terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O infinito dos teus olhos





O infinito dos teus olhos negros que me olham sem direção
Anseiam tua boca nos lábios meus
No aperto de mãos, no abraço tímido
Repouso-me sobre teus ombros e busco por minha paz
Encontro-me em plena confusão estelar
Faço moradia no teu peito
Faço-te companhia nesta noite que já começa a clarear
Fico nessa madrugada surda, muda
Em busca de diversão e uns afagos
De saudade e algumas outras bobagens
Fico quando tiver que ir
Vou quando for para ficar
Te dou a mão (juro)
Voa comigo...?
O infinito também é um caminho
- perdido
- sem volta.

Hudson Vicente

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Pássaro não aprendi a pousar



Voa alto Mundo esquisito vou cambaleando bêbado
Avisto uma flor te entrego te trago pra perto na fumaça cê some
Me tortura feito um animal feroz com sede de sangue
Me bebe me engole me faz em pedaços não te sacio
Vou fugindo tentando enganar me esqueço te perco na esquina encontro-me no bar já alto risonho igual besta
Gira de repente tudo gira eu canto eu danço eu choro eu peço outra rodada na pista não dança gira
Mais cigarros e gargalhadas um cheiro sútil decoro e apavoro a alma de quem vê a cena
Me prende me solta atentado ao pudor me dispo
Me provoca me beija me bate me manda embora
Sobrevivo
Bate eu sinto prazer na dor cê para separa
Me abandona
Me arranca suspiros gemidos a noite toda me chupa com carinho assim desse jeito não maltrata a pele do sujeito
Meu peito vai explodir o pulso ainda pulsa firme de qualquer jeito
No gozo a alma e o corpo comemoram a chegada à glória
Meu poema te recitei cê fingiu que entendeu sorriu me aplaudiu me comoveu
Do nada não entendi chorou insistiu eu parti
Peguei o caminho de casa sem hora adormeci
Vomitei teu coração exagerei soluços disse adeus mudo pro mundo cai
Me enfureci era só sexo quando descobri fui amor quando não notei
Mesmo depois de tantas drogas silêncio eu não morri me matei
Não há um bar que não fale de você nessa cidade
Desculpa Confessei amor antes da hora.
Hudson Vicente

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O céu mais parece você



Mulher: no ápice de sua solidão
Cercada de água, nuvens e verde
Pássaros te sobrevoam
No céu, as nuvens pesadas, não caem
E mais parecem consigo mesma
Fechada, nebulosa
Não tem chão, sobrevoa imersa no nada
Não nada, afunda
Muda mas barulhenta
Grita o silêncio dos desesperados
Sente falta do quê?
Cotidiano feliz, coração preenchido
Anda sem direção, apenas por caminhar
Não sabe aonde vai parar
Talvez 
Mais a frente, uns sorrisos, abraços e afagos
Se afoga no mar em volta, não tem forças para lutar contra a correnteza
A maré alta te puxa
Ela cede
Ceder é desistir de si
Não batalha
Mas ainda sobrevive
Não se sabe até quando...

Hudson Vicente

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Quanta indiferença


A gente senta e observa o nascer do dia, sempre sorrindo enquanto choramos com o barulho do despertador. Vai, enfrenta. Pega sua rotina e caminha sem saber até aonde vai, sem saber quem vai encontrar, sem saber. E as horas transcorrem. Às vezes, transcedemos. Outras, nos mutilamos. Na busca do quê? Do belo pôr do sol da tarde de frente pro mar, declarando poesias enquanto o céu dá mais um espetáculo. Talvez se olharmos em volta e enxergarmos os olhos dos outros não seja tão bonito quanto vemos ou imaginamos que seja. A realidade olho à fora, é cruel. Uma madrugada fria, noite sofrida, quarenta graus de febre, olhos enojados e desacreditados do mundo que estão ali pra quê? Eu não sei. Na onda que bate e volta, que se escandaliza e revolta, o mar se rebela. Grande e infinito, profundo e bonito. Se declara pra natureza. Aplausos. Há choros. Coros. Morros. Mortes. Sorte. De quem vive do outro lado do asfalto. Na frente, os prédios. Atrás, becos, vielas e mazelas. Na frente dessa gente decente, há corações e esperanças. Às vezes cansa. E se desespera com o amanhã ou a indiferença à procura de uma crença para se benzer e perdoar. Na rotina cansada, que briga todos os dias, desejando mais sorte pra virar gente pro povo enxergar. Entre mais abraços do lado da frente, há fumaças e mais ondas, cliques e mais cliques, apenas mais fotografias para postar, recordar, talvez amar. E a noite que cai? Pra onde vão? Vão pro bar comemorar ou chorar a glória das nossas derrotas. Aplausos. Enquanto outros passam e pedem esmolas, um prato de comida pra encher a barriga, ou pedem dinheiro você me olha torto e desconfia. Me renega. Eu te desafio mas aceito porque não posso roubar. Até posso, mas não é porque você tem mais do que eu que eu tenho que tirar de você, alguém ouve e se comove, me dá uns trocados. Poucos compadecem. Eu me viro de costas e me conformo. Subo o morro, posso comprar crack, maconha, pó e até cocaína, mas eu lembro que tenho família. Acho que lá de baixo seus amigos te reprovaram por sua atitude, é só mais um menino de rua, eles diriam. Ele vai se drogar. Daqui de cima, do ponto mais alto da favela eu grito: não, não, eu sou direito doutor! Eu também sei escrever poesias. O que me falta é sorte na vida. Vou deitar no meu barraco, junto da minha família. Você amanhã vai levantar no conforto da madrugada e nem se lembrará de mim, nem sequer da minha cara. Mas daqui de cima, eu vou rezar por você todos os dias. Mesmo que você não acredite, a nossa fé é na vida. Amanhã eu acordo e venço meu dia.
Hudson Vicente

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Falta entendimento




Por que tem tudo que sempre dar errado? Por quê? As horas não passam. Os dias não conseguem chegar ao fim. O céu de aparência azul revela-se camuflado de cinza. O deus não atende vossos pedidos, na certa está ocupado com outras coisas mais importantes. As pessoas se olham mas não se enxergam. O amanhã nunca chega. Todos ignoram o menino no sinal vendendo doces enquanto sua mãe está com seu irmão no colo, sentada na calçada, pedindo para algum coração enxergá-la ali. O bebê chora pela frieza dos olhos que por eles passam, e não pela fome. O mar parece revoltado e ninguém se comove. A garota de programa que ninguém dá nada por ela, escreve poesias. O maconheiro problemático fala de amor e só escuta lamentos. O mundo parou de se compreender. O poeta que transborda amor, esconde seu temor. O escritor solitário, nunca deu esperanças ao florista que faz seu coração estremecer. Falta compreensão no peito de seus semelhantes. A menininha de família engravidou e namora escondido uma mulher. O ‘pobre’ burguês cansou de futilidade e hoje trabalha em programas sociais. E eu e você continuamos aqui vendo tudo, assistindo a tudo e não fazendo nada a respeito. Meu time perdeu e o seu venceu. Você está mais triste do que eu. Por que? Mundo… sobram metáforas, falta entendimento.

Hudson Vicente

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Era uma viagem muito louca



O medo tem medo do próprio medo porque ele tem medo de tentar. As pessoas estão umas do lado das outras e não se abraçam, não riem, mal se entreolham, com receio, com medo, porque é mais fácil se recolher à sua própria solidão. Escravos da própria sorte, se mutilam em regresso. Elas não sabem nada sobre o amor. Fingem uma vida normal, cansadas da falta de compaixão da rotina, se entregam. Olhares repulsos, impacientes, estão sentados a espera de algo tão pouco que faz parecer que esperam pelo momento maior da sua vida. Agonizam no caos de suas derrotas cotidianas. Eu olho em volto e me vejo cercado de tanta gente esquisita. E tenho amor. Porque o mundo precisa de mim. Porque elas têm medo de tentar. Tolas. A falta de brilho nos olhos não vos deixam vencer. Deveríamos todos nos dar as mãos e celebrar a vida. Essa brisa que me vidra. Esconder tanta ferida ou expô-las sem medo. E lá vem o trem. Todos levantam-se para não se perder. Concentrados em olhar o nada. Não notam suas próprias existências. Amem. Não amém. Não tem fim. Amar é muito mais fácil do que odiar. Fones no ouvido, algumas mudas. Corrosivo silêncio cansado, maltratado pelo desinteresse. Alguns mais ousados, riem. Talvez porque não entendem o que eu quero dizer. Talvez porque não sabem lidar. Ou porque lidam com o fracasso da própria imagem exposta no espelho cruel de suas almas. Perplexas, se espantam e caem no choro. Não adianta rezar e pedir pro céu pra ser feliz no chão. É loucura. Loucura maior a minha de duvidar de um deus desbravador de mares quando mal entrei na onda. Meu mar me afaga. Me afoga. Mas eu não afundo. Sou Rei. Rei de mim. Espalhando o amor sem medo de amar.
Hudson Vicente

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Por favor: espalhe o amor




Pensei que tinha me abandonado, as palavras me escapavam dentre os dedos, o coração respondia ao invés do cérebro; no espelho minha alma não traduzia minha imagem: embaçada, destorcida. Rei de bravura duvidosa. Vencia batalhas sem nem entrar na guerra. Perdia 'soldados' pela fraqueza cotidiana.
Lá estava o pequeno rei sem exército, escondido em um rosto comum. Pouco notado. Abalado por suas crises. No peito, sempre vazio, descobriu-se uma flor que brota vez ou outra na vida. Descobriu o mundo. Era como borboletas no estômago. E incomodavam.
Algumas tentativas frustradas de uma felicidade disfarçada de medo. O rei que destronou impérios, perdia a menor das guerras, a mais difícil de ser combatida. Por ele mesmo. Por medo… Dizia-se valente.
O rei que de grande, não tinha nem tamanho, notou-se príncipe, pequeno, sonhador. E por sonhar e fechar os olhos, sentia medo. Não do fracasso. Mas de se perder. Ora, não chora, "reizinho"! Acreditou tão veemente no que sentia, que perdeu a linha. Louco, se declarou. Em todas as letras e coisas lindas que as palavras poderiam dizer; disse.
Hoje quando vago pelas poesias expostas no peito de nossos poetas, me encontro. E entendo o pequeno rei quando disse que cativou aquilo que foi eterno, uma unica vez no mundo. As pessoas grandes têm dificuldades em entender o que quero dizer. É preciso ter paciência. E sabedoria. O rei que um dia foi príncipe e amou uma flor, foi cativado. Talvez quando amanhecer, o mundo entenda: procure ser feliz e espalhe amor.

Hudson Vicente.