quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Me viro


menino
virei adulto
calado, falante
virei meu pai
virei minha mãe
um pouco de tudo
a falta de todos
me virei
como pude nesse jogo
nunca virei a casaca
pra jogar em outro time
sempre perdi, nunca ganhei
o jogo não, o campeonato
me virei sozinho
artista, cresci
poeta, criei
moleque, sorri
quando dei por mim, chorei
passarinho, voei
beija-flor, beijei
cheirei o vento
soprou pra longe
nunca me achei
queimei o livro
arranquei páginas
fui lá fora, respirei
senti saudade, voltei
pedi carinho, não achei
gritei socorro, me deprimi
nem Capitu, nem Bentinho
nem Manoel ou Machado
recolho minhas asas
sou passarinho
do avesso
sou metade homem
metade menino
por inteiro sou fogo
que só o mar acalma
na mata eu canto
meu pranto hoje sopra
espalho e voo
tenho quedas livres
sonhos absurdos
no fundo
não há fundo
não me faço de doido
minha loucura é clinicamente sanada
desabo
e não toco violão
infinitos sorrisos
me solto
aprendi a ser inteiro
e só
nada mais
brilho e apago
na mesma frequência
exausto.

Hudson Vicente.

2 comentários:

  1. E mais uma vez a tua leitura do teu eu bate com força aqui no meu eu!!!!!!
    Lembro de vc tão sonolento e tão sem paciência nas aulas às 7 da madruga... e já aí tínhamos muito em comum!!!!! Q alegria fazer essa terapia com vc em forma de poesia!!!!!
    Força pra nós, meu anjo poeta!!!!! 🙏🏼❤😘

    ResponderExcluir