quarta-feira, 4 de março de 2020

Não me perguntem como tenho passado



Vejo como tenho passado o tempo, me sinto um velho só. Embora seja novo demais para me sentir velho. E só. Eu penso demais o tempo todo. Velho passado e só. O tempo não bate na porta, não acompanho o tic tac do relógio, será que eu me sinto bem?

Alguém pergunta se está tudo bem. Nem dá tempo de responder. Tenho um passado que bate na minha porta, não consigo esquecer. Será que quero? Não consigo responder. Sei lá se me sinto bem. O tempo passa lento e só. O que eu tenho passado nesse tempo só?

Acordei e dei por mim, fotografias espalhadas pelos cantos da casa. Deve ser a poeira do tempo que eu não limpei. Me perguntam se estou bem, não sei responder. Me sinto velho e só. Jovem demais pra reclamar do tempo. Do passado que deixei de lado. Queria me buscar, me acariciar e dizer que vai ficar tudo bem.

Todo mundo tem dias ruins e dias ruins parece não ter fim. Já escrevi pra me salvar de mim. Queria uma dose do tempo do meu passado. Já quis me internar. Ninguém vai cuidar, me acalentar, meu óasis no fim. Um jovem velho com cicatrizes do tempo, neurótico e só. Eu sei que eu erro tanto quanto respiro, às vezes é difícil me suportar assim.

Meu inferno astral é tentar me consertar em segredo. Falho. Um fardo tão pesado, que afundo no meio do mar e não há pássaros para me resgatar. Afundo como Titanic sem medo. Medo, eu só tenho de mim. Não me sinto bem. Mas digo que estou. Velho e só. Ninguém me enxerga, até eu fecharia os olhos pra esse tempo de horror. Não me perguntem do meu passado. Eu nem sei quem eu sou. Jovem e só.

Hudson Vicente.

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