terça-feira, 14 de junho de 2022

Nem todo mundo vai falar de amor para você


Meu bem
, vai ter gente que não vai saber falar de amor com você. Vai ter gente que não vai querer falar de amor. É uma frase, uma canção, uma mensagem de conforto, na volta pra casa, dentro do busão lotado de gente espremida. Você só vai desejar colo, um gole de vida. Entrar em um bar, olhar o céu caindo e mesmo sendo a noite, escura, desejar o arco-íris impossível. Quando a cabeça já não pensa muito. Você pede: deixa eu dormir na sua alma hoje?

Meu bem, o mundo inteiro está lá fora, olhando pra gente bebendo refrigerante ao invés de uma dose exagerada de whisky barato, pra descer queimando, pra ter certeza que a ressaca vem pela manhã. Nós sempre fomos uma viagem muito louca. Quando a vida apertava, fumava seus cigarros e me abraçava, nunca te falei o quanto eu detestava esse cheiro de nicotina, mas entendia que você estava precisando desabar. Deu tempo pra se apaixonar e quase dizer te amo. Nunca dissemos. Minto, eu nunca disse. Mas precisava? Vendo você agora, eu acredito que sim.

Faltou palavras direcionadas ao afeto. Queria que as pessoas viessem com o dom de ler o que está escrito nos olhos das pessoas de boas intenções. A gente tem pressa de viver. Tem pressa de morrer. A saudade é tão emergente que nunca passou nem tomando Alprazolam.

Meu bem, eu sei o quanto você pediu para Deus pra gente se esquecer. Sei que se pudesse, você não teria nem saído de casa nem me mandado aquele e-mail com coração no rodapé, no dia que nos conectamos. E foi tudo tão rápido. Quase não deu chance de ser terno.

A vida não acomodou a gente no sofá da casa dos seus pais. Não permitiu almoço das famílias nos domingos. Tardes ensolaradas na piscina do clube, nem ao menos um show de rock alternativo no Circo Voador. Deu tempo da gente fazer um passeio frustrado na Quinta da Boa Vista, outra vez a chuva. Outra vez o tempo. Outra vez as pessoas. Outra vez, nós, desfeitos.

Ali, eu senti vontade de dizer que te amo. Ia dizer. Não ia. Mas senti. Parecia que Iansã soprara forte, me calei. Você tão descrente quanto eu, também nunca entrou numa gira.

Meu bem, você sempre perpetuou minhas novelas sagradas, você era a trilha sonora mais sem graça de uma novela das seis, lá de dois mil e oito. Você tão pouco entendia minha solidão. De crescer sozinho, com alguns primos e duas ou três amizades.
A minha fúria, o meu grito, sempre contido, te amedrontava. Continuava sem saber como viver. Isso me assustava mais que você.

Detestava quando eu chamava esse romance de grande paixão mas não dava conta do amor, quase corrupto que eu supostamente nos causava. Eu te causei amor, sorriso de secretas alegrias, jamais expostas, poucas vezes sentidas. Um gozo rápido na nossa primeira vez. Não balbuciei. Nem pareceu um incômodo. Tomamos banho, ficamos durante quatro minutos e onze segundos abraçados, depois cada um virou para o seu lado.

A gente soube dormir um do lado do outro. E amanhecer em pudor. Às vezes em silêncio para respeitar nossas dores. Meu eterno conflito diário. Não queria falar de você. De repente me cansei. Consequentemente, nos desgastamos. E tudo por conta de três palavras. Um flash de emoção. Eu sei que você me cobrou a porra do eu te amo.

Caminhamos um caminho tão longo em silêncio que dava murros nas nossas costas. E ninguém dava o braço a torcer. Eu torcia pelo Vasco. Você por time nenhum. Mas fazia questão de perguntar quando ele perdia. Sabia como me destruir.

Veja só como era conviver comigo. Eu também precisava de espaço. Você de tempo. E ele foi passando. Nós nos acostumando um a sentir a falta do outro. Uma melancolia. Já tinha acabado. Não nos correspondíamos mais. O último gozo, foi brochante, você até me machucou.

Meu bem, eu quero morrer jovem, talvez daqui há dezenove anos. Pra quê se arrastar mais?

Pela estrada, algumas curvas, não mostram onde dão. Eu quero subir o topo da montanha, ouvir um beija-flor cantar, ver o sol se pôr dentro dos seus sonhos, e quando estiver lá, de olhos para mim, gritar bem alto: EU TE AMO.
Eu nunca quis te dizer isso.
Nem todo mundo vai falar de amor para você

Hudson Vicente.

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Quase fui feliz


Noite passada pensei num poema quase longo, quase perfeito, quase escrito, quase verdadeiro em cada linha que senti. Sorri no fim. Quase terminei, quase escrevi. Euforia. Por amor tudo vale? Eu quase tentei. Quase fui completamente feliz e logo em seguida quase infeliz. Mas por ser quase ele não existiu. Era quase lindo. Então eu reli. Quase mudei algumas palavras, quase me abandonei ali. Eram versos quase sutis, quase emocionantes. Não chorei, quase morri. É que quase não me ouvem, quase não me leem. A culpa é minha, pensei. Quase sofri. Respeirei aliviado. Uma tentativa frustada de um quase poema. Ufa! Quase acreditei em mim mesmo. Por pouco, bem pouco, esse poema quase não foi pra você.

Hudson Vicente.