quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Suicídio ao contrário


sempre volto a amar
quando volto pro mar
à deriva na vida
você vai voltar

cicatrizes são marcas
que o tempo não apaga
nem as memórias
dolorosas de um passado insistente

o amor é feito uma tatuagem
desenhada no seu rosto
e, apesar de tudo
combinou contigo

só mesmo o tempo pra dizer
como ela vai ficar
enrugada, marcando a passagem
da duração relativa das coisas

olha pras nuvens do seu céu
como consegue enxergá-las daqui
mesmo tampando seus olhos
reparando bem, quem é normal?

corri, afundei o pé na areia
e meu corpo também 
de volta à superfície, engoli água, o choro
o orgulho, quem me salvou?

entrei no mar, não caminhei
parecia raso quando me joguei
senti uma mão forte me puxando
me trazendo de volta

abri os olhos marejando saudade
na boca o gosto de sal
pessoas em volta com a testa franzino
perguntando quem eu era, se estava bem

cospi toda a água retida no peito
no pulmão, não sei, tinha gosto de peixe
coração tinha esquecido como bater
e voltou

voltei

eu era você
quando deixou de ser eu
pra ser quem?
o mar.

Hudson Vicente.

Um comentário: