Vi um menino sentado no banco de um parque, era diferente dos outros meninos. Não chutava bola, não fazia pirraça, não corria atrás de outras crianças, não tinha amigos, não se enturmava. Mexiam com ele, não ria. Esbarram nele, se afastava. Tinha medo do toque, de abrir a boca. Uma menina puxou suas mãos para brincar de roda, não aceitou, sem graça. Quando olhava pro céu parecia contar as nuvens, sentia paz, acho que queria ser passarinho, acompanhava cada voo. Perdia de vista um por um. Passarinho esconde seu ninho. Detestava quando arrancavam flores da árvore. Na Terra parecia seu purgatório, queria fugir pro céu, até que ficaria bem entre as nuvens. Teria o céu só pra ele. Que egoísta. Tua liberdade era solidão.
Não parecia ter pai, não parecia ter irmão, não tinha nem a cara da mãe. Fingia alegria em sentir o vento balançar as árvores e suas folhas caírem sem alarde. Lento como o tempo. Passava a tarde assim. Não falava, não ria, não existia. Não sabia seu nome, só gostava de voar, no seu íntimo deveria ser algum Rei, Príncipe, que seja. Seus olhos brilhavam para os grandes carros que atravessavam a avenida em volta. Não tinha muito dinheiro. Comprava uma pipoca, dividia com um cachorro. Coração batia. Nunca deve ter vivido uma grande folia. No carnaval deveria se trancar em casa ou somente se vestir de bate-bola. Irreconhecível, sempre despercebido. Menino nunca sorri. Sempre conformado, parece que não gosta de existir. Existir dá trabalho, cumprimentar as pessoas, desejar bom dia, perguntar como vai, com a possibilidade de começar um diálogo a partir daí, se aprofundar em algo que não se importa. Parece um espelho quebrado. Parece eu sentado na praça. Minha juventude. Parece eu aquele menino. Se te excluí foi pra te proteger. Aquele garoto sou eu, bem sentado ali. Me deixa aqui.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

As borboletas nunca foram embora

Não me leve a mal, eu tenho um coração enorme, tão grande que cabe tantas coisas boas. Sorrisos, brilho nos olhos, abraço-casa, ternura e pouco de saudade também. Às vezes é saudável, às vezes me destrói, parece que vai sair pela boca. Tem quem duvide. Tem quem ache exagerado. Tem quem ache lindo. E tem eu que acho isso tudo um grande espetáculo que a vida proporciona. Frequentemente ele me sabota, mas não tem problema, sempre levanto. É claro que queria ter um manual de instruções, e dizer assim: "por favor, sinta menos", eu queria era sentir menos.
Contudo, meu coração é grande. Ele é intenso. Quando decide amar, dá espetáculo. Também passa vergonha, é bem verdade. Não me importo. É privilégio. Nesse mundo tão engessado e caricato, até que amar demais, me faz sair da curva, sensato.
Lamento por quem se esconde, quem não se doa. Quem perde o prazer de deixar as borboletas voarem. Eu não. Eu nasci assim, grande.
Coração feliz pulsa sem saber a hora de parar. Deixa pulsar. Só vai saber se entregar.

Hudson Vicente.

terça-feira, 2 de julho de 2019

As flores do teu amor

Eu fico assim, cheio de amores, cheio de mim.
Eles preferem flores e santos.
Lembro teu sorriso mansinho, terno, feito doce.
Saudade da malícia que você dizia que tinha quando me olhava.
Mergulhava num rio de lembranças.
Da vida, histórias.
A poesia do bem descia goela abaixo.
Cantava sem medo no meu ouvido, era quase um zumbido, repetia sempre as palavras doces.
Me "torturava".
Não sabia se era sorte ou só poesia, te ter nos meus dias.
A nostalgia dançava uma ciranda, as crianças brincavam de sorrir.
Era divertido como um quadro do Dalí.
De novo escrevi outro poema e o vento soprou mais uma cena, mas não consigo mais enxergar.
Perdi meu óculos.
Acredita em destino?
Tem que ter coragem pra te deixar voar novamente.
Eu deixo.
Voa.
Eu fico aqui com as flores do teu amor, vê se não vai murchar, faz favor.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Reciprofelicidade

Pra ser inesquecível, te faltava coragem
Eu era sensível, você selvagem
Me amou invisível, dizia que era liberdade
Te queria lá pelas quatro da tarde

O sol ainda forte queimava as costas
As flores do campo que desabrochavam
Enfeitavam a viagem
Pra ser sincero, eu sentia a eternidade

E no caminho lento do relógio
Deu tempo de sentir saudade
Mas já era tarde
O Sol se pôs dentro dos teus olhos castanhos

O que antes tardava, agora adormecia
Tem um bicho batendo aqui dentro
Ele pulsa e chama teu nome
Reciprofelicidade.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Não é o fim do mundo

No primeiro dia você desaba de montão.
No segundo você ainda parece devastado.
No terceiro você se desespera e sente saudade.
Na quarta semana você faz chocolate.
No final do segundo mês você bebe com os amigos e se tortura com a solidão.
No sexto mês virou uma lembrança.
Um ano depois, você estremece em ouvir algo sobre, mas já está conformado como as coisas estão.
Em dois anos você já esteve com outros.
No quinto ano, você está feliz e vivendo sua vida.
Ele volta, pede pra entrar, te oferecendo tudo que nunca teve coragem. Você agradece e vira as costas. Nem sempre foi fácil. Aquilo que você mais queria há tempos atrás acontece. Mas agora é tanto faz. Você não quer mais. O tempo passou. Outro amor chegou. Amadureceu. E floresceu. Descobriu que o mundo não acaba depois de uma tempestade furiosa. Pode levar tempo, às vezes muito mais, mas passa. Depois de alguns porres, cachaças, brigadeiros e finitas saudades. O amor resolve se reinventar. Que bom. E você vê que ele era só mais um. Comum. Daqueles que foi melhor ficar sem. Viu, não é o fim do mundo. Você se refez.

Hudson Vicente.

sábado, 15 de junho de 2019

Quantas histórias de amor cabem dentro de um poema?

dá medo olhar pro céu
e não ter lua
as nuvens encobrem
que triste
até ela se esconde
é como perder um amigo
sei que pode do outro lado da cidade alguém se sentir como eu me sinto
às vezes partir
é querer voltar
o quanto vale a pena não valer a pena?
a tragédia dessa juventude é achar que pode ser eterna
não somos
na vida
há dúvidas
da vida
cê duvida?
quando estamos diante de nosso próprio espelho nos encarando ao amanhecer
será que sentimos vergonha ou medo?
você se sente feliz aqui?
por que?
é um bom lugar para recomeçar?
é final do dia
sobram histórias e poucos sorrisos
mas e a coragem
cadê?
só porque eu era flor
queria sentir meu perfume
só porque não falei de amor
me cortou
só porque não tinha espinhos
me sabotou
só porque não flori
me esqueceu
eu que era só uma flor...
virei pétalas de malmequer
caídas no chão
porque não te dei amor
mas bem me quero
o que não se planta
nunca floresce
no teu fim
só se colhe saudade
e solidão.

Hudson Vicente.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Tão normal

João se sente sozinho.
Pedro não se sente em paz.
Gabriel se sente perdido.
José tem ansiedade.
Gustavo pensa em voar mas tem medo de altura.
Lucas só pensa em festas.
Danilo em gastar o que não tem.
Roberto só tem dívidas e um bom coração também.
Daniel quer viajar pra fora.
Matheus se formar em psicologia mas nem acabou o cursinho de inglês da sua tia.
Paulo sente sono e quer viver dentro da casinha.
Eduardo não se sente bem.
O que eles têm em comum? Ninguém sabe o que fazer da própria vida. E nem eu também... É tão normal. Todos sempre dizem que vai passar, pra você ficar bem.
Será?

Hudson Vicente.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Poesia em apuros

Ele sempre senta naquela mesa
do bar
pede seu drink
pega sua caneta e o papel
então começa a escrever
umas cartas de amor
na mesma rua da saudade.
Mais um gole
uma injeção
outra dose
parece um poeta assustado
uma criatura atordoada
carente por amar
todos notam
ninguém se aproxima.
A música ao fundo invade seu peito
lhe deixa risonho
quase acompanhado
embora sempre solitário
ninguém se senta ao seu lado.
Mais uma rodada dupla
vodka
coça os olhos
observa uma bela cena
na sua frente
um bêbado dando vexame
mais um rascunho
uma quase poesia
o amor é uma puta
muitos chamam de vadia.
Maltrata
desenha uma flor
pede a conta
entrega à uma dama
e vai embora
e agora
que verso da sua existência ficou para ela?
Não era uma carta de amor.
Poesia em apuros.
Ar puro.
Amor?
Ou flor?

Hudson Vicente.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Isso não é pra você

voltei a fumar
entrei no primeiro bar
abri uma garrafa de Amarula
tirei uma foto e sorri.
fui até o banheiro pra me olhar no espelho
estava bonito mas não feliz.
"dei um tiro"
e mais outro pro irmão não ficar com ciúmes.
me senti desejado
olhares me seduziam
eu era um vira-lata nessa noite suja
dissimulei, ganhei companhia
até a lua me aplaudia.

- "o que você é?"
- "eu sou artista."

olhou pra mim e não acreditou
pediu pra eu cantar, dançar...
me deu uma folha em branco
pediu pra eu pintar.
eu sorri, desajustado.
tentei falar.
não deixou.
- o que faz então?
- eu sou poeta.
riu.
- escritor não é artista!
- eu sou o quê?
- isso é falta do que fazer.
fechei a cara, dei de ombros.
- então me faz uma poesia!
- não vale a pena, não preciso provar meu talento com quem não entende de arte.
- você vai continuar dizendo...
- sim, eu sou artista. joga no Instagram e procura meus poemas.
aqui nessa folha em branco escrevi um conto, pode ficar pra você. eu sou poeta.
pedi a conta.
tentou se desculpar, quis foder no banheiro, me levar pra casa, rachar motel.
melhor não, até uma próxima.
nessa cidade embriagada, chamei uber e fui pra casa.
agora entendo minha solidão.
as pessoas são baratas.
meu voo é inteiro.
tem gente que é amor.
tem gente que é bueiro.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Caça teu rumo

sou passageiro
nesse mundo que todos soltam as mãos
me entreguei tanto
nem perguntei o nome do santo
pedi licença pra passar
girou outra vez e agradeceu
tu que tem asas e pode voar
na tua mata tu é Rei
tem arco preso nas tuas mãos
teus caminhos marcam passos
silenciosos
tua sabedoria te faz voar sem sair do chão
olhos castanhos são tão brilhantes
flor da noite
encontra uma rosa vermelha no chão
é luz
ninguém falou de solidão
sozinho ele não te deixa
segura forte minha mão
na outra traz o copo e enche
no final tua alma se mexe
gargalha alto, inconfundível
voa, meu filho
caça teu rumo
gira, Mundo.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Infinito tempo pro mundo

menino
não solta da minha mão
agora que a gente dança
solto
encosta seu coração aqui com o meu
sorri inteiro teu sorriso bobo
faz tanto tempo que eu não danço
o tempo parece parar nesse balanço
se sente livre
gosta de liberdade, assim, vento no rosto, tranquilo, sorri.
menino, não solta da minha mão
desse jeito a gente espanta solidão
eu já nem lembro mais quem eu era antes de você quando me perguntam eu digo que tanto faz
o que me importa é agora, daqui pra frente.
sem pressa pra amar
sempre amar
todo mundo tem sede desse desejo
me abraça profundo, pro mundo
eu quero todos os seus beijos
já não ligo pros outros
aqueles olhares não me despertam o que eu sinto agora quando te vejo
sorri inteiro pro infinito do tempo nunca acabar.
agora eles veem a gente dançar,
me deixa te esperar?

Hudson Vicente.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Ansiedade: você sabe bem do quê...

Tem sido uma luta fechar os olhos e dormir. A mente não para. Não encontro em mim mesmo os botões para desligar tudo. Dorme tarde, acorda cedo, excesso de pensamentos, tem vezes, parece que vou explodir, tudo que eu queria era não lembrar. É família, é trabalho, são contas, é coração, decepção, parece que eu não me alcanço. A vida já me cobra posturas de gente grande desde quando eu ainda era um menino, me fez homem, mas ainda sou um menino.
Ando meio assustado com tudo. O caos, o barulho, a rotina, os amores, a falta de amigos. Querem que eu decida já o que quero pra minha vida, enquanto eu mal sei escolher com que blusa eu devo sair pra mais uma festa que não vai me levar a nada.
Já rezei pra Deus, pedi proteção. Já me revirei a cama toda e ele não me atende. Queria abrir um zíper no meu corpo e me abandonar por uns dias, é que olhando daqui, cara, você está uma bagunça. Haja terapia.
Teus olhos cansados, teu cabelo bagunçado, teu sorriso já não convence ninguém. Tuas pernas não param de saculejar, teu humor irritado vai te levando pra longe de você mesmo. Se sente bem se olhando no espelho? Essa ansiedade é insônia, é saudade.
Você sabe bem do quê...
Se olhe com mais carinho, vai, desamarra essa cara, eu só tenho você.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Solidão não se cura bebendo veneno

tanta cor
nessa volta pra casa.
pés cansados
meio que se arrastam.
esbarra em um, pede desculpas.
continua apressado.
outros passos lentos na sua frente, pede licença.
cara amarrada.
lentes embassadas, tira e limpa as imperfeições do caminho.
tem gente sem vida, que esqueceu de morrer.
parece só dor.
o que antes era brilho, está sem cor.
aquarela escura,
samba desafinado na roda de pagode do ponto ao lado.
churrasquinho e barraca de caipirinha na calçada.
amargo e azedo, só tem limão.
quero outro sabor.
não tem.
tudo bem, obrigado, lá vem meu ônibus.
boa noite. boa noite.
senta sozinho no banco mais alto, privilégio de um Rei.
encontra uma flor caída no chão, despedaçada.
três pétalas sobraram.
fecha os olhos e faz um pedido.
sorte-saúde-saudade.
por que não pediu proteção?
tem muitas palavras no dicionário, ficaria repetitivo.
entre um ponto e o próximo ninguém sentou do seu lado.
o que antes era uma flor, nada mais sobrou.
quem disse que eu não falei de amor?
o lugar vazio é no peito.
menino, menino pequeno,
solidão não se cura bebendo veneno.
meus óculos embassaram outra vez.

Hudson Vicente.

sábado, 20 de abril de 2019

Poeta poeira

sonho de poeira é voar
poeira no céu é poeira estelar
sonhar de olhos abertos
tirar os pés do chão
fazer da cabeça um balão
me solta, te solto, me perco
te cubro em volta, desejo
abraço, amasso, devolvo
fumaça solta contagia o céu
alegria, respira, olha a vida passar
doce sem mel
jurei escrever todos os dias, me traí
perdi a vontade de encontrar
de novo caí no conto, parecia um vigário
passarinho preso no fundo do rio
pergunto de novo: quem vai me salvar?
minha vida é escrever poesia
flutua no peito do poeta
oxigênio
um dia viro poeira
bagunça estelar.

Hudson Vicente.

Estarei aqui

Dizem que quando se abraça, o coração é a primeira parte tocada. Se já não disseram, eu acabei de inventar. Quando os olhos compreendem o motivo do sorriso, é lindo. Até a gargalhada é alta. Se faz presente. Tão gostosa de se ouvir, que é como uma canção. Deveria tocar na rádio durante meses. Quando a saudade bater, a gente repete de novo, feito 'tbt', para 'alimentar' nostalgia.
Outono ainda parece verão quando gostamos tanto de alguém. Mais do que isso, a gente se sente acolhido em qualquer canto. E eu, sempre tão contido, não me contive, me espetei em você pra fazer morada. Poderia passar muitas outras estações ali em qualquer abraço. Mas ficar por perto de quem faz bem pra gente de verdade, é insubstituível.
Mesmo na chuva, que a gente possa caminhar junto e tempestade nenhuma esfriar nossos corações, quando o mesmo já não quiser sorrir para a vida. Que possamos ficar para assistir sessenta pores do sol, e a rotina nos enlaçar e impedir de achar graça em tudo que há em volta. Que possamos foliar nossos carnavais, até mesmo nas quartas-feiras de cinzas, sem medo da ressaca. Que a gente dê sempre a mão e caminhe nem que seja no escuro, um do lado do outro. Que eu seja seu ouvido e você minha voz. Que você seja risada e eu sorriso. Que você seja abraço e eu conforto. Que nós sejamos nós por tanto tempo que até a eternidade duvide da demora dos nossos laços. E lembrar que é só sorrir, que logo o amor florirá (adoramos neologismos).

Hudson Vicente.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Grito

Carta:
Com licença, te escrevi uma carta:
Se você vier depressa e me impedir de pensar, de me fazer voltar, talvez algo possamos mudar.
Se você voltar e me impedir de dizer que eu vou me matar, talvez algo possamos mudar.
Se você sentar do meu lado, e um silêncio corrosivo entre nós se manifestar, e você disposto a quebrar o gelo, me abraçar, talvez algo possamos mudar.
Se você falar pra eu perder meu medo e me der a sua mão, talvez algo possamos mudar. A gente pode até dançar.
Se você falar pra eu levantar, e caso eu não consiga, você me ajudar, talvez algo possamos mudar. Eu vou te acompanhar.
Se você falar pra eu esquecer meu passado e viver contigo o agora, talvez eu esqueça o mundo e fique para sempre, seja lá o que isso significa, com você no presente.
Mas eu não estou te cobrando nada. Eu só não estou bem. Talvez daqui algumas horas passe. Ou eu piore. Ou eu realmente morra. Ou você desista de mim. E a gente se perca de vez como um rádio velho em alguma estação.
Se ainda eu estiver por aqui e perdido, e você não tenha feito nada, eu só te peço: não chega mais perto. Me assiste de longe, indo embora da sua vida. Pois continuarei a caminhar, até eu me encontrar.
Quem vai me salvar?

Resposta:
Não me cabe agora escrever sobre o amor. Não me cabe agora falar em solidão. O que ele precisa mesmo é gritar. Alto. Bem alto. Mais alto. Explodir. Só me cabe agora te ouvir. Bem atento as suas respirações. Concentrado em suas falas. Não perder um gesto. Entender o motivo de suas lágrimas. Acolher seu abraço, te deixar no meu colo enquanto o soluço ainda se faz presente. Tentar, mesmo que inutilmente, que suas tristezas sarem. Sei que você espera muito do mundo e quero que não se sinta só. Sou teu porto, teu cais em meio ao caos. Queria que hoje o mundo não fosse cinza, que não estivéssemos numa quarta-feira. Talvez sexta fosse propício, assim você sentiria vontade de sorrir.
Embora o relógio demore a completar seu percurso e cada segundo pareça uma eternidade, gostaria que tudo isso que você está sentindo agora, abandonasse seu corpo. Gostaria de verdade que algo de muito grande, partisse. E não fosse você.
Calma, respira suavemente. Se doer, pode apertar minha mão. Deixa eu virar seu lar. Abre os olhos e me encara, só não se entrega, por favor. Grita. Eu vou te ouvir. Não vou te deixar partir.

Hudson Vicente.

terça-feira, 2 de abril de 2019

Tempo difícil: falta coragem

sei que é um tempo difícil.
o sol quase não sai.
o céu não abre.
o mar está sempre em fúria.
quase ninguém se arrisca.

são flores mortas.
jardins abandonados.
paisagem meio assustadora.
horizonte deserto.
embora ainda haja beleza nisso tudo.

está difícil.
poemas não falam só de amor.
quase não vemos mais compaixão nos olhos dos outros.
amor em vez de dar, exigem.
e magoam-se e vitimizam-se através dele.

está faltando amar mais.
chegar mais perto, abraçar, afagar.
está faltando ter coragem.
perder o medo.

o acaso mais parece destino quando tudo dá errado.
e a vida cobra mais do que se pode pagar.
vai viver quem tem coragem.
e se esconder quem tiver medo.

Hudson Vicente.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Quem não te ama, Poeta?

fui olhar a lua e me apaixonei
voltei com o coração tontinho
gritaram comigo, paralisei
assustei
não é assim que se faz com um pobre rapaz de sonhos tão doces.

vendia doces na cidade. queria comprar uma casa pra morar com os pais, queria voar feito avião, morria de medo de altura, invejava os pássaros, sentia ciúmes da sua liberdade, era apaixonado por outro rapaz de nome difícil que só o enxergava como um grande amigo, era seu sentimento mais oculto. nunca se declarou. perdia a chance de ser feliz. se conformava com a amizade e um beijinho na ponta do nariz. quando tentou, o rapaz contou primeiro que experimentou outro e se apaixonou. encolheu os ombros, o sorriso amarelou, quase entristeceu. seu grande amor parecia coisa de outro planeta.
aceitou. não há como brigar com o amor. entre um doce e outro foi descobrindo outros lugares, se aventurou.
ganhou um livro de poesias, de repente uma ideia lhe surgiu, vender doces e escrever poesias, assim vai encantar a vida. os olhos brilharam, descobrira-se poeta. nos primeiros versos logo se via que levava jeito, conheceu um mineiro, foi paixão na certa. come quieto, mas um dia viram um beijo quase escondido, foi um escândalo na pequena cidadezinha, apontavam pro rapaz e só riam. o poeta dos doces sofreu calado, sua vida ganhou mais fala que seus versos tão bem rimados. sofria o poetinha. mais um amor se foi. não suportou tanto disse-me-disse. pobre rapaz, seus pais não entendiam e se perguntavam onde tinham errado na educação desse pobre diabo. não erraram, mas afastou o amor de quem não amou errado. o poeta perdeu cor, sem brilho nos olhos, cansou da cidade, decidiu ir estudar história só pra não perder a viagem. parou com os doces, esqueceu de escrever cartas para seu amor, antes de seder. um beijo de saudade nos pais, um rápido cumprimento de mãos no rapaz de nome estranho e foi embora esquecendo seus sonhos.
queria olhar o mar, mas era noite, tava tudo escuro, e infinito, só ouvia o barulho das ondas indo e vindo. fechou os olhos e agradeceu, de repente olhou pra cima, era como se o céu lhe sorrisse, sorriu de volta. as estrelas brilhavam no céu, trazia luz para aquela noite tão fria. tinha uma rosa na mão, jogou no mar, pediu sorte, a lua clareava toda a noite, sentou na areia, sorriu de novo, perdeu as contas de quantos goles de vida havia bebido de frente pro mar e o medo de voar. aceitou suas asas. a poesia voltou. e quem não te ama, poeta? tens sonhos tão doces...

Hudson Vicente.

segunda-feira, 11 de março de 2019

Oito de março

"Vai ser feliz".
O carnaval acabou. Foi intenso, imenso, profundo, mar revolto; olhei o amor e partiu. Sorri, pode-se dizer, fui feliz aqui. Cheio de glitter por todo o corpo, a alma infestada de purpurina. Quem via, era alegria. E era.
Pintei o cabelo, abracei amigos; confetes no chão, música alta, chovia, fazia sol, quanta história nesse verão.
Senti saudade, vontade de dançar, voar nos braços da poesia, me afoguei em nostalgia, troquei olhares com a vida, beijei o mundo, chorei no último dia, por ter sentido saudades todos os dias. Não mandei mensagens, entrei em desespero - queria carnaval o ano inteiro.
Troquei de fantasia, me vesti de amor, queria ser flor - ele não tinha espinhos, algumas cicatrizes, reencontrei. Confesso, quase chorei. Me senti perdoado, amei de novo o meu passado.
É oito de março, de repente deixei pra lá algumas cascas, olhei pro chão para não tropeçar em todas as pedras, joguei roupas fora, desfiz a mala, troquei fotos dos porta-retratos, mudei a roupa de cama, encarei o espelho e me senti mais leve.
Lembrei dele de novo, que bom que está sendo feliz (sem mim). Ainda assim, o amo. Mas amei outros. E pude me amar também. Talvez a vida seja isso: sonhos entre realidades.
A gente sempre sente saudade. Eu sou intenso, delicado como um girassol. Pinto minha vida com as cores mais bonitas, admiro os céus mais azuis, sonho com os amores mais incríveis, com as almas mais doces, com os carnavais mais felizes. O mundo precisa ser mais tranquilo e o sorriso no rosto mais forte. Vai ver, no final do arco-íris, talvez só se precise de mais sorte.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Te amo com todo o caos

Vou sair pra olhar o mundo com um brilho nos olhos diferente.
A gente cobra muito da gente o tempo todo. Do amor, não me canso. Estou sempre disposto a dançar. E se cansar os pés, tiro o sapato, rodopio e giro. Canta para mim, qualquer dança feliz. Fala de amor, do cheiro doce das rosas, desse final de verão que já vai embora, do carnaval que a gente vai foliar.
Nunca é fácil seguir em frente depois que a gente se desencontra da felicidade, às vezes ela é tão supérflua que dá pra confundir como flores que são de plásticos.
Não nos deram manual de instruções da vida. Mas esperam todo amanhecer que a gente saiba recomeçar, renascer. Às vezes é difícil até levantar da cama, olhar o céu e pensar nas batalhas que teremos que enfrentar.
Te falta coragem. Pare de tentar sumir no meio da tempestade. Eu também sinto muito, tenho meus varios dias de "cão". Tenho medo dos dias de fúria, nem por isso me escondo.
Alma leve, asas de passarinho, sinto saudade, vai embora, menino, sozinho, nu, só com o coração na mão e leva pra eles todo esse carinho.
A vida vai sorrir pra você também.
Te amo com todo o seu caos.

Hudson Vicente.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Distante de todo mundo

Por hora, a gente não entende nada. É difícil, pesado, vai e volta no filme, procura as cenas exatas pra achar o erro. É complicado. A gente se cobra demais. Se dói demais. Parece que se ama de menos.
Nunca foi fácil. Crescer, por si só, embola a cabeça, apresenta lacunas e a gente continua sem entender. "O que foi que eu fiz?", "Onde foi que eu errei?". A gente espera muito da vida: compreensão, sonhos bonitos e deposita uma felicidade tão frágil em cima do outro. Aí a gente erra. Então a gente erra, descobre que tinha que ir com calma, que o mundo é raso demais, enquanto a gente é intenso, denso, mais coração do que razão.
A gente se vê louco, perdido, sem saber o que fazer; o outro se apavora, também não sabe o que fazer com tanto desespero e vai embora.
A gente se vê triste, com o rosto embriagado de frente pro espelho. Toma seu porre semanal, passa a semana inteira de ressaca, olhos grandes, cansados, ansiosos, sem tempo de sonhar. Quando se vê, ele também está perdido dentro de si, seu próprio caos, uma confusão.
A gente é jovem demais. E o mundo não espera. Lê todo tipo de frases de autoajuda que manda a gente seguir em frente. Quando perguntam se está bem, a resposta é a mesma: "indo". Mas indo pra onde? Espero que seja em frente.
Tivemos sonhos tão lindos. E o seu brilho nos olhos era encantador. Por favor, cuide dessa dor. Se cobre menos. A gente se deve desculpas. Pare de se maltratar.
Queria que quando acordasse, o mundo estivesse melhor.
Gosto de olhar o céu distante de todo mundo.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Descansa um pouco

andei procurando o amor
mas perdi a sintonia
fui a lugares diferentes
passei por corpos iguais
troquei nomes
provei sabores
bebi em vários copos
guardei alguns perfumes
senti temores
e me cansei de me encantar
vou descansar um pouco
preciso respirar
quando quiser
o amor vai me encontrar

lua nova
céu estrelado
velha estação
sem beijo roubado

você é só
uma saudade
bonita
no meio da estrada.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Menino, abre os olhos

queria te ver. te ver feliz. esquecer de mim um pouco. pode rir. é desespero. eu tenho medo. como uma criança que não solta das mãos da mãe com medo de cair. se desequilibrar, ralar os joelhos numa tentativa forçada de dar os primeiros passinhos. todo mundo aflito. querem me ensinar.
amar.
não.
andar.
é no meu tempo. sejam pacientes.
não estou cobrando nada da vida. embora depositem em mim muitas culpas, muitas eu nem sei que carrego. eu sou pequeno, menino.
vai com calma, com alma e voa. tenho sonhos tão lindos, pareço passarinho. às vezes me bate uma vontade de ir embora. não entendo porque eu vim. sinto saudade de casa, abraço de mãe, aperto de pai. eles não entendem nada. como cheguei até aqui?
me acostumei a olhar o céu, fechar os olhos e sonhar. é uma loucura essas viagens que eu faço. é, Deus existe, ele vai me olhar. me guarda nessa tua grande estante do tempo, amor. teu menino às vezes só quer descansar de quem ele nem mesmo escolheu ser.
vim de gaiato. aceito os fardos, mas não afundo. enquanto existir, não vou desistir, o amor é paciente, um dia a gente se encontra por aí...

Hudson Vicente.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Na fotografia a gente é feliz

É hora de ir embora.
O caminho nunca foi tão grande.
E parece que todo mundo te olha.
Não dá pra esconder tanta vergonha.
O óculos quebrou, mas foi o coração que partiu.
"Seus finais são sempre iguais, você chora".
Não por ser fraco, porém por querer gritar, explodir.
Tem chuva que parece vendaval.

No caminho, apaguei tudo, deixei uma foto. Você na minha casa, na minha cama, a gente sorria, era feliz.
Sinto seu cheiro, sem despedida. Amor enjoou. Não suportou.
Não consegui apagar essa foto. Nosso momento, nosso porta-retrato feliz.
"Não vou me lembrar porque não vou esquecer", eu te digo também.
Talvez demore a passar. Ainda ontem eu havia te escrito com carinho, todo o sentimento.
Hoje tudo ficou mais pesado. Perdeu cor. A gente vai embora, mas não é um adeus.
Chegamos tão perto um do outro.
O beijo virou abraço, o eu te amo vai ser dito com o frio "se cuida". Se cuida.
Amor a gente (se) reencontra. Vou sempre te olhar com carinho.
Na fotografia a gente (ainda) é feliz.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

O que a gente tem?




Eu tenho um amor muito grande aqui. Às vezes ele me derruba. Tem hora que aquece. Falta só o coração sair pela boca. Ele se declara em voz alta. Comete excessos. Encontra até palavras amargas. Frias. E a gente não tem nada. O amor sofre também, em silêncio. Sente vontade de ir embora, mesmo querendo ficar. Encontra razões que até a própria razão desconhece. Insiste. O amor decide amar. Toma porrada e sorri. De vez em quando tem uns afagos. A própria vida acalenta. Nós não temos nada. É deveras piegas, altruísta, repetitivo, um filme da sessão da tarde, clichê. É um disco do Chico Buarque imortalizado como grande Poeta. O amor é o Maior poeta. É toda a poesia num todo. E ainda sim, balbucia quando te apertam. Nunca fica contente em ir à praia e ficar somente na areia, observando toda a paisagem. Ele gosta de entrar no mar, se jogar, tomar caixote, não se contém. Eu não me contento com pouco. Ou esquenta e explode. Ou nem vem nem vai. Fica. Meu amor, esse amor, quer florir. Enfeitar todo esse jardim. Nós não temos nada? Pra mim você é suficiente. Nós temos nós dois. O amor não depende do que a gente tomou. O amor depende daquilo que a gente sente.

Hudson Vicente.

domingo, 20 de janeiro de 2019

Teu cigarro nunca apaga




Lindos teus olhos perdidos
Flor rara que esquece de desabrochar
Já passou da Primavera
Pétalas caídas numa noite de verão
Ar seco, não tem brisa
Céu cinza
Chão sem poesia
Tarde a noite tecer
Quando clareia
O mar mareia
Vê se esquece de morrer
Não nasci pra ver o amor partir
Antes do fim
Reza por mim
Antes do cigarro apagar
Aproveita e enche meu último copo
Delírio
Suspiro
Aprendi a tragar o prazer todo no peito
Soltei
Nas fumaças a gente se desfez
Quanto vale teu vício?
Viciei em outra droga chamada você
Por favor, me interna antes de eu me desfazer
Teu cigarro nunca apaga.

Hudson Vicente.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

E o mundo lá fora


essa casa
com luz acesa
toda noite
às duas da madrugada
sou eu
aqui
escrevendo
me salvando
entre um suspiro e outro
com uma taça de plástico cheia de memórias
na mesa

algumas tentativas de neologismos
para gravá-lo ainda mais em mim

tem gente que nem sabe
o tanto dele que cabe aqui dentro
tem sorriso
brilho nos olhos
tem tesão
gemidos
carinho na cabeça
cheiro no cangote
tem silêncios
e uma vontade absurda de dar certo

eu me dei para ele
como um poeta se doa à poesia
e fiz dele mar
céu azul
sol se pondo
aplausos
brisa da beira do mar
quem não acredita que isso é amor?
é amor?
sei não
parece seguro
cais ao invés de caos

e o mundo lá fora...
não importa
é ele
eu tive a certeza desde quando o vi
música alta berrando nossos ouvidos
lhe reconheci antes de me reconhecer
alguns encontros causam explosão
olhei com doçura
ele é aquilo tudo que eu sempre mereci
enquanto o mundo me olhava com rapidez

ele parou
eu me declarei

e de repente se tornou a minha pessoa favorita de todos os dias
perdi a vontade de estar sozinho
descobri o desejo em ficar do seu lado
a vida vai dizer

vou apagar a luz
e antes de dormir
agradecer
quero gritar meu amor
na madrugada
para o mundo lá fora entender
você!).

Hudson Vicente.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Toda chuva molha e depois seca


Como eu queria, na verdade, que nossas mãos se grudassem e o tempo passasse sem pressa. Como eu queria te ver chegar todos os dias com o mesmo sorriso no rosto de quando te conheci e seus olhos brilhassem como da primeira vez que sorriu para mim.
Como eu queria que o dia a dia não nos afastasse e a rotina não nos tirasse o brilho dos olhos. Que a música fosse mais calma e o coração menos acelerado.
Como eu queria fechar mais os olhos e sonhar contigo de olhos abertos, enfrentar os medos e construir um futuro, que nossos receios fossem menores do que a vontade de estar perto.
Eu queria que a maldade do mundo não atingisse quem nasceu para amar, que mesmo com tantos muros construídos, que nosso castelo não fosse de areia.
Queria, queria, queria... mas querer sozinho não adianta. Não dá pra puxar pelo braço quem não quer vir. Não dá pra amar por dois, a carga fica pesada.
Sem nem perceber, me desfaço. Eu espero. Eu te espero. O amor logo virá. Pode ser você. Pode não ser. Pode ser daqui a pouco. Pode ser no final da estrada. Nada impede de tentar. Nessa vida, todo mundo olha pra gente com pressa. Toda chuva molha e depois seca.

amar
é maior
que o mar
é infinito
também.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Temos o mesmo céu



Você parece um fim de tarde e essas coisas boas que só uma paisagem solar traz pra alma da gente. É céu azul lindo, nuvens branquinhas feito seu sorriso e o sol se pondo brilhando feito a luz que sai da gente.
Te ver de longe parece pesadelo, desses que sonhei esses dias e não quis te contar, porque assistir alguém ir embora, parte o coração.
Depois de um breve caminho percorrido, você tem certeza que é a pessoa em meio a tantas dúvidas. E você é aquela novidade que a gente corre pra contar para todos os amigos, para o vizinho mais próximo e até pro jornaleiro da padaria de baixo, com sorriso no rosto. Dá vontade de gritar mas baixinho: moço, por favor, fica e cuida bem de mim.
É um bem que ninguém faz. É uma risada que traz paz, acalma o dia a dia. Amor eu não sei dizer. Prefiro que o tempo se encarregue de nomear. É uma "parada" mais leve, mais feliz do que qualquer outro romance que eu já li nos livros por aí... até porque o amor não é a única fala da peça de teatro. É um grande ato, de fato. Mas quem se importa?

eu nunca ganhei na loteria
mas ganhei na vida
quando você chegou.

Que bom que você chegou.
Se apagássemos todas as luzes da cidade, será que prestaríamos mais atenção no céu e enxergaríamos ainda mais beleza lá? Temos o mesmo céu, uma lua e todas essas estrelas.
Me deixa voar, mas vem comigo? O céu é tão grande pr'eu enfeitar sozinho.

Hudson Vicente.