olhamos para o céu
e pedimos paciência
na esperança utópica
que vez ou outra sejamos atendidos
queria falar de amor
insisto
não me deixam
falam de amor mas só maltratam
cresci isolado
sou da rua
desde moleque tive que me virar
pai e mãe desconheci
nunca vivi
sobrevivi
confiei em poucos
todos os dias uma luta
olhares me reprovavam
me chamavam de vagabundo
de dia me batiam
de noite sentiam medo de mim
naquela pedra escrevia sobre o amor
e sobre os altos muros deixava minha poesia
era tudo que eu sabia
eu era como o mar
o redentor me abençoava
aquele rio todo era meu
acordava com o sol na cara
cedo pra vida
amor nunca me deram
tive que aprender com a vida
às vezes fechava os olhos e conversava com deus
eu não entendia:
por que tanta gente feliz e eu sofria?
pra quê eu vim?
deus nunca se mostrou ou sequer me respondeu
cara covarde e injusto
se me viu
me ignorou
agora já não importa
as horas vão passando
e eu sinto cada átomo dentro de mim
as verdades me saem
entre lágrimas
um mar revoltado me leva contra a maré
quebra em cima de mim
me despedaço
conheci tudo
rodei cada canto dessa cidade
me apaixonei
era maria
entre umas biritas e um rosto
desidratado
cheirava álcool
era só o pó
mas ela se foi
como sempre se vão
já não tinha mais sonhos
ou o brilho nos olhos
me levou tudo que eu tinha
o nada
o problema foi quando eu encontrei outra
a branquinha
foi meu abismo
me joguei
e estou caindo
vinte anos
sol na cara
deitado na pedra
rindo igual besta
constrangendo todos em volta
observando a cena
- patética
passei fome
sede
e frio
não tive família
em vão perguntei
ao cara lá de cima se era a hora
não me respondeu
a onda veio forte
coração acelerado
agora está mais
a gente aceita o fim
cansado e maltratado
porque é da vida
porque a gente tem que partir
e o mundo não me pertence
não mais
eu sou estatística
me criei no mundão
tendo a rua como anfitriã
me servia sobrevivência
fui até onde deu
olhei para o céu
parei
silêncio
(a)deus.
Hudson Vicente.
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