segunda-feira, 14 de março de 2016

Sem casa pra voltar



Pra onde você vai quando sente dor? Poeta, teu lugar é na vida, no peito, na alma, na rua, seja lá onde for, poeta. Me diz o que te afeta? Caminhar sem se encontrar, entender que o mundo não é um sonho mágico, observar a dor e inventar uma utopia, para brotar no peito deles uma rosa qualquer de esperança, mesmo que tardia. Me entende como me sinto? É como carregar todos os dias todos nas costas. E cansa... percebo que nem sempre tenho casa pra voltar, ora perco o ônibus até o horário do trem, vago na insanidade da madrugada onde vira-latas me cheiram até a alma, sem desconfiar do próprio medo. Um suspiro incapaz e eu me entrego. Uma droga forte, para um coração tão fraco; nos olhos dele eu vejo lágrimas que insiste em se fazer de Muralha da China, mas rapidamente se transforma em castelinho de areia. E ele tão perdido quanto eu, mal me nota. A gente se abraça quando a solidão grita, explodindo pelos bares, bêbados. No espelho do banheiro, apenas sinais de embriaguez, a gente se beija e quem entra se choca com a cena. Dois (i)mundos entrelaçados. Duas poesias que o dia a dia insiste em ignorar, foram notadas. Entre aplausos e vaias, sorrisos e lágrimas, entre amor e raiva. Quem vence? Ninguém vence. Fim de espetáculo. No chão, a platéia chocada com um mar vermelho derramado - crueldade, uns gritam; safadeza, outros dissimulam - sobre ele dois corpos friamente desnudos. Quem é o culpado? O amor senão fosse tão mesquinho com aqueles que não se permitem nascer. Talvez descansem em paz.


Hudson Vicente

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