quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Renasci do amor


Rogo por ajuda
Dos céus, loucura!
Durmo e mal tenho paz

Enfrento meus tormentos
Pra acalentar meus lamentos
Depois de muito tempo aprendi a viver mais

Sinto que envelheci
Acredite: nem se passaram tantos anos assim
Aprendi a abraçar meu caos

O grito do riso contido
Pede: socorro!
Mas ninguém nota em mim

Já é tão tarde para ir embora
Agora que você chegou até aqui
Não faz sentido querer partir

Como uma criança pequena desesperada correndo no parque
Caí e ralei os joelhos, se chorar os pais vão brigar

Em protesto tento-me refugiar
Os dias passam, mas as horas não
Sinto como se o mundo desabasse em cima da minha cabeça

Com calma
Vou cuidar
Do meu orí

Na vida
Todos os dias
A gente dá um jeito louco de renascer

Soprei meus medos pra longe
Acendi uma vela
Em silêncio transgressor, rezei

Em pânico, uma gargalhada
Era domingo
Me salvei

Luto contra mim todos os dias
Se der certo, axé
Se não der, também

Aos céus, doçura
Pra vida, saúde
Pra nós, recomeços

(Re)nasci do amor
De uma mulher
Dentro de lágrimas.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

O mito do insubstituível


Às vezes me distraio mais do que deveria. Me ocupo o tempo inteiro achando que estou disfarçando. O ponteiro no relógio não demonstra minha preocupação. Fico encabulado pensando se toda essa experiência tem valido a pena. O tempo parece que foi calculado para nos instigar.

Assisto os dias nascerem e morrerem, não dou conta das flores ou das primaveras, estou sempre correndo mesmo parado, não dou conta nem das estações. Mas se abro a janela, está tudo em paz.

A sensação de assistir o tempo passar, me causa estranheza e arrepios. Notei cabelos brancos demais em algumas cabeças, pés de galinhas em alguns sorrisos, peles enrugadas por vários corpos, muitas marcas de expressões como num todo. Estamos envelhecendo. É estranho algo tão natural ser encarado com certa destreza, rispidez, mas está lá, escrachado bem na nossa cara.

Cresci ouvindo que a juventude era uma banda, também passou rápido. Enquanto vivia, a gente agonizava, pouco se aproveitava do gozo, de dar um sentido pra vida. Ela é rápida. E o tempo sempre cruel. Danado, quem são os verdadeiros passageiros?

Hoje me arrepio só de pensar enquanto me adio. Procrastino como se desfrutasse do melhor pecado que não está na lista. Ou está? Ou deveria.

Quando a gente é jovem demais, a gente não tem medo de arriscar tudo em um fim de semana. Depois a gente dá um jeito. O mês rende, a pilha não acaba. Dinheiro vai, dinheiro vem. E ficamos sempre procurando uma "energia perfeita". Às vezes os acúmulos nos levam aos vícios. As bagagens pesadas, desmoronam feito um castelo de cartas. O Carnaval tem fim, até a festa acaba. A gente envelhece e só depois de muitos danos, se dá conta de que o tempo passou. Ou seríamos nós que passamos através dele?

Já assisti tantas vezes o dia nascer raiando, imponente, enquanto os olhos estavam esbugalhados se revirando na cama, fingindo sensatez, rezando para descansar, aparecer um botão de desliga em qualquer lugar do corpo, quando os comprimidos já não faziam mais efeitos. Virado, colocando a culpa na insônia. Arrependido de tanto procurar "a vibe perfeita". Sozinho, na maior parte do tempo, a gente se sabota.

Nós somos tantos. Eu mesmo já fui vários, que é difícil dizer qual o meu auge, qual o meu declínio. Ser jovem é bom. Não penso em deixar de ser. Me assusta não ser mais. Ansiei tanto que agora quando escrevo já percebi o quanto deixei para trás. Músicas, memórias, abraços, namoros, pessoas de todas as formas, roupas velhas, meus eus de quinze minutos atrás. E amanhã, em outro tempo, já fiquei velho. Seria cruel demais?

Estático, já me desapaixonei, assistindo o vento passar, o sol nascer, o dia morrer, a noite aflorar, a maré encher, o globo girar, e quem não sentiu? Certamente também se perdeu. Se reencontrou, se notou, realinhou os chakras, se benzeu.

Sentimos o tempo, o tempo todo. Temos ansiedade, medo de perder alguém, de não ser alguém (a maior bobagem, já somos), sentimos frio, apavoros (quando não sabemos lidar) com a solidão. Nos assustamos com nossa própria mente. Que bom que entendemos o quão perfeitos não somos. Imagina só, um bando de gente igual?!

Aprendemos tanto com o tempo através da vida, efêmeros. Nunca somos. Sempre estamos. Hoje estou aqui, não tenho tantas rugas, a coluna já dói mais que o joelho, os olhos sempre precisam descansar de tanta claridade, miopia virou astigmatismo, as festas ficaram ruins, o barulho do ventilador é mais agradável no silêncio cru do quarto, as fantasias precisam pegar poeira no fundo do armário.

Vou ganhando cada vez mais noção do tempo. E percebendo que desperdiçá-lo é uma falta lá na frente. Ele vai continuar passando, independente de mim, do mundo. Se fizer sol, ele vai passar. Se dormir cedo, ele também vai passar. Se me convenço de que isso tudo aqui não valeu a pena, então tem alguma coisa errada.

Tantas bagagens, memórias; todas esquinas, tem um pouco de minhas histórias. Vou continuar divagando pelo tempo, até mesmo quando não estiver mais aqui. O mito do insubstituível, calado e sorrindo, o tempo passa por mim. Eu assisto.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Um retrato feliz de nós



Quando dei por mim já não tinha mais vinte e três, mais perto dos trinta, longe dos vinte e seis.
Talvez seja tudo que eu precise falar de mim agora. 

Sou apaixonado pelo seu olhar de girassol. Quero dançar com você, de olhos fechados, até amanhecer. Adoçar essa vista, a vida que te manda pra longe, mas não te deixa ir embora.

Era mais que um lance, quando te olhei de relance, desejei beijar sua alma, de tão linda, o coração chegava palpitar.
Só para deixar bem claro: prometemos não nos esquecer.

E tem como? Como esquecer alguém que só te olhou nos olhos? Só te amou e desejou a eternidade. Mesmo sem saber se ela existe.

Algumas fotografias não dão conta da saudade, da memória que ama e fica, do até breve com gosto de até daqui a pouco. Quem seria capaz de escrever um conto assim? Eu seria.
Seria seu poeta, e você, minha poesia viva.

Desculpa meu jeito, falta de jeito, imperfeito, desajustado, um quase desastre, por pouco, seu cais.

No mais sutil ato clichê: toda vez que eu for lembrar do amor, vou me lembrar de nós. E não desata. Vira laço. Terno.

Vou te guardar no cantinho mais bonito da vida, vou te chamar de amor. Sem saber se fica ou se vai. Gosto de quem sorri azul pra mim. Assim, como um retrato feliz de nós.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Te esperei sentado para não cansar


Dobrando a esquina, lá vem ele de novo, passos calculados, segurando uma flor, sorriso estampado, regata e chinelo, cabelo bem feito, perfume exalando (é o meu favorito), dá pra sentir seu cheiro do outro lado da calçada, travestido de amor, enfeite de casa.

Nem imaginei que pudesse existir alguém assim, já sabia o caminho, atravessou meu peito antes de subir a escada, se soubesse teria preparado um café.

Sem espinhos a rosa era linda e perfumosa, enchia um rio quando sorria.

Ele nem imaginava, mas era raro alguém assim.

Vinha chegando, vestido de amor, bateu na porta errada.

Ops.

É aqui do lado, alguém sussurrou.

Ajeitou o óculos, mandou mensagem e outra vez sorriu.

Abre a porta.
Hoje a gente não dorme cedo.

Enfeitou minha casa.
Enfeitou minha vida.

Hudson Vicente.

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Por que tu não nadas em mim?


Não cansa olhar o céu com esses olhos tão miúdos, quase transparentes, insolar, meu movimento.

Não te cansas olhar tanto, o que estás tentando encontrar? Eu juro não entendo.
Nem se mexe de tão paralisado.

Aqui as ondas em maravilhas marolinhas te transbordam, um bem danado.
Eu canto te vendo, no balanço do mar.

Queria ser rio para desaguar em tu.
Te levar pra longe, mas tu não me alcanças, e sabe, eu me tremo como palavras em busca de ser teu mar, não me contenho.

Te olho daqui de cima, que espanto, nem posso te tocar, tu sabes que é só uma encarnação, fruto da minha Imaginação, na real, sou eu que te invento.

Pode perguntar ao vento.

Vou perguntar de novo: por que tu não nadas em mim?
Já sabes, sou assim, fecho os olhos, rezo por ti, mas por mim, eu não aguento.

Não vou me prolongar, cansei de me atirar, fugindo desse mar, quero olhar outra miragem.

Mas tu sabes que eu sei, tu gostas quando falo de mar.

Ah, mar!

Não precisa se apaixonar por mim,
dessa vez não vou me afogar, aprendi a nadar quando tu recusastes a me ensinar e fui vivendo...
Quando caí em mim.


Hudson Vicente.

quinta-feira, 23 de março de 2023

Vislumbrei o céu envelhecer



Olhei com vislumbre para o céu
ele, frágil, parecia ter só 331 anos
seu infinito constante me abraçava
suas nuvens era seu aroma mais sutil
agradável, confabulávamos

nós nunca nos tocamos
ou nunca me dei conta do quanto me tocou
era isso, o céu era feito um pai que cuidava de longe

vou escrever por extenso que fica mais bonito
trezentos e trinta e um anos tinha o céu
e eu inseguro aos vinte e sete

assobiou meu ouvido quando o senti
já não era mais do céu que agora eu pensava
desejei que me tocasse a pele
estou falando é de alma

frequentemente misturo o toque dele com a imensidão (do céu)

dois mil e vinte e três
foram (as vezes) em que esperei, agoniado, que me tocasse
me falasse
mas nós nunca mais nos entreolhamos

o céu agora parece envelhecer
e ainda somos jovens
enquanto a pele descasca e ninguém usa protetor solar.

Hudson Vicente.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Procurei ser feliz


Era no teu abraço
que eu encontrava
meu lugar no mundo

Fui mais feliz
Passei mais tempo
Com você 

Recolhi meus medos
Te contei meus assombros
Espantei meus receios

Aprendi a me afastar
Do que me diminuía
De repente era forte

Adorei as coisas simples
Perdoei outros caminhos
Abracei sem medo de errar

Fui recomeço
Não desperdicei o tempo
Me reconstruí

Apressei o passo
Tentei ser feliz
Fui grato
Sonhei alto

Compreendi o céu
Os passarinhos
O canto da tarde
As nuvens passeavam
Em volta de mim

Pausei antes de voar
Suspirei até encontrar o ar
No penhasco não pulei

Quando despertei
Notei
Eram só coisas da minha
Imaginação

Confesso
Inventei
Procurei criar um mundo melhor.

Hudson Vicente.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Todo dia é ano novo


Outra vez acontecia a magia no céu, lá de longe, mais uma virada de ano. Os fogos anunciavam... gritos, gritos de euforia, alegria, delírios, lágrimas de emoção, o menino não encontrou o abraço, choro, agonia, modesta felicidade, alusão, intensidade na alma, aflorada, suposições, receio, futuro, saudade, pretérito

Pra onde caminham os sonhos? Pra onde vamos nos esconder, secretos? Angústia de verdade. O peito pulsa a cada respirar, nós estamos. Efêmera a vida transcorre no nascer do dia. Bate e quem nos ouve falar? O gozo perpetuado, congestão de filtros, alucinações. 

Em crise passamos os dias remendando a fala, compassos tortos, outra vez renascerá, um novo tempo, outras ideias e vamos tentar o encontro esperando prosperar a verdade.

Amanhã é que dia? O reinício de algo que nunca acaba, mas termina. O dia acende. Volta da viagem, dura realidade. Choveu. Mas aqui dentro todo dia é sol. E queima. Emoção. A palavra acalma a medida que passa. Ano passado eu fugi. Esse ano não vou voltar. Abraços ternos em encontros. Dias esporádicos. Faltaram alguns abraços, menino. Outra vez. Aqui é sempre. Voltei a sorrir. Senti o perfume. Desencontros.

Hudson Vicente.