quinta-feira, 6 de outubro de 2016

(In)versos



Já fui puta, a mais rodada da via expressa.
Já fui príncipe, também já beijei vários sapos.
Já fui poeta, recitei Drummond. Já fui não. Sou.
Ou me faço. Me faço de poeta para aguentar a vida
(em versos?).
Já fui abraço quando nunca tive afago.
Já fui sorriso em uma segunda-feira as 7 horas da manhã.
Já fui tesão antes mesmo de tirar a roupa.
Já brochei quando tentei ser romântico.
Já me vendi barato para quem não sabia o que era preço.
Já desprezei o amor por uns corpos frios na balada.
Já me embriaguei antes mesmo de aprender a tragar.
Já voei por medo de partir.
Já fui poesia sem abraçar o caos.
Já fui caos nos natais da família.
Já dancei com todos os meus demônios internos.
Já fui, já voltei, depois parti e me perdi.
Ontem fui amor.
Hoje sou saudade.

Hudson Vicente.

Um comentário:

  1. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, mas, nada como ser capaz de colocar um pouco disso, de forma tão nua e crua, no papel, usando das palavras para fazê-lo, não é mesmo, meu bom? Então sigamos, pois, a cada dia, vamos melhorando, aprumando, empinando a cerviz e transformando meras palavras em concretos poemas e poesias! Valeu, meu bom, muito bom, viu? Cheiros no lindo coração de poeta e de vivedor das agruras que isso significa na hora de partejar as palavras, transformando-as em signos, cheios de profundos significados!

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