quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Quanto tempo tem o céu?


Fechei os olhos, desejei que o tempo não mudasse, que ainda me amasse, que me quisesse por perto. Eu quis querer que o futuro não viesse tão depressa. Os ventos sopraram o passado, misturou nós para todos os lados, desaprumei.

Desequilibrado, não calculei os passos, os riscos de quem não amei. Por onde andei que nunca mais voltei para casa?
Perfeitamente esgotado, maduro, não desabrochei. Troquei passos com a lua, das nuvens me joguei. Acertei na queda livre, quanto tempo faz pra reviver o que me privei?

Não encontro minha casa, nem minha rua; a lua, às sete horas, ponderada, opaca, não fala que não amo mais, que passou, me deixou para trás, e nunca me encontrei. Quem me mudou de lugar me deixou sem saber o que seria de nós.

Um pequeno intervalo, imprevisto, desalinhei. E agora tudo vai tão depressa. Acaba, recomeça e ainda não encontrei. Não achei que tivesse perdido tanto tempo esperando o tempo passar, contando essa tragédia de como é viver e não lembrar que nunca mais voltei para casa.

O céu desabou em nós.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Guimbas de cigarros pelo chão


Ainda vejo a fumaça se esvaindo sobre as guimbas de cigarros pisadas no chão. Vejo pessoas maltrajadas de si, fantasiadas de tempo, num eterno relógio que não se move, à meia noite o luar me deseja. O telefone não toca, nenhuma mensagem, ninguém se importa.

Há sempre um barulho, uma música que não toca fazendo a gente dançar. Meninos e meninas sentem tão diferente. Minha mente parece ser meu pior lar. Digo pra todo mundo que ando uma bagunça, me explico pouco, andei me enganando, me matando, como quem chega num bar e não sai. Não me pergunte dos sonhos agora, mesmo de olhos fechados, não consigo sonhar.

Bonito, interessante, com gosto de fracasso na saliva da boca. Preciso me curar. Pra muitos, é vazio. Pra mim são excessos. Eu me excedo, na bebida, na droga (do amor), em êxtase, nunca me declaro. Não consigo afeto de ninguém. Sou só um corpo que proporciona tesão e interesse sexual quando não tem mais a quem. Às vezes nos reduzem a isso. A gente até aceita. Meu protesto é em silêncio. Mudo, passivo dos meus sonhos, tentei não falhar. Falhei sobre todos, me autosabotei de novo.

Quando grito e sinto tudo, meus pais não me ouvem. Cansei de remontar. Simplesmente me fantasiei do personagem mais sem emoção da vida e ando protagonizando escândalos contrangedores de atuação caricata e digna de desaplausos. Sou cruel comigo mesmo.

Sinto vergonha de me aplaudir. Podia ser tudo diferente, mas parece que, silêncio, eu morri.
Mas morro de vontade de sonhar (de novo). E olhar pro mundo e ver o azul. O azul das pessoas que mudam de cor, de acordo com suas emoções.

Queria que o amor dos outros fosse tão verdadeiro a ponto de ser singular.
A ponto de ser porto. Um cais. E eu o caos, não desabasse, não caminhasse por caminhos tão tortos. Eu queria sentir mais. E eu sinto muito. É meu pedido de desculpas também.
Preciso parar de nadar no raso.

Hudson Vicente.