quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Brilhante como as estrelas



Como a lua
Feito o sol


Me divirto com minha própria bagunça. Ser quem eu sou leva tempo; invento histórias, finais felizes, refaço caminhos, só pra te ver sorrir.

E é tão louco tudo isso, até ontem éramos como água e óleo. Hoje parecemos peças que se encaixam, em meio às diferenças e olha que a gente bate muito a cabeça...

Me mantenho apaixonado todos os dias pelo mesmo sorriso, de alguém que gosta de viver e te puxa pra se divertir.

Na dança da vida, sigo teus passos, perco o compasso, dois pra lá e outro pra cá, quando me vejo já estou em teus braços, feito um laço, daqueles que a gente tira até foto de tão bonito que ficou.

O que será de nós amanhã eu mal sei. Tenho pavor em não descobrir, prefiro aceitar o que o universo tem pra oferecer. Escrevo e amo. E vivo. Te ver de longe é meu maior castigo.

Chega pra perto, me conta como foi seu dia, me beija, me tira a roupa, me arrepia como só você sabe.

Como a lua, eu te desejo.
Feito o sol, arde em chamas.
A gente é luz. 

Cada um da sua maneira. 
Brilhante como as estrelas.


Hudson Vicente.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Dos teus olhos sorrindo


Você acabou de chegar, não está entendendo nada ainda, o filme já começou, perdemos várias cenas e algumas paisagens, tirou os sapatos para se sentir melhor, limpei o óculos embaçado para te enxergar mais, um suspiro que quase dizia "estou confortável, me conta de você?", as mãos tremiam de nervoso, nem fazia frio lá fora, mas ventava forte, dava pra ouvir da janela da sala. Decidi esquecer o filme e me concentrei em você. Que olhos lindos sorriam para mim. "Sabe por que ninguém nunca te escreveu uma poesia?", pensei e me contive em indagar.
Fiquei sem jeito quando a gente olhou dentro dos olhos um do outro, algo parecia estar em chamas. Rimos, maliciosamente, era fogo no olhar. Não tive medo. Segurei forte suas mãos, demos nosso primeiro beijo, o mundo explodia. Feito fogos de artifício. Era muito mais tesão do que qualquer outro sentimento. Por favor, não confunda, brilho nos olhos não é amor. E parecia que o acaso já estava escrito. Nunca mais poderíamos nos encontrar pela primeira vez de novo. A segunda vez seria o destino. A terceira, nossa vontade. E dali por diante, sonhos, planos, medos. Era impossível te olhar e não te querer. Todas as outras vezes deu errado para agora dar certo. Começou a chover, parecia que a chuva queria que a gente ficasse. Senão fosse ela, nem 'floriria'. E a gente floresceu. A coisa mais bonita que eu vi em você foi a atenção. "Reciprofelicidade": é a luz que vem de você. Seu coração é verde e o meu azul. "Azul e verde combinam, se misturam no mar, na natureza, tem o céu, predominam..."
É um passarinho que quer voar e descobrir um pouco mais de você...
Tem poesia mais bonita que seus olhos brilhando, quando sua boca sorri para mim?

Hudson Vicente.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Vai embora, mas volta


Quando o amor acaba, você vai embora, pega suas coisas e some. Suas fotos apagam, seu cheiro muda.
Quando o amor acaba, você limpa o rosto, tira a maquiagem, muda de roupa, põe um casaco, verão vira inverno - dentro da sua cabeça é um inferno.
Quando o amor acaba, a poesia fica, livro muda, a música se cala. E o dia a dia fica escuro.
Quando o amor acaba, as baladas voltam, as bebidas aumentam, os porres são frequentes, toda segunda-feira tem gosto de ressaca.
Quando o amor acaba, o amor dos amigos batem à porta, você acolhe, sem jeito, pede desculpas, rasga as cartas e outras fotos. Vai ao cinema, chega em casa e chora.
Quando o amor acaba, definitivamente, ele morre. Morre pra renascer talvez numa próxima esquina ou em outro bar, com dose dupla de caipirinha.
Você quer fazer tudo de novo, as contas apertam, a faculdade te desespera, e de repente você esquece de amar. Perde a noção do tempo. Os meses vão passando, as matérias acumulando, você esquece de sonhar.
Quando esquece do amor, ele volta. Sem perceber. De morto, o amor não morre. Nunca morreu. Ele "te esqueceu".
O amor volta. Sempre volta. Com um sorriso e brilho nos olhos diferentes. Ah, o amor como te deixa idiota. Ele é lindo, mas por favor, não se enforca. Quando ele bater na porta, deixa entrar. Trate bem a visita, para que ela goste de ficar. E te reinventar...

Hudson Vicente.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Traga amor nos olhos


Andei, andei... andei.
Não encontrei.
Fui embora, voltei.
Custei a acreditar.
Tropecei inumeras vezes.
Mudei, pensei que fosse forte.
Até que cai, demorei para encontrar.
Tudo que eu queria estava aqui.
Eu cego, não me vi.
Nem diante do espelho, lotado de lembranças do passado.
Eu era minha própria perdição.
Vou sempre me perder.
Vou sempre me achar.
O que eu faço pra não surtar, é acreditar que amanhã tudo vai melhorar.
Esqueci de pular a música triste do aleatório. Foi proposital. É preciso chorar. Eu não posso me abandonar e me deixar ir embora assim. Esquecer não é o fim.
Vou trazer amor nos olhos. Vou amar sem dizer te amo. E então, todos entenderão, renasci mesmo querendo partir. É a minha grande lição.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Difícil desatar o nó de nós


incrível, sensível
quando me olha
com desejo,
perco a calma,
te dou um beijo.

arrepia até a alma
ri na minha cara,
me encara, agora
ou manda embora,
perco a hora, perco tudo.

respira fundo
me chama pro teu mundo.
por que não te amam?
- pergunto.
sem respostas, recomeça lá fora.

me beija de novo
tua boca doce
me beija(va) com liberdade
como era difícil
desatar o nó de nós.

teu cheiro de passado
me enjoa
ele é familiar.
mesmo depois de anos
não dá pra (te) esquecer.

aqui na sala de estar
tem uma poesia (nova) te esperando
solitária, igual eu,
com uma garrafa de vinho
aberta pela metade.

consegue vê beleza?
no caos, renasço e morro
frequentemente, sem ninguém me notar.
ela já não me chama mais
para conversar.

sabe que eu erro tanto quanto respiro.
a música ajuda a gente
a passar pelos dias ruins.
descobre logo tuas asas
tu nasceu pra voar.

às vezes grita
pira
delira
e a outra parte
é só solidão.

Hudson Vicente.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Parece que já estava escrito


Sempre comemorou à chegada da Primavera, embora nunca tenha sido flor que se cheire. Aquele menino tem um sorriso encantador. Aquele menino me fez sonhar. Aquele menino me fez gozar. E amar e sumir, sem um adeus ou até breve. Me fez ir embora e deixar sonhos, planos, lembranças que fere a alma e dança. Erra todos os passos. Bailarino ao avesso, me entristeço. Quem pode ouvir a música no acorde do violão, triste, sem tom? Quem vai tocar na despedida do coração?
Bate, mas não me fere. Eu sinto, reflito cada verso daquele poema, daquele poeta, sem problema, mais uma linha, por obséquio. O som da sua voz se repete, de repente se cala. Devasta a alma, vaga por aí, divaga...
Eu não presto, quando falo daquele verso lá de cima, perdeu poesia por acreditar em 'putaria', amor e outras drogas feito cocaína.
Cheirou, chorou, se perdeu, não me comoveu. Tentei falar de flores, porque era primavera. Tentei plantar amor em alguns peitos que não haviam espaços nem para florir. Murchei. Insistiram e eu desabrochei, criei raízes com amor próprio, às vezes ia embora. Com o tempo, aprendi e tomei gosto por partir. Se não fosse pela tempestade a gente nem saberia que florescia.
Garoto... nunca soube da sorte que tinha, muitos queriam, enquanto só você tinha... pena que se perdeu.
Se achar dá um trabalho. Toda hora a gente recomeça. Toda hora a gente desmonta. Mas o importante é recolher o que ficou de bom e se refazer.
Tropeça e cai
Tropeça e vai
Vai sem medo
Dos teus abismos.
Preste atenção no céu, as estrelas também sorriem quando a vida parece difícil.
É, tem acaso que acontece e parece que já estava escrito.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Primeiro encontro


Primeiro encontro é engraçado. A gente treme, passa perfume a mais, troca o par de meia duas vezes, se olha no espelho cinco vezes, na sétima vez quer se refazer, procura ensaiar o que vai dizer; seria legal contar as derrotas anteriores? Lembra do último encontro. Nossa, foi péssimo. O antes desse até parecia que ia durar... Quase esquece e vai com a roupa amarrotada. Soa um pouco. Amarra o cadarço do tênis. Dá uma conferida no espelho, atira um sorriso, respira fundo e vai.
Mais coragem do que calma. Frio na barriga, as mãos até tremem. Nervoso. Ansiedade. Tum-tum bate mais forte. Tenta se acalmar. Respira fundo, bebe água. Lê mensagens no celular. Guarda o celular. Pega de novo e confere a hora. Será que cheguei cedo demais? Será que não está demorando? Trânsito é sempre um problema.
Chega. Sorriem de nervoso. Quase congela nesse instante. Sorri mais um pouco. Quebra o gelo. Fala da vida. Esquece o texto ensaiado antes de sair. Deixa acontecer naturalmente. Fala da economia, carnaval e cita uma poesia. Gosta, discutem culinária e planejam um cinema. Eu música, tu poesia. Eu samba, tu rock n' roll. Eu passeio no parque, tu trilha ecológica com cachoeira. Caminhos e viagens em alguns minutos. Se olham um pouco e se abraçam. Beija ou não beija? Tímidos, beijam. Se gostam. E agora? Incertezas.
Gostam de museus e teatros, não dispensam barzinho com amigos e sorrisos, discutem até futebol e prêmio nobel literatura. Atura ou surta? É muita coincidência, pensa alto. Sentem receio. Alguns silêncios gritam; outros, mudos.
Sorriem de novo. Se derretem. Olhando nos olhos. Beija mais um pouco. Está tarde. Amanhã acorda cedo? Eu também. Mais uma linha. O último abraço. Mais um selinho. Outro beijo. E mais outro. Já nos despedimos. Inquietude. Silêncio. Vai com Deus. Fique com ele.  Quando chegar, avise. Você também. Pulginha atrás da orelha. Quem manda mensagem primeiro?  Vou dizer oi. Eu também. Claro, cheguei bem. Foi ótimo. Foi um prazer. Está bem, beijo, boa noite. Boa noite, se cuida. Nos falamos depois. Com certeza. Durma bem.
Amanhã será que vão se falar? Acha que vai rolar? O último não rolou. Antes desse até que fluiu bem. Nossa, aquele outro foi péssimo. Ele beija bem. Foi uma noite agradável, para um primeiro encontro, foi melhor do que esperava. E o que esperar do amanhã? Reservo apenas alguns instantes ou vou ajeitando a vida?

Hudson Vicente.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Saí para olhar o mundo




Vamos sair e olhar flores, correr essa estrada sem tempo de olhar para trás. Você sente que seu coração pulsa mais rápido quando eu estou perto, e eu vejo você sorrir e cantar como se a vida fosse um nascer do dia, leve e brilhante.
A gente no ponto mais alto da montanha pensava em voar, o vento passava tão rápido que arrepiava todos os toques na pele. Eu segurei sua mão e te olhei no fundo dos olhos. Fechávamos os olhos e flutuávamos feito penas de asas soltas do pássaro mais bonito da natureza. Era azul e verde para todo lado.
Cantava sem medo de errar a letra, no ponto mais alto da montanha. Cantava sem medo de errar a letra, no ponto mais alto da montanha.
Por segundos a gente sonhava. Quem nos tiraria dali, no ápice do amor? Sem medo do mundo nos abraçamos e sorrimos como se o tempo tivesse parado; a gente aplaudia o sol; o vento soprava como se a vida fosse fácil de ser encarada. Segurando sua mão, ela era.
Ninguém entenderia a paz descoberta naquele instante. Era um encontro de dois mundos em um só planeta. Viraríamos estrelas, quando o céu escurecesse e o sol fosse embora, dando lugar à lua: formosa.
Mil vezes eu eu te abracei, perdi a conta de quantos infinitos daria para construir em frações de segundos. Amor, eu voei.
E partimos dali, repletos de imensidão. Silêncio e vento no rosto. Sentia frio e tremia como um barco velejando em alto mar. A vida também acolhe e nos deixa sonhar.
Voe, voe, voe.
Inspire toda natureza que te cerca. Aprecie a paisagem verde e marrom das montanhas. Lá na cidade grande ninguém vai te notar e nem te fazer infinito como fomos.
Te trouxe flores e poesia. Não as tire do seu caminho. Quando for embora, pra não mais voltar, não esquece de mim. Aqui dentro também é seu lugar. Te guardo nesse cantinho bonito, feito essa paisagem que é só nossa. Vamos encarar, a vida ficou mais leve e feliz. Meu sorriso foi tão aberto contigo, quando saí para olhar o mundo. No meu caminho eu escrevi AMOR, igual tatuagem na pele. Nós também temos um ao outro.

Hudson Vicente.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O mundo precisa se abraçar mais


Você apareceu, sorriso aberto, olhos esbugalhados. Parecia que me conhecia de anos. A música não era mais alta que o barulho do teu peito. Sentia que havia sentimentos.
Era impossível não te amar, você disse; eu disse de volta, é impossível não te amar. Assim seguimos voando feito balão azul rodopiando num céu fragil e sutil. Sonhei de olhos bem abertos pra não te perder de vista. A bala batia mais forte, tua melhor lembrança, é meu coração acelerado.
Fica mais um pouco. Fica até quando puder. Tem gente que é verão, até mesmo em noites de inverno. A gente juntou cada parte que se partiu. E dois mundos se encontraram.
O mundo precisa se abraçar mais. O abraço é a melhor parte do amor.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

A gente se acha


Triste é querer beijar e não poder. É estar perto e não abraçar, não conseguir alcançar. Te sentir de longe e ficar aqui, preso sem gritar. A gente sempre espera do outro um pouco mais de paciência e compreensão. Depois de tanta solidão, depois de tanto se entregar, cansa se doar. A gente percebe que ninguém veio com manual de instruções. É difícil pra caramba repor peças dentro da gente, reconstruir, desmontar... vai ter coisa que vamos bater cabeça e não vai encaixar. Muitos vão deixar pra lá. Eu não. Eu vou fazer questão. Por mais que me doa. E dói. Pode escrever aí no seu caderninho de anotações: eu não nasci pra ser covarde. Se é para amar, eu vou amar. Se é pra ficar longe de você, eu não vou embora agora. Vou ficar mais um pouquinho aqui e vou tentar. Não por ninguém, mas por mim. Quero vê olhos brilhando, sorrindo. Quero assistir a milhares de pôr-do-sol da janela do quarto que dá de frente pro mar. Tem cena mais bonita? Quero vê gente que se gosta sorrir à toa. Escutar e não me aborrecer com o barulho do caos lá fora, da buzina do carro, sol caótico sem hora para ir embora. Quero assistir crianças correndo na calçada, apertando a campainha do vizinho mal humorado e se escondendo. Se ele te visse como eu te vejo, talvez os seus dias seriam mais amenos.
É uma delícia te ver. É um prazer poder sorrir com você. Teu nome eu já escrevi depressa e devagar. Eu já gritei e sussurei diversas vezes no meu sonho. Como eu sei? Só eu sei. No raiar do dia, toda mensagem que recebo penso que é sua. É uma agonia passar o dia sem poder te tocar. As horas sempre demoram a passar. Tudo passa, menos você.
É triste ficar longe, querendo estar perto. É pior ainda, se a gente não tentar, se a gente não caminhar, dia após dia. Vamos encarar? Não é fácil, senão der certo a gente se vira. E se acha...

Hudson Vicente.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Eu nunca recebi nenhuma carta de amor



É inevitável. Saudade se escreve com pressa. Te amei demorado pra ver se você ficava. Mesmo sabendo que ninguém fica. Já me acostumei com as partidas. Todo mundo já partiu meu coração. Talvez porque nunca liguei para reciprocidade, antes. Hoje, não. Qual o sentido disso tudo? Embora nunca tenham morrido de solidão, às vezes, aos poucos, me sinto partir. Também não sei aonde ir.
Reencontrar o passado, vestindo outra roupa, beijando outras bocas... foi uma agonia te ver distante. Eu sei que a vida seguiu. O globo deu tantas voltas, você era outro, porém com o mesmo sorriso. O mesmo corpo, com outra bagagem. Foi sem sentir saudade.
Não vamos ser cruéis, vivi o meu conto. E se acabou. Te escrevi tanta coisa de amor. Agora vejo que poderia ter sido um livro ou quem sabe, uma receita de remédios pra curar corações partidos, esquecidos, solitários. Ainda sinto gosto do seu último beijo, em outras bocas. Em outros sonhos. Vou guardar pra mim. Na gaveta das memórias, bem lá na parte bonita. Lá dentro do peito.
Tem amor que a gente guarda para sempre. Nem mesmo vivi a eternidade. Apesar de que, não tenho do que me lamentar. Mas eu nunca recebi nenhuma carta de amor. Não vou desistir de tentar. Deixei lá no passado a nossa foto na beira do mar. 

tem nome de anjo
parece um poema
sorri aberto
de olhos quase fechados...
é feito de céu
imagina a cena.

Te guardei nesse cantinho bonito que eu chamo de amor.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

(R)evolução



amor,
fica!

de vez em quando
vai

tem 'vez' que solta
demora
implora
quase chora
e não quer
mais

volta

teus
caminhos
noite
céu
lua
estrelas
não esquece do mar
e golfinhos

peixinhos
e passarinhos

mais parece outro poema
de amor?

tente não falar de dor
é um mundo confuso
e a gente perdido
em busca de ninho

carinho
às vezes
faz falta

métrica confusa
não vou te explicar
nem sei bem dizer

escolho qualquer caminho
sigo o que tiver mais alma
sem pressa pra não atropelar

escrever é se encontrar

nunca aceitei ficar
no mesmo lugar por muito tempo

me responde de alma livre:
o amor te dá medo?

Hudson Vicente.

terça-feira, 31 de julho de 2018

Tropecei


Você se esqueceu de falar que ia chegar em casa mais tarde.
Eu te disse, não chega mais perto e nem vem.
Você não me liga, não me fala da tua família e não chora, meu bem.
Eu te digo que vou entender, é ruim demais querer subverter essa falta em agonia que você tem.
Já se passou das três, eu que estava assistindo filme inglês, não aguento mais teus dramas e tantos clichês.
Que história mal contada: o mocinho atropelado por um serial killer em perfeito estado.
Você já sabe que não me convence com esse seriado de falso burguês.
Até assistiria do seu lado, a trilha sonora que a gente reluta pra não ouvir rock em francês.
Vai dar quatro e dezesseis, teu desespero em querer reafirmar a história de um cara sem proteção já não me causa mais comoção, me cansou, talvez.
Apague a luz e deite no pé da cama, em silêncio redobrado, antes que eu me desespere e te mande pra sala, para não gritar e me mostrar desolado, não diga que me ama.
Eu bem que tentei, eu bem que te avisei, a gente só se dá bem separado.
Você no seu canto e eu pro meu lado.
Amar também é aceitar que nem todo mundo nasceu pra ficar junto, apesar de se gostar.
Tudo tem seus laudos. O psiquiatra, sentenciou e disse: cada maluco com suas bizarices.
É tolice esperar o fim de braços cruzados.
Boa sorte, cansei de rimar eu e você e trocar por nós.
Não combina, perdeu a rima, a batida, a poesia.
Pê esse: eu te desejo um bem danado.

Hudson Vicente.

terça-feira, 17 de julho de 2018

Nasci com olhos no céu



Hoje a lua escureceu. No céu não consigo ver estrelas. Parece que se esconderam. Senti como se o mundo tivesse acabando. E não era nem o fim do dia. Em algum lugar, alguém partia. Versos que sussurravam, nem rimavam mais. Sofria como se tudo estivesse em agonia. Respirava como se fosse explodir. É uma guerra ser e não saber. Como proceder? Te olham de cima, sem doçura ou encanto. Querem sempre mais. E mais. Pouco oferecem. E cobram mais.
- Quem é que para aqui, respira um segundo, e te dá as mãos?
- Até eu já me esqueci como se reza. Será que alguém vai olhar por nós? Tenho lá meus lamentos. E dúvidas e desprazeres com a vida. Falam sempre: 'não se desperdiça, é um pecado!'
- Acredita em Deus agora?
- Não tenho tempo, isso é uma grande viagem. Ainda me olham com desconfiança. No sonho, é tudo escuro, ninguém escuta o grito.
- De quem?
- Dos fantasmas. Das bruxas. Meus. Do mundo.
- É espiritual?
- Não sei, me parece real. Meu medo é tudo dá certo e o fim ser inevitável. Me liberta do agora, preciso acordar. Quem se importa que seja uma quarta-feira? Onde está escrito que eu não posso recomeçar? Dá licença, vou me salvar (de mim).
- Olhe, no céu parece estar escrito amor.
- Então cuidado, não aponta para o céu e não conte as estrelas... vai que te nasce verruga nos dedos...
Hoje a lua está do jeito que o céu gosta...

Hudson Vicente.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Me escuta com o coração


Um sonho, sonhei. Caminhava sozinho, de volta para casa. Não enxergava ninguém ao lado. Não sentia o vento no rosto, ninguém passava. O que a gente perde quando se entrega demais? Um pouco de nós ou o resto deles?
Não ouse justificar o passado, ele não serve daqui pra frente, é uma roupa suja e não combina com mais nada. Parte de mim quer ficar. Parte de mim já foi. Parte de nós, já se perdeu. A outra metade assiste tudo e nada faz. E a gente sabe que ainda há vontade e olhos brilhando. Há presente e futuro.
Eu tenho medo. Ele tem receio. Eu tenho coragem. Ele maturidade. Eu quero voar. Ele orientar o voo. Eu liberdade. Ele escolha. Eu caos. Ele calmaria. Nós dois juntos: euforia.
O orgulho não dá o braço a torcer. Por favor, esquece tudo lá fora. Não erre por mim agora. A gente pode tentar, só basta querer.
Se eu te convidar, domingo, para assistir um pôr-do-sol, vai me escutar com o coração?

Hudson Vicente.

terça-feira, 3 de julho de 2018

Eu quero contar de você


Alguém sempre vai sentir demais. Eu tenho medo é de errar. Por ser cedo demais. Por querer demais. E acabar tropeçando. Faz tempo que não fica ninguém por aqui. Tem sido raro alguém querer fazer companhia, olhar no fundo dos olhos e vê refletindo reciprocidade.
É como numa corrida de carros, a estrada pede para ir com calma, e eu no desespero, ponho o pé no acelerador... disparo. É perigoso. Corro o risco de atropelar um monte de coisas. Sendo que o medo é ficar para trás. Ninguém vem com manual de instruções para nos coordenar em como agir.
Sinto o vento na cara, pista livre, e você parece bem proximo, é minha linha de chegada. Vai batendo um desespero de não conseguir chegar. Meu único adversário parece ser eu mesmo e esse medo danado de não te alcançar. Às vezes você fica bem perto, tem hora que está tão longe. Eu acelero e reduzo a velocidade. É difícil fazer alguma coisa. Passo o dia todo tentando finalmente chegar no ponto de partida. Ou seria chegada? E se já tiver partido? Sou inseguro, tenho medo de não ter mais ninguém lá. E eu vagar e vagar sozinho.
Quero te alcançar. Quero chegar perto da curva da Vitória e te ver lá: sorriso e braços abertos, pronto para comemorar comigo. Pronto para estar lá e subir no pódio. Levanta a bandeira, grita, faz algum sinal. Embora afobado, tento ir com calma. Eu quero mesmo é o que vem da alma. E adoraria caminhar contigo de pés descalços, sem pressa, com vento no rosto. Nessa vida, já corri demais. Chega. Me deixa louco. Deixa eu te encontrar. E contar de você... O oposto do caos é calmaria.

Hudson Vicente.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Fecha os olhos, vamos voar!



Vai aparecer no momento certo quem for essencial. Seja numa fila de banco ou numa pista de dança eletrônica. Sorrindo e tocando sua música favorita. Canta a letra, nem importa se errou os versos mais bonitos.
É no sorriso do fundo dos olhos que almas se reconhecem, que mentes se conectam e corpos se entrelaçam. Era noite, mas não se via o céu. Fazia frio, mas não se podia sentir.
Na hora certa do relógio - atrasado - do tempo, você apareceu. Sorriso aberto, olho no olho, me enxergou quando todo mundo só me olhava com pressa. Nesse mundo é raro. Tudo fica mais leve quando a gente divide.
- "Que bom que você voltou!"
- "Que bom que você apareceu!"
Hoje eu me sinto bem. Até o som da sua risada sem graça me faz bem.
Voa comigo?

Hudson Vicente.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Quem você consegue ser no final do dia?



Quem você consegue ser no final do dia?
tem afeto aí?
de fato, relevo.
aceito teu jogo.
suspiro. não digo.
vou bancar o tolo.
inocente, entrei no teu jogo.
não era competição e dancei.
sem mesmo ouvir a música.
fui chamado de louco, que bobo.
quem aqui sentiu e persistiu
no mesmo erro de novo?
agora já é tarde, do dia só restam poucos minutos.
se acalme, amanhã a gente tenta novamente.
é uma delícia ser o que é.
há quem duvide de nossas escolhas, tudo bem.
o importante é seguir apostando que no final do dia
tu vai olhar para si mesmo
e saber quem a gente consegue ser depois que vão-se embora todos.
tem sobrado afeto aqui.
quer receber um pouco de mim?
tudo que fui, já me transformei.
renasci um pouco diferente todas as manhãs.
nunca é tarde para seguir tentando, não é assim que dizem?!

Hudson Vicente.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Esse momento é meu



Andei sozinho a praia toda e nunca chegava no fim. Beirei a areia e o mar. Sentia o vento soprar no meu ouvido; o canto do mar. Poderia até jurar que ao longe, avistei uma sereia. Parecia rainha. Toda de branco-azul-d'água. Cantei todos os versos que me lembrei. Procurava algo que nem sabia que tinha perdido. Ou não queria lembrar. Era de manhã-quase-tarde quando comecei a caminhar. Sol nas costas já nem ardia. No fim de tarde, senti frio. Vi o Sol se pôr dentro dos meus olhos castanhos.
A multidão calava. Era eu e eu perdido na minha própria confusão. Em paz, anoiteci. O sereno acolhia. As estrelas, no céu eram lindas. Dizem que água com sal cura. Minha alma pura era de verdade. Não tive tempo de sentir saudade.
Escrevi todos os meus medos na areia. O mar vinha e apagava. Brincava comigo. Eu sentava e sentia; às vezes, não satisfeito, vinha revoltado e me levava, logo me devolvia. Fiquei por horas no vai e vem da maré. Era mansa. Era minha amiga.
Esqueci o caos lá fora, me concentrei no que estava aqui dentro. Explodia, algo em mim tão forte. Era o gozo da alma. Caminhava e observava a imensidão. Mar e céu se confundiam. Não sabia onde começava nem onde terminava.
É claro, eu achei o infinito. Não toquei, não contei, não dividi. Senti. Descobri: é imenso. Não tem fim. Onde começo? Pelo mar. Meu fim? Que seja doce, essa água salgada. "Eu gosto mais dele assim: quando ele sorri azul, pra mim!".

Hudson Vicente.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Gira deixa girar




Esse trem vazio,
passa em silêncio.
Não há passageiros na estação.
Vai de um ponto ao outro.
Ninguém desembarca.
O ponteiro do relógio parece cansado.
Já não marca mais uma hora.
E o vai e vem da multidão,
cessa.
Não tem mais gritaria.
Os camelôs já foram embora.
Bem vindo a minha cidade cinza.
Parque abandonado.
Ninguém mais gira na roda gigante.
A vida,
essa montanha russa,
de desgovernada,
está quieta.
Isqueiro aceso pra acender o cigarro.
Bombeiro não passa,
nem corpo em chamas.
Garrafa de cachaça barata,
quase vazia.
Quente,
desce queimando.
Hospitais sem leito de morte.
Dá até pra desconfiar que não há mais nenhum sofrimento.
Praia parece seca.
Mar de água doce.
Não tem piranha pra aplaudir o pôr do sol.
Vai vendo a vida regredindo num buraco negro.
Sem fim.
Grita,
mas não te escutam.
Sorri,
apavorado e te enxergam,
louco.
Travado.
O cacto parece abraçar o balão.
O espinho faz carinho na flor,
que não é rosa.
Céu azul é preto.
Passarinho não voa,
caminha.
É tudo de trás pra frente,
meio torto.
Gira,
deixa girar.
Acorda.
Está tudo bem?

Hudson Vicente.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Te convido a olhar a lua



A gente queria se entrelaçar. Nossos lábios parecia que se conheciam há muitas décadas. Nossas mãos suadas, ainda sentiam calafrios como se fosse uma tarde velha de julho. Olhávamos de todas as formas, sorríamos e nos reviravámos para todos os lados da cama. Era mais que desejo e tesão carnal. A gente fazia amor com o olhar. Eu me desmanchava no corpo dele. Ele deslizava no meu. Não parecia que era nossa primeira noite. Nem tão pouco parecia que seria o último dia. A gente se entregava pela alma. A dele, tão linda e singela. A minha tão quente e acolhedora. Num misto de amor e tesão a gente gozou. Suspiros. Gritos. Gemidos. Carinho. Força e rouquidão. A gente gozou. Plenos. Sem vergonhas. Nem a noite estelar foi capaz de nos dizer aquilo que o peito sentiu. Transbordou. Sorriu. Fica mais uns minutos aqui e coça minha cabeça até eu dormir. Deixa eu repousar no seu peito, que você já fez morada aqui.
Te convido a olhar a lua. Pretende ficar ou ir?

Hudson Vicente.

sábado, 28 de abril de 2018

Como um velho amigo seu



puxa a cadeira. senta aqui nesse banquinho de madeira do meu lado. posso pedir a cerveja? será servida em copo de requeijão. escolhe algo pra comer. cardápio plastificado. garçom, pode mandar a mais gelada. deixa eu cantar nesse dvd improvisado de karaokê. a nossa canção.
não me olha agora. ainda estou escolhendo a segunda música. a tia do amendoim passa e deixa um pouco pra gente provar. o tio das rosas passa e te olha. me encara. você disfarça e fica sem graça. eu sei que você espera que eu te compre uma rosa. abro a carteira e peço logo o buquê. ele ganhou a noite. sorri de orelha a orelha. a gente ganhou vida. você me ganhou quando eu te vi. eu te ganhei quando você sorriu de volta. e não foi para mim.
mas parece que agora o resto do mundo já não importa. canto pra você Nando Reis... "estranho seria se eu não me apaixonasse por você...". eu também me sinto como um velho amigo seu...
faz frio e te cubro com meu abraço. sou seu melhor casaco. você é capaz de ouvir meu coração bater. quem olha em volta não faz cara feia. nem estranha a cena. me sinto em casa. é como se a gente fizesse morada.
te escolhi sob o olhar das estrelas. você me acolheu nessa gelada noite de outono. te desejo pela vida toda. se for um sonho, me deixa dormir. eu preciso sonhar. só mais uma eternidade. antes de partir.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Sensações



Traz mais uma dose, enche o copo que eu vou virar tudo de uma vez. Preciso me sentir assim: poderoso, desejado, feito uma carreira de cocaína, onde todos querem me cheirar. Cansei de ser o bom garoto e ninguém nunca entender meus sentimentos. Gosto muito mais do vilões. Tentei desafiar o perigo, desesperado, procurando luz para refazer meus caminhos. Errei em todos os romances que apostei. Nenhum deles vingou. Quebrei a cara e o coração. As pessoas sentem prazer em partir os corações alheios. O mundo é cruel, estamos vivendo cada dia com menos interesse. É a era do desapego. Isso tudo é perverso e caro. Quem vai pagar essa conta?

Como é que vou esquecer meus sonhos agora?
Nem todos os dias o reflexo no espelho é bonito e gentil. As segundas-feiras costumam ser pesadas. É um longo caminho levantar-se da cama com o corpo pesado e a moral detonada.
E aqueles olhos, como vou esquecer? Ele tem sonhos tão bonitos dentro dele. É capaz de te desejar pela vida toda. Ouvi dizer que leva tempo, às vezes, uma vida, se tornar aquilo que você nasceu para ser. A busca é incessante. A vida não é feito um balão mágico, é cheia de (in)certezas.
O gelo vai derretendo e eu me sinto nauseado com toda essa sujeira. Queria que meus olhos já não fossem capazes de enxergá-los. Já é o sétimo cigarro que acendo, numa tentativa desesperada de acabar com a pouca dignidade desse lugar. Em vão. Não desce. Nem esse cheiro de maconha me encanta. Me enjoa.
Meu coração, acostumado com tristeza, quando se vê alegre, estranha, não me pertence. Quando sorrio, 'desaguo' em mares, desafio todos a minha volta. Quem paga o preço é o papel. O silêncio lá fora, protesta em forma de solidão. O caos grita. Todo mundo ouve.
Não aguento mais pôr um pingo de álcool na boca. Se eu fechar os olhos agora e olhar para o céu, sei lá se eu viro infinito... segura minha mão se doer. Se eu gritar, me abraça forte. É só uma onda errada. No último flashback, me vi entrando em um buraco negro e minha vida regredindo.
Foi só mais uma viagem... Deixa girar...
- Até onde você vai, garoto?
- Meu medo é tudo parar!

Hudson Vicente.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Respeite minha solidão


Tomei um porre.
Tomei vergonha na cara.
Tomei no cu
ao me lembrar de você.

Corri feito um desesperado quando vi o mar. Quem via, ria, achava simpática aquela cena. Eu estava uma zona, mas quem notaria?
Corri igual criança para abraçar o mar, me perdi em todos os encontros. Não consegui lhe abraçar, ele escapava. Senti vergonha, vontade de sumir. Suas ondas iam e voltavam, eu queria ir mais a frente, ele me trazia de volta pro raso. Não queria me deixar partir. Aceitei. Meio contrariado. Fiquei observando seu ir e vir. Por mais longe que eu tentasse ir, ele me traria de volta.
Sentei na areia, sol forte nas costas. Chorei. Sozinho. Perdido. Igual criança. Ele me ignorou. Aos poucos foi me tocando. Leve, sutil. Beijou meu ouvido, quase me encobriu. Parecia palavras doces. Me entendeu por um minuto o que era partir.
Observei, infinito, a imensidão. Lhe toquei, enfim. Ele ria pra mim. Eu lhe devolvia o sorriso. Meio apavorado, fechei os olhos e agradeci. Um suspiro longo, intenso, terno.
"Tenho tanto sentimento dentro de mim que quando falo deles me sinto pelado e com vontade de vomitar". O que eu faço com isso tudo aqui? Não gritei, não disse mais nada. Só chorei, de frente pro mar. Quando ele me tocou eu senti que eu era forte de novo. Obrigado pela coragem. "Vou sempre ao mar para me encontrar! Respeite minha solidão!".

No mar
meu amor
vira onda.

Ressaca dura? Só água salgada cura!

Hudson Vicente.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Parece partir


O tempo vai levando tudo. A saudade que aperta, a carta que escrevi a lápis e se perdeu; o perfume acabou e já não tenho mais o mesmo cheiro, o aroma agora é forte; minha série favorita foi cancelada, até minha viagem foi adiada; não entrei de férias no verão, passei os dias fugindo de mim, atrás da verdade numa canção que não foi feita para sorrir.
Chorei em um fim de tarde de domingo, exausto. Usei ilícitos para me esquecer; acordei numa cama qualquer, ao meio dia, com sol na cara; a cabeça pouco se lembrava do que o corpo havia feito. Foi melhor assim. Saudade se escreve com pressa.
Senti falta da família reunida como numa fotografia tirada as pressas, na década passada. Parece que foi ontem. Mas não foi. Pai, seu menino sente tua falta. Ele também não é feliz.
É claro que o céu agora está com estrelas, mas sua tristeza não te deixa enxergar. Limpa estes olhos lacrimejados. A lua está opaca. Pouco brilha. Parece sentir de tão longe a tua tristeza. No final da noite, tenta sorrir. Se o caminhar for difícil, tentar sorrir. Nem chá nem café vai resolver isso aí, vai ser sorte!
Viver é uma inconstância. Tem dias que vai estar tudo lindo, céu azul e o lugar suportável. Tem dias que não. Vai dar tudo errado, é barulhento e trágico. A cidade grita, chora e eu me comovo. Tudo meio cinza, nestes dias, me recolho. Não tem dança. Parece fim.
Ele só queria alguns dias não existir, porém as pessoas lhe obrigam a fazer o papel de gente grande, maduro e correto. Cadê aquele menino? Ele tinha sonhos tão bonitos. Cresceu tão rápido que mal deu tempo de dizer para ele não esquecer de sorrir. Vocês estão todos errados. O menino entrou em desespero. Virou adulto e ninguém notou. Só cobrou. E a gente paga um preço por crescer. Tão caro que nem tem valor. Menino se perdeu na dança. Errou todos os passos. Construiu uma armadura, estranha e grossa. É difícil penetrar. É difícil ser sonhador. Ninguém tem tempo pra você. O amor ajuda a vencer.
Quem é você? Sozinho, trancado no escuro do seu quarto, apavorado, com os monstros dentro da sua própria cabeça. É real. Ninguém mandou errar o passo da dança.
Ele é a cara do pai. Sente saudade dele também? Cadê seu pai? Menino rebelde. Tem tudo o que quer. O que mais você quer? Vira homem! Mas chora igual criança... Não vai aprender nunca. Eu não te conheço. Cadê seus amigos? Mãe, seu filho parece partir. A dor de ser exatamente nada, é cruel. Quem vai coçar sua cabeça, te dar beijo na testa antes de dormir e dizer que te ama? Seu monstro é seu próprio espelho.
Virou gente grande. Seu maior pesadelo é sua realidade. Ninguém notou durante muito tempo que a cada dia ele vai indo embora. Era um menino de olhos brilhantes. Hoje, é um adulto triste. Pede socorro. O mundo está te perdendo.
Vai morrendo aos poucos o menino.
Alguém salva ele dele mesmo.
Desculpa meu grito, o meu tempo está passando. Preciso chorar. Vou sempre ao mar para me achar... Respeite minha solidão!

Hudson Vicente.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Romance de quinta


Parecia madrugada quando te mandei mensagem, era bem tarde da noite. Senti tesão e te procurei. Não precisa fazer essa cara de reprovação. A nossa pele se gosta, vamos admitir: a gente não dá certo junto. Só na cama.
A nossa vida seria ótima se não existisse o pós-transa, os dias, a rotina e as obrigações sociais. No papel nossa história é real mas não existe. É só sexo.
Falei muita sacanagem porque sei que você gosta. Sem reprovação, tira essa cara de espanto do rosto. Sorri pra mim, maliciosamente, como só você consegue me deixar 'molhado', olhando pra você. Me arranha as costas e me morde, xinga enquanto geme e pede pra eu continuar a foder contigo. Não me canso nunca de "bater várias" pensando em você. Ninguém jamais me chupou assim.
Eu ficava excitado dentro do ônibus e até dentro da igreja. Deus com certeza iria me perdoar. Ele iria me 'condenar' inocente ou culpar de vez, quando te visse nu.
Várias vezes eu quis dormir e você abusar de mim, safado, eu sempre deixei. E suplicava teu corpo nos dias mais tórridos. Precisava gozar de prazer. Soltar toda porra nojenta daqui.
Zangava quando você só queria fazer amor. Essa história de "arroz com feijão" me brochava! Você nunca aceitava, mas sempre me chupava com gosto de quero mais e pedia sempre pra gozar dentro da minha boca; eu deixava, é claro, não me respeitava e ria.
Sem pudor ou pena, batia com seu "nervo ereto", gostoso, na minha cara. Eu amava e te chupava até as bolas. Você delirava e pedia pra não parar. Gozávamos felizes, após, eu só queria me limpar, virar pro canto e dormir em paz.
Você encostava a cabeça no meu peito e dizia palavras bonitas, filosofava... Você me amava depois do orgasmo. Isso me entediava. Não era sua culpa. Você era um amor. Eu só um sexo. O melhor. Mas não queria criar sentimentos.
Você já tinha vínculo. Eu não queria romance. No máximo, contos. Eu era sua poesia encantada, você minha fábula encontrada. Você criou o roteiro, eu critiquei a história. Você encenou os personagens, eu desconstruí a história.
No final da mensagem eu disse que estava com saudade. Não foi o suficiente. Você mandou eu me foder. Eu tenho fodido, pena que não é com você...

Hudson Vicente.

terça-feira, 6 de março de 2018

O amor é casual


Tem amor que demora.
Tem amor que vai embora.
Tem amor que não volta.
Tem amor que esquece e chora.
Tem amor que faz rir.
Tem amor que faz cantar.
Tem amor que faz voar.
Tem amor que faz sonhar.
Tem amor que se perde.
Tem amor que se acha.
Tem amor que reinventa.
Tem amor que a gente tenta.
Tem amor que a gente não consegue.
Tem amor que a gente recomeça.
Tem amor que a gente acaba.
E a vida segue.
Mas o amor, ele sempre fica.
Nem que seja numa lembrança. O amor é memórias. É a saudade numa terça-feira ao contrária. Numa mesa de bar ao som de algum bolero. Numa piada inocente que deixa qualquer drama contente. O amor é casual. Trágico senão fosse cômico. São epílogos infinitos. O amor é qualquer mistério no ar, feito pra somar.
Você vai embora se eu sumir?
O que você entende de amar?

Hudson Vicente.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Um convite


Vem aqui em casa, me faz companhia, abre a geladeira e abre uma cerveja. Comprei sua coleção de discos favorita. Me conta de você, como foi de férias, como anda a faculdade e seu brilho nos olhos com o futuro. Conta suas bads, seus pseudoromances e suas angústias com a previsão do tempo que pode atrapalhar sua ida à praia. Vamos conversar sobre o cotidiano e a possível (utópica) volta do Los Hermanos. Eles sabem mais de nós do que nós mesmos. 'A gente sempre peca na vontade de ter um amor de verdade'. E se precipita.
O carnaval acabou de acabar. E todo o resto também. Aquele amor que virou quarta-feira de cinzas, não me deixou surpreso. Sabe, de tanto cair, quando vem algo para te derrubar... mas você já está no chão. Acontece. A gente ri. E segue o baile.
Se sentir frio, eu fecho a janela. Talvez a gente perca a paisagem e não enxergue com tanta clareza esse céu de estrelas tão lindo. Gosto de gente que sorri com os olhos. Quando tenta disfarçar timidez olhando pra baixo.
Você errou mais um tom no acorde do violão, mas deixei passar despercebido até porque me perdi em qual página do livro eu estava lendo.
Vou completar mais um Outono. Sei que você gosta de flores e desabrocha antes mesmo da Primavera chegar.
Obrigado por aceitar o convite. Pode sempre me contar de você. Deixa eu te falar mais uma coisa nesse momento: teu sorriso virou infinito quando olhei pro teus olhos sorrindo pra mim.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Amor de carnaval dura?


Cuidado com os amores na quarta-feira de cinzas, você é intenso. Até mesmo na fila de espera da entrada de uma festa. Qualquer sorriso despercebido e ele encaixa. Nos sonhos que passam longe de serem pesadelos. Na folia enquanto ele bebe ao som das marchinhas. Você é intenso, se entrega rápido. É sempre assim. "Quem tem alma, não tem calma", você faz valer este verso. E outros tantos que não te escrevo. Por descuido ou por medo.
Silêncio vira infinito, quando a gente sorri um de frente pro outro. E abraça e pede que fica. Você acha graça, faz até palhaçada. Afaga. Fica perto quando sente ciúme.
É verão, final de carnaval. Amor de carnaval só dura carnaval? Ressaca dura! Tudo gira. Fim de festa. Glitter no corpo todo. Alma leve. Coração sem querer decide amar. Vai, aproveita cada momento. Você sabe que ele não é como os outros. E os outros não se sairam tão bem quanto ele. Tem magia? Tem cor? Tem festa. Eu gosto mais dele assim: quando ele sorri azul, pra mim.
É feito céu. Parece frágil. Explode no coração, intenso, cheio de flores. Não poderia ser diferente. Eu, Pierrot moderno, descubro que Colombina não é meu par, quando te olho, Arlequim...
Você é intenso.
Quando esse carnaval acaba?

Hudson Vicente.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Me recuso a afundar



Acordei. Talvez com mais sono do que quando fui dormir. Despertei. Antes mesmo do despetador. E silenciei o barulho do caos aqui dentro. Lá fora as horas vão transcorrerem como tem de ser. E não há nada que eu possa fazer para mudar a ordem cronológica das coisas.
O mundo, esse purgatório, a gente mais sobrevive do que vive. Essa é minha realidade. Olhei pro meu corpo nu, rabiscado, cheio de tatuagens. Quase senti a dor de cada traço que aqui foi feito. Respirei aliviado. É tudo real. Corri para o banho. Foi como tirar toda a sujeira de uma vida em apenas algumas ensaboadas. Me olhei de novo. Agora, me encarei no espelho. Olhei no fundo dos meus sonhos, digo olhos. Não tive medo. Ainda que lá no fundo, brilhava. E então, atirei um sorriso sem graça. Suspirei. Vamos encarar?
Saí para viver o dia. Encontrei uma flor jogada no chão. A poesia está viva. Mesmo quando me escapole. Óculos escuro no rosto. Dessa vez é pra disfarçar as olheiras, e não esconder olhares. Que saudade eu estava de mim. Acordar bem. Disposto. Quase feliz. A rotina me esgota. Bati o portão de casa. Falei baixinho, com a mão no peito: vai dar tudo certo, vai ficar tudo bem.
Já perdi a conta de quantas vezes eu recomecei. De quantas vezes já larguei da mão da vida e chorei no ônibus, mudo, vendo buzinas e carros e gente sofrida, fria e feliz lá fora. É um longo caminho sempre. Deixei a barba por fazer. É meu estado de solidão. Por favor, não interrompam. Fui no barbeiro e cortei o cabelo. Em seguida o trabalho. Mais um dia. Ou menos um dia? Quando se é jovem, a gente conta mais um, um certo amigo uma vez me disse. Mas, no auge dos meus surtos, desconsiderei. Deixei pra lá. Pode ser que faça mais sol, pode ser que chova. São muitas incertezas até a minha volta pra casa. Mas sabe o que eu aprendi com isso tudo? Que nenhuma dor é eterna, mas o sofrimento, a entrega de desamores por ele, é opcional, parafraseando meu grande poeta!
Sempre esperam coragem da gente. Tudo bem, não vou cair agora! Em um dos meus traços pelo corpo, diz assim: "me recuso a afundar" e os pássaros puxando a âncora, o peso.
Com licença, eu vou voar.

Hudson Vicente.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Sábado a noite



Chega sábado.
Sorriso no rosto.
Festa.
Glamour.
Óculos no bolso.
Abraço rápido.
Apertado.
Saudade.
Brinda.
Falsa felicidade.
Entra sóbrio.
Sai transtornado.
Música alta.
Mal conversam.
Trocam olhares.
Beijam.
Se abraçam.
Desconhecido.
Amigo.
Faz tudo o que tem pra fazer.
Se joga na pista de dança.
Viaja.
Acode o amigo passando mal.
Corta a onda.
Faz tudo de novo.
Exagera em tudo.
Não só na bebida.
Que loucura.
O corpo definha.
A saúde ninguém sabe.
Experimenta de tudo.
Faz pra esquecer.
Esquece o que tem pra lembrar.
Felicidade supérflua.
Até onde você vai?
No fundo a gente sabe
Já se viciaram em solidão.
Fim de festa?
After?
Melhor não.
E acaba ali um final de semana.
O que agrega?
No coração nada.
Vazio - da alma.
Você é mais do que isso?
A bad.
E os amigos?
Não.
Todo mundo sabe o que te espera sábado a noite.

Hudson Vicente.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Caixa postal



Às vezes amor é engano
telefone toca
corre pra atender
e não tem ninguém do outro lado da linha.
Quando vai ver, nem paixão era.
Era tesão, acontece.
A gente não sabe o porquê não acontece.
Não era pra ser, fazer o quê?!
A gente se engana
não é triste, mas também não é feliz.
Não tem nem motivo pra sorrir.
Quando se trata da vida
é melhor não saber de tudo
não ter certeza de nada.
Vê? A gente sempre é pego distraído.
Deixa acontecer...
Mas fique atento: uma hora deixa de cair na caixa postal, de ser engano.
E então, silêncio.
O amor é exato, pode ser pra você!

Hudson Vicente.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Coloriu meu preto e branco



chegou sorrindo
não sabia se era comprometido
me deixou um espaço
fiquei atordoado
corri o risco e me entreguei
beijei apaixonado
era cedo demais
me condenaram
malandro - o poeta
fui clichê
fiquei em silêncio sem saber o que dizer
era minha poesia proibida
envelheci com essa paixão
ingênua destemida
bem adolescente
sentia todos os tipos de frios na barriga
as borboletas no estômago voltaram
sorria de um lado para o outro
meus olhos brilhavam
tu culpa o tempo pela tua falta de coragem
não adianta dizer agora que sente saudade
foi um beijo roubado
no canto do rosto
dois sorrisos singelos
quem diria que vingaria
e isso não seria
amor?
tua alma viva
bagunçou meu preto e branco
e agora
o que te afeta poeta?

Hudson Vicente.