sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Quando nossos corpos viraram um só


Não coube dentro de mim
Mas não desabei
Foi surpresa: desaguei
Precisava transbordar

Foi lá, foi cá
Que o mar me trouxe
Chacoalhando bastante
Era só um rio
Me tremendo de frio

No espaçamento entre dois corpos
Não chegava uma decisão

O prazer do mar é ser profundo
Do poeta é emergir
Se perder na imensidão do azul
Quando no final da paisagem se confunde com céu
Relampejava de longe, tempestade

Com desdém a língua cuspia o ódio enxarcado de desencontro
Quem de nós era o infinito?

Reviraram-se os olhos
Suspiraram de longe
Gemia o canto do desprazer de não aprender o nadar

Ninguém ensinou
Onda grande se enfrenta mergulhando
De frente
Mesmo não cabendo
Não sabendo aonde vai dar

Amei de longe a paisagem que se formou sobre nossos corpos amontoados
Ainda suando frio
Tremendo no chão

Qual a sensação de estar por dentro de mim?

Quando nossos corpos viraram um só, você chegou lá?

Hudson Vicente.

Um comentário:

  1. Bom ler sobre certos devaneios que a mim não me pertencem mais, pois a idade fez -me tornar sem sonhos, mais realidade mesmo. Por isso, bom ver que em seus escritos ainda há esses devaneios, mesmo que poéticos, mas ainda os há!
    Abraços e tudo de bom, meu irmão!

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