terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Partiu tão cedo



Parecia que era a última vez.
Ninguém sabia se ele ia voltar.
Ganhou um beijo dela, se despediu da mãe, brincou com a cachorra, deixou um cheiro na vó, olhou pela janela, agora ele sentia que não iria mais voltar.
Saiu de casa pela última vez, no caminho sentiu saudade dela, deu um aperto no coração. Deixou pra trás alguns sonhos, um quarto bagunçado na pequena viela dentro de uma grande favela, deixou pra trás o silêncio de uma nação.
Seu nome era José, mas poderia ter sido João.
Bateram
Bateram tão forte nele
Gritaram
Pediram pra parar
Quando parou
Era tarde
Foi embora
Tão cedo
Não deu tempo
Partiu
Tão breve
Quem viu?
Quem não contou 
Apontou o dedo
É sempre assim
Ninguém faz nada
Todo mundo se esquece
Às vezes riem do mal
Debocham do certo
Tempo não muda
Não notou nada?
José ainda não chegou.
Nem vai voltar.
Aflito, todo mundo chora na dor.
Amanhã nasce Pedro e o mundo vai girar.

Hudson Vicente.

3 comentários:

  1. Um salve à conflituosa relação social. Deve-se sempre levantar gritos contra estas terríveis acontecências, expô-las, reais ou imaginárias, mas, expô-las. Valeu, pivete! Aliás, a crítica social, sempre vale! Cheiros e até!

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  2. O mundo gira, mais um texto emocionante!!

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