domingo, 17 de janeiro de 2021

Nós ficamos pelo caminho


eu não sou o mesmo.

mudei de perfume, troquei a armação do óculos, o grau de miopia aumentou, não visto mais trinta e seis, outros corpos deitaram comigo em várias camas, outras línguas passearam pela minha boca e fizeram estrago no meu corpo. não sinto saudade em voltar. tanta gente já passou por aqui, se divertiu, sentou do lado e se foi, sem ao menos se despedir. outras mãos apertaram as minhas, tantos abraços se encaixaram. de velho, só as bandas que eu ainda ouço. eu já mudei a cama de lugar umas sete vezes para assistir outra paisagem, para sentir o gosto do novo, para me aquecer, para me esquecer.

fiz onze novas tatuagens, alguns sempre me perguntam se eu quero virar um gibi. talvez eu possa te contar a história de cada uma, mas eu não vou ser mais o mesmo. ainda posso te olhar com paixão, gostar de estar contigo, podemos até nos beijar e tentar reacender aquilo que foi perdido, mas muita coisa ficou pelo caminho. eu era jovem - ainda sou jovem -, moleque, os olhos brilhavam diferente, os sonhos eram ufanistas, utópicos. hoje seria ridículo sonhar daquele jeito.

já não me convence as mentiras que saem da tv, o amor vendeu barato pra poesia tudo aquilo que ele foi, tá em crise de identidade, e ainda ninguém consegue dizer se é pra todo mundo, quem é que não vai ter. parece bobagem, o amor é a poesia que não acaba, não morre. mas sempre pode renascer.

pena que eu já não sou mais o mesmo. eu te amaria. eu me excitaria, me declararia, me desnudaria pra você aqui mesmo. mas o tempo passou. só deixou lembranças. uma confusão de histórias que não se encaixam mais. hoje eu não sinto saudade como há um tempo atrás. vamos admitir: nós não somos mais os mesmos. tá tudo mudado.

Hudson Vicente.

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