sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Meus vinte e poucos


Estava falido com vinte e quatro anos e não tinha muito o que dizer. As palavras, os cadernos usados e alguns livros ainda fechados, eram minhas únicas memórias. Foi o que sobrou de mim.
Sinto frequentemente um enorme vazio, me olho no espelho e não reconheço, nada além de um borrão. Uma imagem frustrada de alguém que perdeu. Me dói, um desgosto profundo.
É como se não houvesse fantasia para esse carnaval.
Vejo que me olham com tristeza e lamento. Mas o que posso fazer? Ainda sinto o gosto amargo na boca, encontro-me cansado, devastado. Falhei. Não me restou nada no bolso e nem na alma.
Frequentemente pensava no suicídio, em contrapartida, eu não poderia ir embora assim. Não resolveria. No fundo, todo mundo só quer acabar com sua dor. Se meus pais me ouvissem, se desesperariam. Alguns "amigos" apenas riem e dizem que vai passar.
Já ouvi que é falta de terapia, de Deus, de amor... o "caramba a quatro". Terapia talvez seja mesmo. Não há o que se negar. Até quem me vê caminhando na rua percebe que eu não estou bem.
Ainda acredito que dinheiro seja o menor dos meus problemas.
Eu comecei a falhar antes mesmo dos vinte e três...

Hudson Vicente.

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