quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

"A dor da gente não sai no jornal"




Há jornais velhos espalhados pelos cantos da tua casa, neles há mais tragédia do que revolução. A dor vende mais que histórias com finais felizes.
Eu te observei por um tempo, enquanto se arrumava, trocava de roupa umas três vezes e se perfumava a cada vez que saía do banheiro para o quarto. Falava sozinho com seu cachorro que a esta altura também estava esgotado.
O relógio parecia correr contra mim, não me alcancei. Perdi. O tempo zombou do cinismo, enquanto nós nos perdemos entre datas estampadas em letras miúdas de uma fonte desconhecida de qualquer datilografia. A vida não espera.
Demorei pra notar. A gente demora pra perceber os sinais quando estamos apaixonados. Quando vê, já foi.
Gostaria profundamente que nestes jornais tivessem mais amor e menos sangue, menos lágrimas, menos dores escancaradas. E que sobretudo, nós não tivéssemos nos acostumados com o desamor.
Vai e leva tudo, não deixa nem saudade. No meu livro as histórias tristes também vendem mais.

Hudson Vicente.

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