sexta-feira, 24 de junho de 2016

Quem parte e quem fica



Quando me vem
Eu parto
Porque se fico
Eu penso
E lembro
Do beijo
Do cheiro
Nos meus lençóis forrados
Que você se jogava e bagunçava
Igual fazia com meu coração
Eu sorria alegremente
Dava sua hora e você partia
A bagunça, como sempre, ficava para eu arrumar
Não reclamava
Assentia
Sentia
Meu peito era teu abrigo
Tua morada nas noites mais sofridas
Eu sei, eu te aquecia
Acendia e você apagava
Era como nosso beck, íamos pra varanda depois de deslizarmos cada canto daquela cama
Cabia você e tudo mais que nós sentíamos
Você sempre ia embora antes da última tragada, dizia que enquanto tivesse uma ponta, era pra te esperar
Eu deixava ali
Por medo de nunca sobrar
Era estratégia sua
Sempre desconfiei, mas aceitava
As sextas-feiras sempre te traziam de volta
Nos amávamos como dois adolescentes na puberdade
Você no auge dos seus trinta e poucos anos e eu na explosão dos meus vinte
Eu era um moleque, como você me chamava, mal entendia todo aquele sentimento dentro de mim
Ansiava pela tua volta em cada mensagem de boa noite
Você, mais experiente, pedia calma
Calma eu tenho até demais, destoava
Quem tem alma não tem calma, não é assim que dizem?
Não sei
Confuso e aflito fiquei
O cigarro nunca mais acendeu
As sextas-feiras parecem ter pulado do meu calendário
Joguei fora todos os meus relógios
Já não ouço mais o tum-tum do seu coração
A minha cama permanece arrumada
Mas e o meu coração?
Vaga perdido a sua espera desde a última tragada.

Hudson Vicente.

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