sexta-feira, 15 de março de 2019

Quem não te ama, Poeta?

fui olhar a lua e me apaixonei
voltei com o coração tontinho
gritaram comigo, paralisei
assustei
não é assim que se faz com um pobre rapaz de sonhos tão doces.

vendia doces na cidade. queria comprar uma casa pra morar com os pais, queria voar feito avião, morria de medo de altura, invejava os pássaros, sentia ciúmes da sua liberdade, era apaixonado por outro rapaz de nome difícil que só o enxergava como um grande amigo, era seu sentimento mais oculto. nunca se declarou. perdia a chance de ser feliz. se conformava com a amizade e um beijinho na ponta do nariz. quando tentou, o rapaz contou primeiro que experimentou outro e se apaixonou. encolheu os ombros, o sorriso amarelou, quase entristeceu. seu grande amor parecia coisa de outro planeta.
aceitou. não há como brigar com o amor. entre um doce e outro foi descobrindo outros lugares, se aventurou.
ganhou um livro de poesias, de repente uma ideia lhe surgiu, vender doces e escrever poesias, assim vai encantar a vida. os olhos brilharam, descobrira-se poeta. nos primeiros versos logo se via que levava jeito, conheceu um mineiro, foi paixão na certa. come quieto, mas um dia viram um beijo quase escondido, foi um escândalo na pequena cidadezinha, apontavam pro rapaz e só riam. o poeta dos doces sofreu calado, sua vida ganhou mais fala que seus versos tão bem rimados. sofria o poetinha. mais um amor se foi. não suportou tanto disse-me-disse. pobre rapaz, seus pais não entendiam e se perguntavam onde tinham errado na educação desse pobre diabo. não erraram, mas afastou o amor de quem não amou errado. o poeta perdeu cor, sem brilho nos olhos, cansou da cidade, decidiu ir estudar história só pra não perder a viagem. parou com os doces, esqueceu de escrever cartas para seu amor, antes de seder. um beijo de saudade nos pais, um rápido cumprimento de mãos no rapaz de nome estranho e foi embora esquecendo seus sonhos.
queria olhar o mar, mas era noite, tava tudo escuro, e infinito, só ouvia o barulho das ondas indo e vindo. fechou os olhos e agradeceu, de repente olhou pra cima, era como se o céu lhe sorrisse, sorriu de volta. as estrelas brilhavam no céu, trazia luz para aquela noite tão fria. tinha uma rosa na mão, jogou no mar, pediu sorte, a lua clareava toda a noite, sentou na areia, sorriu de novo, perdeu as contas de quantos goles de vida havia bebido de frente pro mar e o medo de voar. aceitou suas asas. a poesia voltou. e quem não te ama, poeta? tens sonhos tão doces...

Hudson Vicente.

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