quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Eu quero ficar



Eu fiquei ali no cantinho, mudo, quase inexistente. Observava a todos em silêncio. Não fazia barulho, não reagia. Quem olhava não se comovia. Permanecia indiferente. Aceitei os gritos. Não condenei os erros. Absorvi as revoltas. Quase reagi às lágrimas, mas me mantive, ali, invisível. O Globo girava, o dia virava noite e vice e versa, eu permanecia esquecido. Não me deram a mão, não acenaram pra mim, jamais pensaram sequer em me afagar. De vez em quando implicavam e muitas vezes questionavam a minha existência. Tripudiavam da minha quietude. Diziam que eu deveria ser ou estar doente. Mal chegavam perto. Sempre olhavam de longe. Cansado, eu parti. Sem toque, sem despedidas, sem malas. Não fizeram questão. Aqui na rua, é escuro. A cada sombra, um frio e um medo. Não me protegem. Não me amam. Li que eu deveria amar. Soube que esperam muito de mim. Mas não me cuidam. É raro. Gritei em todos os ouvidos até ser ouvido. Os poetas me idolatram. Fiz muitos escritores me amarem. Uns usam as flores para me justificar, também dizem que o ciúme me justifica. Já até me condenaram por ser em excesso. Sempre me definem. Me dão versões. Me escrevem versos. Uns até me odeiam. Mas permaneço aqui. Dentro do seu peito. Faço tum-tum mais rápido que um tic-tac do relógio. Faço morada no seu coração. Sou o motivo da existência dele. Deveriam cuidar mais de mim. Me dar atenção. Assim eu existo. Me deem motivos para não ir embora. Eu quero ficar. Ainda não me descobriu? Eu estou preso entre um sorriso e um abraço. Às vezes eu voo. Fiz muitas declarações. Sou forte. Meio louco, quase insano. Resisto e persisto. Cometo erros. Duvidam muitas vezes de mim, admito. Mas eu... bom, sou o que há de melhor em você e nos outros. Acredita. Eu sou real. Já fui motivo de muitas lágrimas, já fui embora algumas vezes, mas nunca abandonei quem me sentia. Não há nada maior do que eu. Afinal, eu sou o amor. Cuida de mim. 

Hudson Vicente.

Um comentário:

  1. Muito bom texto, meu menino! Aqui você se desnuda de uma forma muito bonita, fazendo o eu-poético falar a linguagem simples e pura que apenas o coração, ou quem o usa sabe fazer! Parabéns! Alegro-me por estares conseguindo chegar aonde eu vislumbrava, pois vejo em ti um grande talento! Em frente, sempre! E beijos neste coração, com o qual eu faço conjuminância de sentimentos solitários e ansiosos por algo ou alguém que o veja! Abração, paz e luz!

    ResponderExcluir