domingo, 28 de junho de 2020

Antes das seis


você parece que gosta de me foder
e não apaga a luz
um jeito louco de gemer
não me deixa dormir

me distrai, me destrói, me retrai
a cabeça cansa
depois de horas acordado
enlace

peço amor
para quem só pode me dar prazer
é um remédio pra cabeça
a solidão permanece de luz acesa

como quem nada quer
chega de mansinho
outra noite
esqueceu o vinho

fala no meu ouvido:
dar pra mim?
eu não falei amar
quero te foder

e agora
me satisfaz
no toque
me deixa no chão

mole
fica duro
do seu jeito
com emoção

o que te excita
me excita
nessa foda bem dada
gozar é brindar a alma

antes das seis
sei que não é amor
então me dá mais um comprimido pra cabeça
ou gotas de solidão, por favor.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Não espere um final doce


Às vezes bate uma saudade da escola e de alguns bons momentos, do antigo emprego, da galera do cursinho e depois da faculdade, de descer na hora do intervalo, tomar uma cerveja bem gelada no bar, lotado, dizer que estava cansado... saudade também dos amigos, dos encontros fora de hora, de dar like no aplicativo, se arrepender algumas horas...

É normal olhar para trás e sentir-se triste, perdido num caminho, vazio por dentro, esquecido pela vida. Mas já parou pra pensar que você mesmo se esqueceu?

Nesse mundo apressado, que mal tem tempo de parar e respirar, você parece que congelou. Não reage. Deitou-se na cama e não consegue levantar. É uma luta contra si mesmo todos os dias. Seus pensamentos, suas crises, a sua temerosa ansiedade te invade e te convence que você não é capaz. Ela te puxa para o fundo onde ninguém habita. Assustado com tudo, com o mundo, pobre rapaz, não consegue sair.

É preciso ser forte. Acreditar em alguma coisa para te tirar de lá. O caminho de ninguém é florido como aparentam nessas redes sociais. Todo caminho assim como a flor, também tem seus espinhos. Ninguém sabe das suas lutas diárias, o quanto é difícil levantar-se da cama, o quanto sua ansiedade se camufla na tristeza e te convence que você não é mais capaz.

A depressão é silenciosa. Você faz um barulho, briga consigo todos os dias, em silêncio, seus vizinhos não são capazes de te ouvir chorar a noite, seus pais não escutam seus sussurros em forma de desespero. É preciso falar. É preciso saber pedir ajuda sim, querer recomeçar.

Viver evitando a vida, só vai te levar a um caminho. O fracasso, você conhece, como a morte, está do seu lado. Queria que você não fosse figurante na sua própria história. Esse papel não combina contigo. Viver é muito grande e você nem reconhece seu tamanho, o espelho não te mostra. Parece só um borrão, ofuscado pela derrota. Viver, não é assim. Se escondendo até o fim. Não espere um final doce de mim.

Não vai ter.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Aprendi a lidar com minha loucura

- São muitas vozes.
- Onde?
- Aqui dentro.
- No peito?
- Não, na cabeça.
- E você consegue ouví-las?
- Claro.
- O que elas dizem?
- Não sei, elas gritam. É como se fossem partir.
- Quem?
- Eu.
- E eu?
- Precisa fazer silêncio para ouvir as suas.
- E se nada disserem?
- Você pode estar morto.
- Você está louco.
- Quem de nós não? Agora me dá um abraço? Elas ficam em silêncio quando a gente se distrai.
- E se concentrar-se?
- Elas começam tudo de novo.
- Você está louco.
- Aprendi a lidar com a minha loucura.
- E se explodir?
- Eu não teria tanta sorte... Eu não teria...

Hudson Vicente.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Eu, você e a lua


Conheci um rapaz, trocamos beijos, carícias e um pouco mais.
Enamoramos, só ele, eu e a lua. O melhor relacionamento a três.
Tinha céu, tinha música, tinha nós. Em tão pouco tempo, tinha afeto. É ou não é revolucionário?
Que ninguém me ouça, eu ficaria ali junto contigo por tanto tempo, até a eternidade desconfiaria de tanto sentimento.
Sei lá o que senti, tenho medo de descrever. Outros dirão que foi tesão, não vou negar, te queria, nu, só pra mim, mais perfeito, só o amor.
Ah, e aquela lua também... iluminada, te fazia brilhar.
Quem duvidaria que você era meu astro preferido em toda aquela festa.
Nada separava a estrela do poema. A gente sorria feito de amor.
É tão cedo. Olhei no relógio e parecia tão tarde.
Suspirávamos como dois jovens alucinados. Em busca do que a maioria ostenta, poucos tentam, era vontade de verdade.
Queria ser feliz pra sempre. Felicidade demais enjoa. Não dura, eu sei.
Sua alma me fazia companhia. Nem sei dizer o vi quando nunca te notei.
Alguns encontros a gente escreve pra nunca acabar. Prolonga o caminho, minha alma desalecera, como em êxtase, nós nunca nos conhecemos.
Seria minha fantasia?
Os deuses da poesia que me perdoem, mas eu te encontrei, e perigo não me achar.
Queria eu que essa prosa desse em versos.
Eu, você e a lua. Só.

Hudson Vicente.