quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Alguns delírios diários



Nem todo o conhecimento explicará.
A estupidez, minha solidão, adjetivos, meus desafetos, tantas reticências...
Vomito cada palavra que em mim não traduz os sonhos diários, minhas mal ditas ilusões.

Na minha bagagem confusa
Escondo esse amor maldito.
Narciso que entende o sentido do espelho quebrado mas é incapaz de se revelar esquecido.

Felizes são os sentimentos leves que a gente encontra pelo caminho.

De alguns lugares, anseio a distância.
Quis muito te deixar ir embora (porque doeu), se escolhesse partir, eu já teria partido.

Até o vento suspirar de volta
Tomara que traga você.

Quando chegar, vai estar uma xícara de café te esperando, vou continuar escrevendo em paz, sem te reparar, enquanto me balanço sozinho na cadeira de canto do velho cômodo mofado.

Ainda te espero sob olhar atento dos passarinhos soltos em cima da minha caixa d'água.

Não precisa tirar os sapatos quando for voar.

Ainda me restam alguns delírios diários sobre nós...

Hudson Vicente.

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Perdi minhas estrelas


Desde pequeno sempre fui muito possessivo, ganhava um carrinho e ele era só meu, a professora da escola tinha que ser minha tia, olhava pro céu e aquela estrela me pertencia, não era de mais ninguém, sentia ciúmes quando me roubavam, via três estrelas juntas e eram como se fossem minhas amigas, eu queria aquela constelação inteira só pra mim e poderia dar os mais diversos nomes a elas.

Cresci assim, tinha tudo que ser meu, eu olhei primeiro, eu falei primeiro, eu amei primeiro.
É uma droga crescer, a gente perde as estrelas, divide os amigos, compartilha nossos pais, doa nossas roupas, e percebe que de quem gostamos, outros também estão interessados. Entende, contrariado, como é concorrida a vida adulta.

E todo mundo quer ser melhor, quer ser algo, quer ser mais, quer ter mais. Eu não. Eu morro de preguiça de disputas, de tão mesquinho que sou. O que olhei e amei, é como se fossem meu para sempre. Mas não é bem assim. Na cabeça da criança, birrenta, narcisa, choraria pelo o que é dela. Já na mente do adulto, crescido, contrariado, a gente entende e sofre um pouco menos. Aceita que perdeu algumas disputas mesmo não querendo participar.

Mas me recuso a aceitar que perdi as estrelas, que aquele mar não é meu, que o azul não é só a minha cor favorita, que o Rio é de todos, que meu poeta não escreveu aquele verso para mim, que a banda não tocou o acorde do violão da introdução de Cara Estranho por minha causa e todos os olhares se voltaram na minha direção, cada um por vez, em cima do palco.

Crescer nos dá a sensação de perda. Nos dá a noção de não ser o centro do mundo. Pisaram no meu pé e eu não posso simplesmente me tacar no chão e fingir que está doendo, que vou morrer com essa dor. Não vou. É compreender que não é a maior dor do mundo.

- eu ainda guardo o nome daquelas três estrelas (Pedro, Severina e Bibi), as minhas grandes estrelas favoritas... e sinto saudade, gente! Há saudade... quando cabe dentro desse nosso porquê!
Bença, Vó; bença, Vô!

Hudson Vicente.

sábado, 3 de setembro de 2022

E se a gente se abraçasse?


E se a gente se abraçasse?
Você ainda não gosta de mim.
Talvez eu já goste de você.
É bom que a gente não confunda:
carinho com paixão.
É sempre importante deixar avisos.
Resumir importância.
Alertar a memória do tempo.
Numa relação, afago é privilégio.

E se por um acaso a gente saísse junto, isso mesmo, eu e você, que pudéssemos rir de bobagens, você me conta suas histórias, eu juro que ouvirei atentamente cada uma delas, e se der tédio, eu te peço pra parar sem que você perceba, sem que ofenda, falando coisas do tipo: o quanto você é incrível. Sim, porque eu te acho incrível. Eu poderia te mostrar que nossa prosa dá em versos. E te recitaria Pessoa. Talvez me 'embananasse' todo na explicação e falaria de Bukowski. O quanto ele me afeta. Poderia te falar das memórias e tudo o que ela ama para ser terno.

Talvez você goste dos meus devaneios, talvez você seja uma poesia prestes a ser escrita e não se dá conta por qual poeta vai te desnudar, não vou te resumir, tão ambíguo, tão forasteiro, tão dono de si, que por um algum segundo, em pensamento, concluí: queria que você ficasse. Mas você é livre, seu espírito cheira liberdade. Embora eu não tenha a menor intenção em te pôr numa gaiola. Meu fetiche é observar seus voos. É admirar daqui, de longe, querendo estar perto, e te aplaudir. Você vai se achar.

Parece coisa de pele. Nós somos gigantes. Eu espero que a gente se abrace. Não como em outras vidas. Agora. Agora que você sabe mais de mim. Agora que eu existo. Agora que eu te quero. Te quero de uma forma livre, sem definições, sem deixar para depois. Te quero como o acaso que escolheu ser sem mais.

Poderia fechar meus olhos agora e ainda visualizar você sorrindo e sendo uma das paisagens mais satisfatórias que minhas memórias inventaram, só pra te contemplar. 

Eu sou inseguro, desequilibrado, cético, um montante de caos, mas depois de você, eu congelei. E não sinto medo em mostrar minhas vulnerabilidades. Até prefiro que seja, que se reconheça em mim, um motivo só para ficar.

E a gente se abraçasse? Como num final de filme, e caminhasse até o final da curva, onde os olhos já não alcançasse, e então, sumiríamos igual fumaça da cena.

Você é uma parte boa de uma realidade ruim. Mas se acaso ficar, você e eu, vou te pedir só um favor: chega sorrindo quando for abraçar antes do beijo.

Hudson Vicente.