terça-feira, 29 de maio de 2018

Gira deixa girar




Esse trem vazio,
passa em silêncio.
Não há passageiros na estação.
Vai de um ponto ao outro.
Ninguém desembarca.
O ponteiro do relógio parece cansado.
Já não marca mais uma hora.
E o vai e vem da multidão,
cessa.
Não tem mais gritaria.
Os camelôs já foram embora.
Bem vindo a minha cidade cinza.
Parque abandonado.
Ninguém mais gira na roda gigante.
A vida,
essa montanha russa,
de desgovernada,
está quieta.
Isqueiro aceso pra acender o cigarro.
Bombeiro não passa,
nem corpo em chamas.
Garrafa de cachaça barata,
quase vazia.
Quente,
desce queimando.
Hospitais sem leito de morte.
Dá até pra desconfiar que não há mais nenhum sofrimento.
Praia parece seca.
Mar de água doce.
Não tem piranha pra aplaudir o pôr do sol.
Vai vendo a vida regredindo num buraco negro.
Sem fim.
Grita,
mas não te escutam.
Sorri,
apavorado e te enxergam,
louco.
Travado.
O cacto parece abraçar o balão.
O espinho faz carinho na flor,
que não é rosa.
Céu azul é preto.
Passarinho não voa,
caminha.
É tudo de trás pra frente,
meio torto.
Gira,
deixa girar.
Acorda.
Está tudo bem?

Hudson Vicente.

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