segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O céu mais parece você



Mulher: no ápice de sua solidão
Cercada de água, nuvens e verde
Pássaros te sobrevoam
No céu, as nuvens pesadas, não caem
E mais parecem consigo mesma
Fechada, nebulosa
Não tem chão, sobrevoa imersa no nada
Não nada, afunda
Muda mas barulhenta
Grita o silêncio dos desesperados
Sente falta do quê?
Cotidiano feliz, coração preenchido
Anda sem direção, apenas por caminhar
Não sabe aonde vai parar
Talvez 
Mais a frente, uns sorrisos, abraços e afagos
Se afoga no mar em volta, não tem forças para lutar contra a correnteza
A maré alta te puxa
Ela cede
Ceder é desistir de si
Não batalha
Mas ainda sobrevive
Não se sabe até quando...

Hudson Vicente

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Quanta indiferença


A gente senta e observa o nascer do dia, sempre sorrindo enquanto choramos com o barulho do despertador. Vai, enfrenta. Pega sua rotina e caminha sem saber até aonde vai, sem saber quem vai encontrar, sem saber. E as horas transcorrem. Às vezes, transcedemos. Outras, nos mutilamos. Na busca do quê? Do belo pôr do sol da tarde de frente pro mar, declarando poesias enquanto o céu dá mais um espetáculo. Talvez se olharmos em volta e enxergarmos os olhos dos outros não seja tão bonito quanto vemos ou imaginamos que seja. A realidade olho à fora, é cruel. Uma madrugada fria, noite sofrida, quarenta graus de febre, olhos enojados e desacreditados do mundo que estão ali pra quê? Eu não sei. Na onda que bate e volta, que se escandaliza e revolta, o mar se rebela. Grande e infinito, profundo e bonito. Se declara pra natureza. Aplausos. Há choros. Coros. Morros. Mortes. Sorte. De quem vive do outro lado do asfalto. Na frente, os prédios. Atrás, becos, vielas e mazelas. Na frente dessa gente decente, há corações e esperanças. Às vezes cansa. E se desespera com o amanhã ou a indiferença à procura de uma crença para se benzer e perdoar. Na rotina cansada, que briga todos os dias, desejando mais sorte pra virar gente pro povo enxergar. Entre mais abraços do lado da frente, há fumaças e mais ondas, cliques e mais cliques, apenas mais fotografias para postar, recordar, talvez amar. E a noite que cai? Pra onde vão? Vão pro bar comemorar ou chorar a glória das nossas derrotas. Aplausos. Enquanto outros passam e pedem esmolas, um prato de comida pra encher a barriga, ou pedem dinheiro você me olha torto e desconfia. Me renega. Eu te desafio mas aceito porque não posso roubar. Até posso, mas não é porque você tem mais do que eu que eu tenho que tirar de você, alguém ouve e se comove, me dá uns trocados. Poucos compadecem. Eu me viro de costas e me conformo. Subo o morro, posso comprar crack, maconha, pó e até cocaína, mas eu lembro que tenho família. Acho que lá de baixo seus amigos te reprovaram por sua atitude, é só mais um menino de rua, eles diriam. Ele vai se drogar. Daqui de cima, do ponto mais alto da favela eu grito: não, não, eu sou direito doutor! Eu também sei escrever poesias. O que me falta é sorte na vida. Vou deitar no meu barraco, junto da minha família. Você amanhã vai levantar no conforto da madrugada e nem se lembrará de mim, nem sequer da minha cara. Mas daqui de cima, eu vou rezar por você todos os dias. Mesmo que você não acredite, a nossa fé é na vida. Amanhã eu acordo e venço meu dia.
Hudson Vicente