quinta-feira, 2 de maio de 2019

Solidão não se cura bebendo veneno

tanta cor
nessa volta pra casa.
pés cansados
meio que se arrastam.
esbarra em um, pede desculpas.
continua apressado.
outros passos lentos na sua frente, pede licença.
cara amarrada.
lentes embassadas, tira e limpa as imperfeições do caminho.
tem gente sem vida, que esqueceu de morrer.
parece só dor.
o que antes era brilho, está sem cor.
aquarela escura,
samba desafinado na roda de pagode do ponto ao lado.
churrasquinho e barraca de caipirinha na calçada.
amargo e azedo, só tem limão.
quero outro sabor.
não tem.
tudo bem, obrigado, lá vem meu ônibus.
boa noite. boa noite.
senta sozinho no banco mais alto, privilégio de um Rei.
encontra uma flor caída no chão, despedaçada.
três pétalas sobraram.
fecha os olhos e faz um pedido.
sorte-saúde-saudade.
por que não pediu proteção?
tem muitas palavras no dicionário, ficaria repetitivo.
entre um ponto e o próximo ninguém sentou do seu lado.
o que antes era uma flor, nada mais sobrou.
quem disse que eu não falei de amor?
o lugar vazio é no peito.
menino, menino pequeno,
solidão não se cura bebendo veneno.
meus óculos embassaram outra vez.

Hudson Vicente.

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