terça-feira, 8 de setembro de 2020

Eu te procurei pela Lapa


É claro que eu já não sei o que estou fazendo, também é verdade que te encontrei, perdido pela rua, olhos atordoados, confusos, numa estreita rua, vazia, da Lapa, havia umas garrafas vazias pelo chão, sem marcas, não havia o menor sinal de que estávamos a sós ali, todo mundo observava e conspirava, num desejo súbito, te beijei, te agarrei e te senti.

Meu corpo em chamas, acendia com seu fogo, nada apagava. É claro que a gente sabia que eles olhavam e riam, e no fundo aplaudiam a nossa coragem. O nosso desejo, fogo insano. Aquele tesão acumulado que precisava ser resolvido ali mesmo, num canto estreito daquela rua, embaixo da árvore - não fazia sombra -, recostado num carro já abandonado há meses.

Eles observavam o nosso show, o nosso desejo de carne. Você me devorava em cada chupão, eu já sabia que você me deixaria marcas. Você me apertava e eu me desmanchava nas suas mãos fortes que percoriam cada canto do meu corpo.

Então arriou as calças e disse: aproveita. Ereto, de frente pra mim, todo molhado, só deu tempo de abrir a boca, você estava dentro de mim, quente, pulsando, entrando e saindo, só dava para te enxergar revirando os olhos e gemendo enquanto minha boca estava ocupada, preenchida com seu nervo dentro dela. Enquanto eu me engasgava, você ria e dizia que minha boca era quente, te arrepiava até os mamilos e continuava a socar, segurando minha cabeça. Eu te sentia, não era doce, era gosto de macho, forte, delicioso.

É claro que sentiriam inveja, é claro que gritariam pra gente sair dali. E tivemos que sair, sem que fôssemos presos, depredados, postos para judas em vias públicas. Você segurou minha mão tão forte e corremos, felizes, soltos, donos do mundo. Exalávamos prazer. Segurando sua mão eu tinha certeza de que sabia o que estava fazendo. Era errado e tão bom.

Pra eles a nossa memória. Pra nós, a eternidade de um conto, um romance desconhecido. Sempre que passo pela Lapa me lembro de nós e bate uma vontade de reviver, reescrever e assinar mais uma história.

A garrafa sempre fica quente e eu tenho que ir pedir gelo no bar...
A vida é realmente feita da cor que você enxerga ela.

Hudson Vicente.

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